O carisma de uma apresentadora acima do bem e do mal

Poucas celebridades podem se vangloriar de usar de toda franqueza e transparência na sua relação com entrevistados e público

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Poucas celebridades podem se vangloriar de usar de toda franqueza e transparência na sua relação com entrevistados e público - FOTO: NE10

O que pode fazer uma personalidade pública para conseguir pairar acima do bem e do mal? Poucas celebridades poderiam se vangloriar de usar de toda a franqueza e transparência  que desejassem e sair sem um arranhão sequer em sua imagem. Hebe conseguiu. Mais do que isso. A apresentadora Hebe Camargo, que fechou os olhos para sempre no sábado passado, aos 83 anos, era tida e havida como a rainha das gafes. E parece ter sido esta encantadora atitude “sem noção” que lhe granjeou uma espécie de passe livre no coração de todos os brasileiros.

Alguns escorregões estão devidamente registrados por uma câmera e destinados a circularem por toda eternidade no território do YouTube, outros ninguém consegue confirmar, ou negar, e terminam por virar lenda urbana.Um desses episódios diz respeito a uma suposta entrevista que a Loiruda teria feito com sua paixão maior, o cantor Roberto Carlos, e de tão nervosa que estava teria passado toda a conversa dando batidinhas na perna do artista, sem se tocar que o membro em questão era, na verdade, a famosa prótese que RC usa.

De outra feita, Hebe se desculpou com Ivete Sangalo por ter dito em seu programa que a cantora baiana estava grávida do segundo filho. Além de não ser verdade, chegou ao conhecimento da boquirrota apresentadora que Ivete estaria tendo problemas em seus contratos para shows com a falsa notícia -  curiosamente, no jargão jornalístico, chama-se justamente “barriga” uma afirmação sem fundo de verdade.  Foi aí que a emenda, bem ao estilo de Hebe, saiu pior do que o soneto: "Eu quero pedir perdão. Desculpa, Ivete. É que eu trouxe aqueles jornalistas e fofoqueiros e pensei: 'tenho que inventar uma fofoca'", falou a apresentadora, sem se dar conta que criava, então, mais um território do embaraço chamado vergonha alheia ao se referir pejorativamente aos profissionais Léo Dias, Márcia Piovesan e Fabíola Reipert.

O nonsense de Hebe é usado até como trampolim para outros assuntos. O crítico de cinema Celson Sabadin, no site Planeta Tela, aproveita aquela que talvez seja a mais clássica gafe de Hebe para falar sobre um filme, Instinto de vingança, no site Planeta Tela. "Em 1967, a apresentadora Hebe Camargo recebeu em seu programa de entrevistas na TV Record o médico cardiologista Christian Barnard, que naquele momento havia se tornado uma personalidade mundial ao realizar com sucesso o primeiro transplante de coração da história. Famosa por suas gafes, Hebe não fez por menos: perguntou ao médico se um homem que recebe o coração de uma mulher não corre o risco de se apaixonar por outro homem... Sorridente e pacientemente, Dr. Barnard explicou que uma coisa nada tinha a ver com a outra", escreve Sabadin, querendo dizer com isso que o roteirista do filme criticado havia partido da mesma absurda premissa "hebiana".

São incontáveis as histórias do tipo, e se as lembramos aqui é para reforçar o carisma que a ex-morena ostentou como uma espécie de passe-livre, que lhe permitiu defender ícones que adoramos odiar, a exemplo de Paulo Maluf e Fernando Collor, e sair incólume. Hebe possuía uma qualidade rara, compartilhada por poucas pessoas na face da Terra, como Oprah, Ana Maria Braga e Ellen DeGeneres., de dominar a audiência, deixá-la fazendo gugu dadá no seu sofá, criando bordões, gestual, estilo de vida.

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