Estreia a distopia 3%, primeira série brasileira original da Netflix

História discute a meritocracia e a desigualdade ao mostrar um processo seletivo pelo qual passam os jovens de um lugar devastado

Pedro Saad/Netflix/Divulgação
FOTO: Pedro Saad/Netflix/Divulgação

A Netflix escolheu uma distopia para iniciar sua lista de séries originais no Brasil. Criada por Pedro Aguilera, 3% tem uma história que discute temas como a meritocracia e a desigualdade social, com foco num rito de passagem enfrentado por jovens. Na trama, após o planeta ser devastado, a população fica dividida entre lugares com condições de vida díspares, o Continente e o Maralto. Aos 20 anos, os moradores do Continente têm a chance de ir morar no Mar Alto, caso sejam aprovados no "Processo". Os desdobramentos disso são mostrados na temporada que estreia hoje em 190 países (no mesmo dia, estreia a temporada especial da série Gilmore Girls).

A "vida pré-Netflix" de 3% começou em 2009, quando Pedro Aguilera, Daina Giannecchini, Dani Libardi e Jotagá Crema ainda estudavam cinema na Universidade de São Paulo (USP). "A gente estava no terceiro ou quarto ano e surgiu um edital do Ministério da Cultura para desenvolver séries para o público jovem. Eu estava lendo Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), relendo 1984 (George Orwell). Pensei que seria legal ter uma distopia aqui no Brasil, que lidasse com temas brasileiros e com um pouco do que eu estava sentido na época também", lembra Pedro.

Os amigos desenvolveram a ideia juntos e o projeto venceu o edital. Com os episódios disponibilizados no YouTube (onde podem ser vistos até hoje), ocorreu algo que é típico da internet: os próprios espectadores começaram a compartilhar e ajudaram a legendar os vídeos. "Muita gente assistiu, ficamos muito felizes com a recepção. E nos ajudou muito pragmaticamente também, porque Erik (Barmack, vice-presidente de Séries Internacionais da Netflix) assistiu, vários anos atrás, e ficou interessado. A gente lançou no YouTube e com o tempo colocou legenda em várias línguas. Os fãs também começaram a mandar traduções para línguas como o holandês. Isso deu uma rodada pelo mundo e foi o que acabou abrindo o caminho para a gente ter feito a série na Netflix", aponta Pedro.

Com a ida do projeto para a empresa, a série ganhou a direção de César Charlone, responsável pela fotografia do filme Cidade de Deus, e foi realizada com produção de Tiago Mello para Boutique Filmes. Daina, Dani e Jotagá são os diretores de episódios. 

O espectadores da websérie-piloto podem identificar na série da Netflix alguns atores e elementos da história, mas muita coisa mudou. É possível observar isso já no episódio de estreia, quando ocorrem os primeiros testes do Processo. Quanto à cenografia, a sala de entrevistas cinza, cheia de papéis, foi trocada por uma mais "futurista", com telas transparentes nas quais aparecem informações sobre os candidatos.

Essa é a estética que predomina no prédio onde começa a disputa por uma vaga no Mar Alto. A série 3%  foi gravada em São Paulo, em locais como a Arena Corinthians, em Itaquera, Heliópolis e no Parque da Juventude.

 

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3% (Netflix) - Bianca Comparato - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Michel Gomes - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Vaneza Oliveira - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Rafael Losango - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Cesar Charlone - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Cesar Charlone - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Vaneza Oliveira - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Rafael Losango, Bianca Comparato, Michel Gomes, Rodolfo Valente e Vaneza Oliveira - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Rafael Losango - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Mel Fronckowiak - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Viviane Porto - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Mel Fronckowiak - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Cesar Charlone - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Rodolfo Valente - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Bianca Comparato e Michel Gomes - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Rodolfo Valente e Bianca Comparato - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - João Miguel e Bianca Comparato - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - João Miguel - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Viviane Porto e Bianca Comparato - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - João Miguel e Michel Gomes - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Vaneza Oliveira e Joao Miguel - Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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3% (Netflix) - Vaneza Oliveira e Cesar Charlon - Pedro Saad/Netflix/Divulgação

HISTÓRIA

Quanto à história, há semelhanças entre os jovens candidatos do piloto e da série, interpretados por atores como Bianca Comparato (Michele) e Michel Gomes (Fernando), mas eles vivem coisas diferentes. Ao menos no primeiro episódio, eles parecem se encaixar em papéis definidos, como o da jovem com uma causa (Michele) e o que está disposto a tudo por uma vaga (Rafael, interpretado por Rodolfo Valente). 

Já o chefe do Processo, Ezequiel, revela suas nuances em outro tom. "Ezequiel é um personagem muito estranho de cara. Pensando muito no personagem sistemático, que cai nessa coisa do corporativo, do poder, ele é muito contundente hoje e muito diferente do que eu já tinha feito", comenta João Miguel.

Experiências relevantes para a formação da personalidade dele são reveladas lá pelo quinto episódio, através da relação de Ezequiel com a esposa, Julia (Mel Fronckowiak), e com a funcionária que tem a missão de avaliar o Processo, Aline (Viviane Porto).

Neste ponto também são explicitados questionamentos relacionados ao Processo e suas consequências - uma delas é óbvia, há um impacto psicológico grande nos participantes, aprovados ou não. A chance de viver em melhores condições também significa abandonar sua família. Sem falar na injustiça que representa uma avaliação como essa.

"A primeira coisa que me atraiu no projeto foi essa segregação, os 3% versus 97%. O teor político, essa mensagem que a série queria passar, isso foi o que mais me atraiu", comenta Bianca.

"A gente sempre teve muito em mente o fato de estar no Brasil, que é uma grande distopia. E uma questão fundamental do Brasil é que ele é um dos países mais desiguais do mundo. E, de certa forma, na série essa desigualdade está cristalizada dentro do sistema", colabora Pedro.

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