Duas mais respeitadas e veteranas atrizes brasileiras e uma das cenas que virou antológica na nossa teledramaturgia. Ao protagonizarem, anteontem, o beijo homoafetivo na novela Babilônia (Globo), Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg deixaram claro que suas personagens, a julgar pelo capítulo de estreia, vão discutir sem meias-palavras e em horário nobre o casamento civil entre pessoas de mesmo sexo.
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Na história, Estela (Nathalia Timberg) e Teresa (Fernanda Montenegro) são casadas há 30 anos e criam desde pequeno o neto-órfão de Estela, Rafael. O rapaz chama ambas de mãe. O beijo foi ao ar nos primeiros dez minutos de Babilônia, como uma delicada e natural troca de carinhos entre as personagens das atrizes octogenárias (ambas têm 85 anos). Segundo o doutor em estudos de cinema e audiovisual, Alexandre Figueirôa, a cena traz um simbolismo ao ser interpretada por dois importantes nomes da dramaturgia brasileira, sobretudo Fernanda – única brasileira indicada ao Oscar, com Central do Brasil (1998), e primeira a ganhar o Emmy Internacional, com Doce de mãe (2013).
“É claro que também há todo um glamour em torno dessa situação”, afirma Alexandre. “Isso devia ser tratado como uma coisa simples. Se você for ver, isso no cinema e no teatro acontece há muito tempo”, explica o jornalista, para quem a cena é também uma contradição. “Se de um lado você tem um avanço de liberação dos costumes, por outro lado você tem essa mesma emissora fazendo um tipo de apoio a grupos políticos ligados ao conservadorismo e posicionamento religioso”, comenta ele. “São mulheres que vivem uma coisa quase assexuada. Enquanto o casal hetero rola na cama”, acrescenta.
No entanto, o jornalista João Luiz Vieira, pós-graduado em Educação Sexual e sócio do site Pau Pra Qualquer Obra, três fatores tornam importante a cena de Babilônia: “O primeiro (fator) é que foi veiculada no capítulo de estreia, o que já tira da frente qualquer questionamento sobre o imponderável do tema (...) Um outro golpe de mestre foi a escalação de atrizes de carreira longeva, consistente e reconhecida internacionalmente. Por fim, e tão importante quanto, foi a escolha por mostrar um casal na terceira idade que reconfigurou a própria estrutura familiar concebida no passado”, analisa João Luiz.
Não é a primeira vez que duas mulheres se beijam na televisão brasileira. Em 1963, a TV Tupi exibiu o beijo das atrizes Vida Alves e Geórgia Gomide em A calúnia; em 2011, foi o SBT, com Giselle Tigre e Luciana Vendramini, em Amor e revolução; e no ano passado, Giovanna Antonelli e Tainá Müller se beijaram na novela Em família, da Globo.
