O jornal Folha de São Paulo retirou do ar o texto publicado nesta sexta-feira (31/3), no blog #AgoraÉQueSãoElas, que continha acusações de assédio sexual feitas pela figurinista Su Tonani contra o ator José Mayer, que atualmente faz parte do elenco de A Lei do Amor (Globo), novela que termina nesta sexta.
Através de um comunicado, a Folha afirmou que "a publicação foi retirada do ar porque desrespeitou o princípio editorial da Folha de só publicar acusação após ouvir e registrar os argumentos da parte acusada, salvo nos casos em que isso não for possível. Tão logo esse defeito seja sanado, o texto voltará ao ar, com o devido espaço para o contraditório. O conteúdo permanecerá fora do ar até que o ator ou sua defesa se manifeste sobre a acusação".
Trechos
Cópias do texto intitulado "José Mayer me assediou", no entanto, ainda circulam pelas redes sociais. Nele, Susllem Meneguzzi Tonani, conhecida como Su Tonani, afirma que há cinco anos foi morar no Rio de Janeiro em busca do sonho de se tornar figurinista.
No parágrafo seguinte, ela continua: "Qual mulher nunca levou uma cantada? Qual mulher nunca foi oprimida a rotular a violência do assédio como 'brincadeira'? A primeira 'brincadeira' de José Mayer Drumond comigo foi há 8 meses. Ele era protagonista da primeira novela em que eu trabalhava como figurinista assistente. E essa história de violência se iniciou com o simples: 'como você é bonita. Trabalhando de segunda a sábado, lidar com José Mayer era rotineiro. E com ele vinham seus 'elogios'. Do 'como você se veste bem', logo eu estava ouvindo: 'como a sua cintura é fina', 'fico olhando a sua bundinha e imaginando seu peitinho', 'você nunca vai dar para mim?'".
Em A Lei do Amor, José Mayer interpreta Tião Bezerra. Entre as experiências profissionais de Su Tonani também está o programa Bela Cozinha, apresentado por Bela Gil (GNT). Em seu texto na folha, ela relata ter dito ao ator "com palavras exatas e claras" que não queria e que ele não poderia tocá-la. "Em fevereiro de 2017, dentro do camarim da empresa, na presença de outras duas mulheres, esse ator, branco, rico, de 67 anos, que fez fama como garanhão, colocou a mão esquerda na minha genitália. Sim, ele colocou a mão na minha b* e disse que esse era seu desejo antigo. Elas? Elas, que poderiam estar em meu lugar, não ficaram constrangidas. Chegaram até a rir de sua 'piada'. Eu? Eu me vi só, desprotegida, encurralada, ridicularizada, inferiorizada, invisível. Senti desespero, nojo arrependimento de estar ali. Não havia cumplicidade, sororidade", continua Su Tonani.
A figurinista diz que procurou o RH, ligou para a ouvidoria da empresa e foi ao departamento da Globo que cuida dos atores. "Acessei todas as pessoas, todas as instâncias, contei sobre o assédio moral e sexual que há meses eu vinha sofrendo. Contei que tudo escalou e eu não conseguia encontrar mais motivos, forças para estar ali. A empresa reconheceu a gravidade do acontecimento e prometeu tomar as medidas necessárias. Me pergunto: Quais serão as medidas? Que lei fará justiça e irá reger a punição? Que me protegerá e como?".
Su Tonani ainda escreve que sentiu culpa por não ter tomado medidas "sérias e árduas antes" e também um "arrependimento violento" por ter se calado. "E, principalmente, me sinto oprimida por não ter gritado só porque estava em meu local de trabalho. Dá medo, sabia? Porque a gente acha que o ator renomado, 30 e tantos papéis, garanhão da ficção com contrato assinado, vai seguir impassível, porque assim lhe permitem, produto de ouro, prata da casa. E eu, engrenagem, mulher, paga por obra, sou quem leva a fama de oportunista. E se acharem que eu dei mole? Será que vão me contratar outra vez", continua ela em outra parte do texto, para em seguida dizer que tem de repetir o mantra "A culpa não foi minha. A culpa nunca é da vítima".
Nem a Globo, nem o ator José Mayer, ainda não se pronunciaram sobre o caso.