Nesta sexta-feira (28), em que se lembra 20 anos da estreia da novela Chiquititas no SBT, o Jornal do Commercio correu atrás de parte do elenco para conversar um pouco sobre a novela que marcou uma geração e tem fãs cativos até hoje.
Mesmo na correria de seus afazeres, as intérpretes de Mili, Pata, Hannelore e Carolina atenderam ao chamado e revivem um pouco da magia desta trama. Confira abaixo um papo com, respectivamente, as atrizes Fernanda Souza, Aretha Oliveira, Sthefany Brito e Flávia Monteiro.
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FERNANDA SOUZA (MILI)
Uma das personagens mais inesquecíveis da trama, Fernanda Souza deu vida à protagonista Mili. Em entrevista ao JC, ela contou um pouco como ela conseguiu o papel: "Eu participei do último dia dos testes em São Paulo, nos estúdios da Anhanguera [do SBT]. Fui indicada pelo [diretor] Fernando Rancoleta, porque eu já tinha feito novela no SBT, e eu lembro que eles estavam com dificuldades de encontrar uma menina para fazer a Mili, porque como era a protagonista, tinha um volume maior de texto, e eles precisavam de crianças mais experientes e tudo mais. E aí eu fiz o teste e passei! (risos) Assinamos contrato depois e deu tudo certo".
A atriz, que hoje tem 33 anos, conta qual a sua melhor lembrança de sua época como Chiquititas: "As meninas. As brincadeiras. Morar na Argentina, o colégio... Mas acho que o que eu guardo mesmo de lembrança é a cochia, o bastidor, a nossa amizade. A gente virou família. Somos família até hoje", afirmou.
Fernanda Souza deixou a novela menos de dois anos depois da estreia. E para ela, foi um momento muito difícil. "Foi muito triste. A primeira pessoa a saber que eu ia sair da novela foi a Aretha, que era a minha melhor amiga na época, a menina com que eu mais me identificava, e a gente se conhece desde os 5 anos... A gente desabou num choro sem fim. Inclusive, há um tempo atrás a gente foi para Buenos Aires e voltamos nos estúdios, e exatamente no lugar onde eu contei pra ela. Ao mesmo tempo foi engraçado, mas gostoso voltar no lugar que significou tanto pra gente e saber que, independente do tempo, a gente continua muito amiga, a gente continua junto, se falando, vivendo junto, viajando junto. Mas foi um dos dias mais difíceis da minha vida, porque eu sabia que era a melhor decisão para a minha carreira, só que, para mim mesma, como adolescente, foi muito difícil deixar as meninas, toda a vida que eu tinha, o colégio, as gravações... Acho que essa foi a parte que mais doeu: deixar de viver a Mili".
E qual é a música favorita de Fernanda Souza na novela? "Eu amo Tudo Tudo porque acho muito especial. E também tem Amigas porque, de tudo dessa novela, a grande coisa que ficou é você morar no coração das pessoas que viram a novela na infância há 20 anos, e isso para um artista é muito especial. Acho que o que ficou dessas duas décadas foram essas amizades que a gente cultiva ao longo de todo esse tempo. E Amigas é uma coisa que resume muito isso: a nossa amizade. É muito especial pra mim".
Os 20 anos do sucesso de Chiquititas emociona a atriz: "Chiquititas foi uma das últimas novelas para o público infantil feita por um elenco não por crianças de 5 a 6 anos. Também acho que tem a pureza, a inocência. As meninas de 13 anos hoje são tão diferentes de como a gente era na época. Óbvio que tem meninas com 13 anos muito parecidas com a Mili, a Pata, a Cris... Mas a gente tinha uma inocência, uma doçura, outro tipo de preocupação com a vida. A gente lidava com as coisas de um outro jeito. Eu acho que isso é uma característica muito da minha geração, que provavelmente, da minha sobrinha não vai ser a mesma coisa. Então as pessoas que tem a nossa idade hoje em dia, elas lembram dessa fase porque era muito inocente da nossa vida. Era infantil, mas tinha uma magia. Por isso acho que é tão especial, porque o amor da infância é um amor muito sincero, muito puro. E a gente morre de saudade dessa época", contou.
ARETHA OLIVEIRA (PATA)
Diferente de Fernanda Souza, Aretha Oliveira passou por mais testes para conseguir o papel de Pata. "Eu já trabalhava nesse meio desde os 5 anos e fazia parte de uma agência de modelos. Já tinha feito novelas no SBT, comerciais, publicidade, e Chiquititas foi mais um teste para mim, mas a gente não sabia do que se tratava. Em novembro de 1996 eu fiz um primeiro teste que parecia ser uma novela para o SBT, mas não sabia que ia ser gravada na Argentina, nada disso. Em março entraram em contato que eu estava pré-selecionada e iria fazer um novo teste com as finalistas. Foram mais uns quatro dias de teste, aí já com o texto da novela, de música, canto e dança. E cada dia ia saindo uma galera e eu fui ficando, fui ficando até o final", relembra.
A atriz, hoje aos 32 anos, que ficou do início ao fim de Chiquititas, coleciona muitas lembranças daqueles quatro anos de trabalho: "Vivi tantas coisas com elencos diferentes... Mas acho que a melhor lembrança são as pessoas, os meus amigos, até mesmo o pessoal da Argentina, da produção, que era um time muito gostoso que virou família. Os argentinos receberam a gente tão bem, que nos acolheram como família, sabendo que estávamos longe de nossas casas. Era uma parceria, muito tempo juntos. A gente morava no mesmo prédio, estudava na mesma escola, ia junto gravar, e a gente aprendeu a conviver muito bem. Por isso sinto falta das pessoas mais próximas a mim", relata.
Entre as cinco temporadas da novela, Aretha não consegue destacar qual foi a mais especial. "Eu poderia ressaltar a primeira fase porque foi tudo desconhecido. Foi enfrentar esse mundo novo, talvez tenha uma coisinha mais especial aí. Pela novidade, pelo desafio, a dificuldade em relação ao idioma, de você ter que se virar ali na escola para aprender e se comunicar, porque estudávamos em um colégio argentino normal. Fazíamos provas como todos os outros alunos. Então essa dificuldade do começo tenha se tornado mais especial", explica.
A atriz também comentou sobre suas músicas preferidas na trama: "Tudo Tudo, porque foi uma das primeiras que a gente gravou. A letra dela é muito bonita e é muito especial. Tem várias outras. Eu poderia dizer Liberdade, que foi uma das últimas e é uma letra que eu amo também. Assim como Amigas, porque acho muito real em relação às minhas amigas de novela mesmo, mas vamos ficar com Tudo Tudo", decidiu.
Aretha afirma que tem muitos motivos para comemorar os 20 anos de Chiquititas. "Acho que marcou a infância de uma geração. Chiquititas tinha uma mensagem muito bonita. Tinha muitas personagens, então todas as crianças conseguiam se identificar com alguém. A novela trazia essa mensagem do amor, do acreditar nessa coisa meio mágica, mas sem deixar de ser real. Acho que isso era uma sacada boa da novela: Por mais que existia todo um mundo de magia, era uma magia que todo mundo se identificava, se via. Mas mesmo assim me surpreende tanto carinho, que as pessoas me reconheçam até hoje como Pata, e com tanto amor. Eu nunca recebo comentários maldosos, nem mesmo nas redes sociais. É sempre tudo com muito carinho. Então eu só tenho que agradecer mesmo a Deus e aos fãs de Chiquititas com tanto carinho", concluiu.
STHEFANY BRITO (HANNELORE)
A irmã do ator Kayky Brito, que também participou de Chiquititas, entrou na novelinha na penúltima temporada. "Fiz muitos testes! E o último foi o de dança... Ali tive certeza que não tinha passado. Mas pra minha alegria deu tudo certo e realizei um sonho. Eu era uma entre milhões de meninas que já sonhavam em ser uma chiquitita!", respondeu.
Apesar de Hannelore ser uma vilã, a atriz aprendeu uma lição com a personagem: "Ah, ela era super má... Aprendi na verdade a não ser como ela! Já com a novela, aprendi a linda mensagem de amor que era passada".
Sthefany, que hoje tem 30 anos, escolheu a sua canção favorita da novela. "Me Dá Um CH, porque foi a primeira que eu gravei e a primeira coreografia que eu dancei. Então foi inesquecível".
A atriz tentou definir o sucesso da trama, que continua mesmo depois de 20 anos: "Acredito que na época foi um marco tão grande que a novela ficou guardada para sempre com tanto carinho pelas pessoas até hoje", comentou.
FLÁVIA MONTEIRO (CAROLINA)
A eterna diretora do Orfanato Raio de Luz contou ao JC que não passou por uma bateria de testes para conseguir o papel em Chiquititas. Como já era contratada do SBT, ela foi indicada por Nilton Travesso, diretor geral da emissora na época, para o diretor executivo da Telefe. Após uma reunião, ela fez um pequeno teste de dança junto às crianças, e acabou fluindo naturalmente. "Naquela época eu tive dúvidas, fiquei bem insegura se ia dar certo", confessou.
Hoje, aos 45 anos, a atriz só comemora o sucesso da personagem: "A Carolina foi um dos grandes personagens que marcou a minha carreira e o coração de uma geração. É muito bom quando a gente faz um trabalho onde tem, não só o reconhecimento do público, mas que você consiga, de uma certa forma, plantar alguma semente dentro das pessoas. Acho que a Carolina conseguiu plantar várias sementes boas, do bem, da esperança, do amor, da parceria, da amizade, do cuidado, do olho ao próximo. São muitos valores que ela passou para esse público e plantou essas sementes. Acho que é por isso que ela é lembrada o tempo inteiro".
Flávia também tentou explicar porque Chiquititas teve tanto impacto positivo. "É muito bom quando você tem um produto que possa incentivar esses tipos de ensinamento de valor. O mundo já é tão violento, e você trazer um pouco desse frescor infantil é muito bom. A novela passou numa época que que resgatou muito esse sentimento. As crianças estavam muito esquecidas, porque não havia uma novela que falasse à altura, ou para elas. Então a Carol foi um personagem muito bom nesse sentido, pois teve ganhos absurdos na minha vida, não só profissional, como pessoal também. Aprendi muito com a personagem, isso é que é importante", afirma.
A atriz, que também ficou do início ao fim da novela, explica o carrossel de emoções que o elenco viveu naqueles quatro anos: "Na primeira temporada, a gente estava tentando se entender um pouco nesse universo diferente que era morar fora, numa outra língua, gravar em português e falar lá com as pessoas em espanhol. Um momento de compreensão, sem saber se ia dar certo ou não. No segundo ano foi aquele boom, em 1998. Aquele ano fizemos uma temporada muito boa porque a gente tinha estourado! Eram coisas novas e estavam investindo muito na novela. E sempre buscando entrar nesse universo tão maravilhoso que é fazer uma trama para criança. Já a última temporada foi de despedida, tinha um outro sentimento ali. A gente sabia que aquilo tudo ia acabar, que aquele universo de quatro anos ia embora, que não íamos mais trabalhar fazendo aquele personagem. Foi um ano em que a gente chorou muito! (risos) Nos despedimos de toda uma história que a gente criou e que a gente construiu durante aqueles quatro anos na Argentina, e também construímos no coraçãozinho e no interno de cada criança, de cada pessoa que a gente conseguiu atingir e conquistar", concluiu.