Renato Góes escreve sobre Umberto Magnani e Domingos Montagner

Na última semana da novela Velho Chico (Globo), ator publicou um relato sobre o colega de cena e o ator com quem dividiu o personagem Santo

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Na última semana da novela Velho Chico (Globo), ator publicou um relato sobre o colega de cena e o ator com quem dividiu o personagem Santo - FOTO: Globo/Divulgação

O ator pernambucano Renato Góes publicou, em suas redes sociais, nesta terça-feira (27/9), uma espécie de carta de despedida da novela Velho Chico (Globo), que está em sua última semana de exibição. Renato descreveu o folhetim como "um épico que do papel ao corpo docente, por si só, já se fazia especial e diferenciada". O ator, que interpretou o personagem Santo na primeira fase da novela, dedicou boa parte do texto a falar sobre os atores Umberto Magnani e Domingos Montagner - ambos faleceram durante o período de gravações.

Com Umberto Magnani, Renato Góes participou de uma das cenas mais emocionantes de Velho Chico. Após perder o pai, Santo era confortado pelo Padre Romão. "Filho, quando um espírito de luz morre, antes de subir aos céus, ele não vira estrela como todos os outros. Ele vira chuva, podendo assim derramar sobre nós aquilo que ele tem de melhor", dizia o religioso. Duas semanas após a exibição da sequência, quando Umberto faleceu devido a um AVC, choveu, lembra Renato, que em sua carta destaca o cuidado do experiente ator com seu trabalho.

Sobre Domingos Montagner, com o qual construiu o personagem Santo, Renato escreveu: "Tive a honra de dividir o personagem com ele. Dividir, dividir mesmo, nós nos dividimos, minha metade ficou com ele e a dele comigo e de certa forma éramos um só. Mas de tão grande e forte que demonstrou ser, aquela parte do Santo foi escolhido pra se tornar um santo do povo, um santo das águas, um santo dos rios. E de uma forma inexplicável e indizível, foi levado pelas correntezas. E junto com ele foi a minha metadem mas comigo ficou a metade dele e eu a levarei comigo e serei para sempre metade Santo".

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Padre Romão era um dos personagens-chave da trama de Velho Chico e, quando Umberto Magnani faleceu, a solução encontrada foi modificar a história dizendo que o personagem tinha recebido um comunicado para assumir uma tarefa em outra cidade. Assim, Carlos Vereza entrou em cena como o Padre Benício, assumindo a paróquia da fictícia Grotas de São Francisco.

Quando Domingos Montagner faleceu, restavam poucas cenas a serem gravadas. Por isso, a equipe da novela decidiu usar um recurso de câmera e gravações da voz dele para manter o personagem presente na história e, ao mesmo tempo, prestar uma homenagem ao ator. As primeiras cenas deste tipo foram exibidas no episódio de segunda-feira e emocionaram o público.

 

Velho Chico. Última semana. Um épico que do papel ao corpo docente, por si só, já se fazia especial e diferenciada. Seu Humberto Magnani, saudoso Padre Romão, todos os dias num período de 2 meses de preparação da novela me dizia; "Santo, vamos passar nossa cena?", referindo-se sempre à mesma cena e eu dizia vamos sim seu Humberto, sempre achando muito linda a entrega dele. 3 meses e meio depois quando chego no set, estava lá, seu Humberto com o texto na mão, eu perguntei se ele queria passar mais uma vez e ele disse que sim, e eu imediatamente sugeri que dessa vez fizéssemos sem o papel e ele pensou mas aceitou! Na hora de gravar, veio bem juntinho de mim e falou; "você pode deixar eu ficar com meu texto, prometo que não vou ler, só quero ele perto de mim pra que eu me sinta mais seguro". Eu ri emocionado, entreguei o papel a ele, ele colocou embaixo da bata e começamos a cena. Cena essa em que ele dizia pra mim; "FILHO, QUANDO UM ESPIRITO DE LUZ MORRE, ANTES DE SUBIR AOS CÉUS, ELE NÃO VIRA ESTRELA COMO TODOS OS OUTROS, ELE VIRA CHUVA, PODENDO ASSIM DERRAMAR SOBRE NÓS AQUILO QUE ELE TEM DE MELHOR". 2 semanas depois que essa cena foi ao ar, seu Humberto faleceu. E nesse dia choveu, amém! A história seguiu forte, o Santo cresceu e se agraciou de seu intérprete Domingos, mas se agraciou de tal forma que pretendia não lhe abandonar jamais, afinal, Velho Chico não é só Shakespeare e Faulkner, Velho Chico é Sófocles e Eurípedes. Tive a honra de dividir personagem com ele. Dividir, dividir mesmo, nós nos dividimos, minha metade ficou com ele e a dele comigo e de certa forma éramos um só. Mas de tão grande e forte que demonstrou ser, aquela parte do Santo foi escolhido pra se tornar um santo do povo, um santo das águas, um santo dos rios. E de uma forma inexplicável e indizível, foi levado pelas correntezas. E junto com ele foi a minha metade, mas comigo ficou a metade dele e eu a levarei comigo e serei para sempre metade Santo. E como aconselharia o Padre Romão, eu seguirei por eles, mas com as mãos sujas de terra e não de sangue! Te amo Mingos, Te amo Padre véi. E vida longa ao Velho Chico, pois enquanto ele sobreviver, nossa chama permanecerá acesa. ????? #VelhoChico

Uma foto publicada por Renato Góes (@renatogoess) em Set 26, 2016 às 5:22 PDT

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