Crítica

'Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald' escorrega no volume de informações

Retomando a franquia derivada de Harry Potter, 'Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald' tropeça na ambição de expansão do universo; confira crítica

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 15/11/2018 às 10:16
Foto: Warner Bros./Divulgação
Retomando a franquia derivada de Harry Potter, 'Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald' tropeça na ambição de expansão do universo; confira crítica - FOTO: Foto: Warner Bros./Divulgação
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Poder expandir um universo e uma mitologia que cativaram toda uma geração é tarefa difícil, mas que pode ser bastante compensatória para um autor, caso ele seja bem sucedido na empreitada. Além, é claro, de garantir uns bons trocados na conta. É isso que vem fazendo a escritora britânica J.K Rowling, que, além de ver uma peça teatral de sucesso saindo da narrativa do fenômeno Harry Potter, levou o mundo bruxo adiante também no cinema, assumindo os roteiros da franquia Animais Fantásticos, iniciada em 2016 com o ótimo Animais Fantástico e Onde Habitam.

Agora, sua sequência, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, dirigido por David Yates, dá mais um passo nesse sentido, porém um passo desajeitado que tropeça em sua própria ambição. Retomado após os eventos do primeiro filme, encontramos o bruxo Newt Scamander (Eddie Redmayne), estudioso de criaturas fantásticas, proibido de sair da Inglaterra. O maligno Grindelwald (Johnny Depp) foge da prisão em que foi colocado com ajuda de Scamander, fazendo com que o professor Alvo Dumbledore (Jude Law), impossibilitado de combater o criminoso e amigo da juventude, recrute Newt para localizar o jovem Credence (Ezra Miller), que pode ser usado como ferramenta para o plano eugenista de Grindelwald.

Novos rostos, novos problemas

Esse retorno de Alvo Dumbledore, agora com menos idade do que nos filmes originais do universo bruxo, é só mais uma adição dentro da enxurrada de novos personagens. Scamander ganha um irmão, Teseu (Callum Turner), funcionário do Ministério da Magia, que vem acompanhado de Leta Lestrange (Zoe Kravitz). Ainda entram em cena o alquimista Nicolau Flamel (Brontis Jodorowsky, filho do diretor Alejandro Jodorowsky), a amaldiçoada Nagini (Claudia Kim), a capanga Vinda (Poppy Corby-Tuech), além do retorno do trio Jacob (Dan Fogler), Queenie (Alison Sudol) e Tina (Katherine Waterston).

Ou seja, mais gente em tela significa mais personagens para serem desenvolvidos decentemente, sendo, a cada adição, um desafio narrativo maior dar razão de ser para cada um. É aí que começam a aparecer os principais problemas de Animais Fantásticos, sintetizados no volume de informações que a trama precisa administrar. Por mais que Rowling, criadora de tudo, e Yates, envolvido na direção do universo Harry Potter há 11 anos, dominem bem os elementos desse universo, é necessário um melhor manejo do material em mãos, para que suas narrativas sejam coesas e fluída.

Com esse amontoado de novas coisas acontecendo, fluidez é um adjetivo que passa longe do que é feito nessa sequência. O excesso de gente nova a ser introduzida fragmenta o enredo e causa sérios problemas de ritmo, que nem a montagem ou o roteiro dão conta. Há uma tensão entre apresentar essas pessoas e suas motivações com o desenrolar do conflito principal que deve conduzir tudo. Subtramas de interesses românticos e algumas reviravoltas bobas acabam atrapalhando e não conseguem sair da superficialidade, por mais que aconteçam em um ambiente fantasticamente concebido pelo design de produção, junto à dinâmica fotografia que sabe trabalhar bem com sombras e chega até a flertar com uma estética noir.

Não que seja tudo assim tão superficial, afinal, temos o Dumbledore de Jude Law trazendo camadas tão interessantes para um personagem já bem consolidado no imaginário da cultura pop, já demonstrando o tom de voz conciliador e as excentricidades pelas quais é conhecido, agora em uma roupagem mais jovial. Já seu contraponto, o Grindelwald de Depp, apesar de trazer ideias que não tornam suas motivações unidimensionais, é apático, em uma escalação que já começou polêmica por causa das acusações de agressão cometidas pelo ator contra sua ex-esposa, fazendo com que fãs se manifestassem contra Rowling por causa de sua posição militante nas redes sociais.

Expandir não é um problema, mas a expansão apenas pela expansão não deve ser o objetivo. O foco de uma obra deve ser a sua qualidade narrativa como filme em si, funcionar isoladamente, não apenas tratada como uma peça para se construir novos horizontes. Esse tratamento já foi provado possível com o primeiro Animais Fantásticos, mas, agora, Rowling e Yates pesaram a mão demais. Resta saber se conseguirão voltar aos trilhos e aproveitar os potenciais deixados em aberto, já que não foi dessa vez.

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