RIO DE JANEIRO – O dia começa cedo em dois estúdios do polo cinematográfico localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Às 6h30, para ser mais exato, quando a equipe de 80 profissionais começa a chegar. Tudo é preparado para mais um dia de gravações de um reality show culinário inédito na TV brasileira. Primeiro, porque está sendo preparado para a TV Escola – que vem pensando numa programação educativa voltada para três faixas de público (infantil, jovem e adulto) – e é o primeiro do gênero nesta emissora pública. Segundo, a competição é apenas um pretexto para dar voz e visibilidade para profissionais que, diariamente, dão conta de 45 milhões de refeições por dia em 160 mil escolas do País. Nada mais justo que um programa como esse se chame SuperMerendeiras.
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O reality, desenvolvido há pouco mais de um ano, é produzido para a TV Escola em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). A Inovarte Broadcast, capitaneada por Mário Rogério Ambrósio e Thiago Velasco, foi escolhida para executar o projeto, que envolve dez merendeiras, sendo duas de cada região brasileira. Juarez Precioso assina a direção do programa, que é apresentado pelo ator Eri Johnson e tem previsão de estreia para a segunda quinzena de setembro. Serão 13 episódios semanais de 26 minutos.
O diretor da Inovarte, Mário Rogério, tinha vínculo com a TV Globo até o ano passado. Ele esteve envolvido na execução dos principais reality shows da emissora carioca, desde o No Limite, até o recente SuperStar. Para ele, o caráter humano que está sendo dado ao SuperMerendeiras é o grande diferencial: “Esse projeto é mais que um programa de TV. Acredito que através das suas imagens, exemplos de vida, e suas mensagens, podemos mudar a vida de muitas pessoas. Se não mudar de muitas, mas apenas de uma família igual a delas, já valeu muito a pena”.
As dez participantes escolhidas foram vencedoras das duas edições do concurso Melhores Receitas da Alimentação Escolar, organizado pelo FNDE. Além das gravações no estúdio principal do Rio, o programa visitou a cidade, a escola e a casa de cada merendeira para contar suas histórias. “Estou acompanhando todas as gravações, desde as cidades até os desafios aqui no Rio, e o programa tá incrível. Não tem como não chorar diariamente, não tem como não se apaixonar por elas. Acho que o público vai gostar muito”, conta Sineide Neves, assessora do FNDE, bastante emocionada com o projeto.
O desafio também anima o diretor de Produção e Programação da TV Escola, Claudio Jardim. “Quando você fala em reality de alimentação, parece um programa tipo MasterChef, mas não é. Ele tem toda uma amarração de nutricionistas, de agricultura familiar. Além disso, estamos valorizando um dos segmentos tão importantes quanto o professor em sala de aula. Essas merendeiras são pessoas simples e tocam um dos programas mais importantes do MEC, que é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)”, reforça.
O Jornal do Commercio acompanhou a gravação do episódio 9 do SuperMerendeiras. A estrutura do estúdio chama atenção pela beleza. Em cada bancada, além da cozinha bem equipada, ao lado tem uma hortinha para que elas tenham acesso a ingredientes frescos. Antes da gravação da prova na parte da tarde, elas passam a manhã registrando depoimentos de expectativas em um outro estúdio, chamado de “sala de convivência”.
Entre uma pausa e outra, conversamos com a baiana Dejanira de Souza, 43 anos, uma das representantes nordestinas do programa. “Meu coração está alegre em estar aqui porque isso é um sonho. Eu gosto muito de trabalhar com comida, adoro a parte da cozinha! Quando via esses programas tipo MasterChef na televisão e falava: ‘um dia eu vou estar lá’. Agora chegou o tempo e estou muito emocionada! Estou me sentindo uma artista”, conta ela, de sorriso no rosto, orgulhosa de fazer parte do reality.
Às 14h30, as merendeiras entram no estúdio. Antes de rodar em definitivo, elas tentam descontrair. Uma faz alongamento. Outra, se benze para todos os santos. Mas todas de semblante sorridente. O apresentador Eri Johnson entretém as participantes com imitação de Caetano Veloso enquanto a técnica não dava o “ok”. O programa 9, Bloco 1, Take 8 é dado às 14h56. Nem precisou repetir tamanha a naturalidade de Eri com as câmeras. Mais que apresentador, ele é o melhor amigo das participantes.
A prova começa às 15h04. Missão: Produzir uma comida regional que não seja de sua região (seguindo uma receita previamente indicada). Elas tinham uma hora de prova. Eri e a direção alertava o tempo a cada dez minutos. Durante a execução, as merendeiras recebiam a visita do trio de jurados, que logo após escolheriam o melhor e o pior prato da prova: a nutricionista Nathalia Barreiros, o chef André Luiz e o aluno da rede pública Milton Carlos, representando o público que as profissionais lidam diariamente.
Após a prova dos jurados e a gravação de cada depoimento das merendeiras pós-prova, às 17h28, conhecemos no estúdio a vencedora e a eliminada do dia. Todos ficam emocionados com o resultado. Afinal, o apego da equipe com estas participantes que tentam fazer a diferença dia a dia nas escolas públicas só comprovam o discurso unânime que se ouve pelos bastidores: todas elas já são vencedoras.
*O repórter viajou a convite da TV Escola.