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Leandro Hassum satiriza a política em O Candidato Honesto 2

A vida do fictício político João Ernesto em meio a um País em crise é o mote da continuação do longa, que estreia nesta quinta-feira (30) nos cinemas

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 29/08/2018 às 5:00
Foto: Downtown Filmes/Divulgação
A vida do fictício político João Ernesto em meio a um País em crise é o mote da continuação do longa, que estreia nesta quinta-feira (30) nos cinemas - FOTO: Foto: Downtown Filmes/Divulgação
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SÃO PAULO – A partir desta quarta-feira (29), faltam 39 dias para as eleições presidenciais, em outubro. E muitos ainda não escolheram quem irá ocupar o principal cargo do País. Enquanto a propaganda eleitoral não invade em definitivo a TV, o público pode tentar fazer uma breve reflexão sobre o cenário político do Brasil através de um filme de comédia nos cinemas. Esta é a intenção da sequência O Candidato Honesto 2, que estreia nesta quinta-feira (30) em circuito nacional.

O Jornal do Commercio participou de uma pré-estreia na capital paulista onde conversou com o elenco do longa, protagonizado por Leandro Hassum. No roteiro escrito por Paulo Cursino, depois de ter confessado todos os crimes, João Ernesto (Hassum) foi condenado a 400 anos de cadeia, mas cumpriu apenas quatro. Apesar de não querer mais saber de política, é convencido a se candidatar mais uma vez à presidência da República por ser um político que não mente. Um ano depois, o Brasil se vê em meio a uma grande crise, o governo de João é uma lástima e o país quebra. Sob influência do vice Ivan Pires (Cássio Pandolfh), João se mete em confusões que podem lhe custar um impeachment. Pareceu real? A semelhança, realmente, não foi mera coincidência.

“Acho que esse filme tem mais similaridade com o momento político que estamos vivendo. A continuação nem existia na nossa cabeça, mas nesses quatro anos, infelizmente, o Brasil nos deu um arsenal de histórias e nós achamos um lugar onde poderíamos tentar satirizar isso. Brincar com isso tentando, de forma lúdica, falar sobre a situação que estamos vivendo”, conta Hassum, em conversa com o JC.

A aproximação com o panorama político atual exigiu muito do roteirista Paulo Cursino, que escreveu o filme durante dois anos: “Diferente do primeiro filme, onde focamos na corrupção, no segundo mostramos que isso é apenas um dos grandes problemas que temos. Nós falamos de alianças partidárias, sistemas, congresso, presidencialismo de coalizão, enfim. Tudo que realmente faz parte da política, mas de uma forma divertida, engraçada, sem ficar com o peso todo que ela tem”.

O longa foi gravado em setembro do ano passado, mas chega às telonas quente devido às questões abordadas e os personagens envolvidos. Um dos destaques é Cássio Pandolfh, que dá vida ao vice-presidente Ivan Pires. “Com esse filme, eu consegui entrar em contato com opiniões que ainda não tinha encontrado. Isso contribuiu para que eu tivesse uma visão melhor do momento que estamos vivendo”, conta ele. Seu personagem é uma clara (e divertida) alusão ao presidente Michel Temer.

A atriz Rosanne Mulholland, marcada por viver a Professora Helena na versão brasileira de Carrossel dá vida a Amanda, uma jornalista que entra para a política com desejo verdadeiro de mudança. “A Amanda representa muito a pessoa pública que está assistindo, que deseja um País melhor, que as coisas funcionem e briga por isso, mas a personagem mostra que só boa intenção não resolve”, afirma.

Diferente do público que briga nas redes sociais, o longa – dirigido por Roberto Santucci – brinca com todas as posições políticas. Talvez esteja aí a sua maior qualidade. “O bom desse filme é que a gente brinca com todos os lados. Porque acredito que não há nenhum lado coberto de razões”, coloca Hassum. E mesmo que o filme não trate de personagens “reais”, a provocação sobre o País está lá. “É um filme feito para se divertir, uma comédia acima de tudo, e a minha intenção é de fazer rir. Se você sair de lá com uma mensagem, achando que ele te colocou para pensar, é um bônus track. Mas a prioridade é fazer rir”, promete, de verdade, Leandro Hassum.

FILME REFLETE SOBRE PAÍS ATUAL

O Candidato Honesto 2 faz um divertido retrato da situação política atual. Em tempos de polaridade e eternas discussões nas redes sociais, o longa toca nas feridas do sistema atual, com muitas referências da realidade, seja na caricatura de políticos (sendo ele de direta, esquerda ou “centrão”) ou até nas situações reais reconstruídas, temperadas com o humor típico que as “comédias do Hassum” são capazes de fazer. Ainda que pareça um “entretenimento barato” para muitos, a fita é capaz, dentro de seu universo, promover a reflexão sobre o nosso País.

Desapegando mais do argumento principal do primeiro filme – uma adaptação do clássico O Mentiroso, estrelado em 1997 por Jim Carrey – João Ernesto (Leandro Hassum) ainda está contando a verdade contra a vontade, mas agora ele tenta aplicar essa virtude para o bem do Brasil, pois segundo o personagem: “Na política, não existe traição maior do que ser honesto”.

Além da boa desenvoltura de Hassum (que se permite até a encarnar o Donald Trump), o trabalho de Cássio Pandolph como Ivan Pires é outro achado do longa. As referências dele, claras alusões à Michel Temer, convencem desde o aspecto físico do ator até as características dadas ao personagem pelo roteiro, como ele ter “cheiro de enxofre” e “comportamentos de vampiro”.

O atual candidato a presidente Jair Bolsonaro é retratado por Pedro Rebento, personagem de Anderson Müller. Por questões óbvias, ele não ganha muito espaço na narrativa, mas a referência está ali diante do espectador. Em contrapartida, o trabalho de Mila Ribeiro como Presidenta é mais que convincente, criando boas tiradas no longa.

Rosanne Mulholland representa “o lado bom da força” com a honesta jornalista Amanda. Sua personagem levanta outra reflexão sobre pessoas justas que entram na política para fazer a diferença até se deparar com dilemas éticos e pessoais.

Os improvisos de Leandro Hassum também estão lá. E quem quiser criticar o ator, pode se poupar de ir ao cinema: ele mesmo faz isso numa divertida sequência de "sincericídio" do filme.

Ainda que o desfecho tenha um pouco de pieguice com um texto bem intencionado, o discurso final do filme é válido nesse contexto pré-eleições: “Escolham melhor seus líderes”.

*O repórter viajou a convite da Downtown Filmes

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