Desde setembro de 2011, quando chegou ao Brasil, a Netflix popularizou um novo jeito de consumir filmes e séries através do streaming. O rápido crescimento da plataforma não afetou apenas o mercado virtual e, junto com as redes sociais, chegou a ameaçar seriamente a audiência do principal veículo de consumo audiovisual do País: a televisão. Nos últimos anos, porém, as emissoras, abertas e fechadas, começaram a se movimentar para não ficar atrás na conquista e manutenção de seu público. Em 2018, especificamente, três canais abertos – sendo uma deles uma pública – desenvolveram suas próprias plataformas de streaming, oferecendo conteúdo de acervo e inédito, para manter vivo o interesse do telespectador, e atender à expectativa atual de fazer sua programação on demand, em qualquer tela, na hora que quiser.
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Nesta semana, duas dessas plataformas foram lançadas oficialmente. E, por coincidência, no mesmo dia. Primeiro foi a Play Plus, pertencente ao Grupo Record. A plataforma chegou oferecendo mais de 180 programas trazendo conteúdo próprio e de canais parceiros, além de produções nacionais e internacionais, rádios e podcasts. O produto também disponibiliza acervo de programas históricos da Record TV e atrações originais.
“Com uma única porta de entrada, o usuário pode ter acesso ao melhor do jornalismo, entretenimento, esportes e dramaturgia com formas de acessos que vão desde a gratuidade, passam por um plano bastante acessível e permitem add ons de canais, democratizando o acesso a programações de qualidade onde e quando quiser”, comentou Antonio Guerreiro, Superintendente de Estratégia Multiplataforma do Grupo Record.
Outra plataforma lançada foi a EBC Play, da Empresa Brasil de Comunicação. O aplicativo, já disponível nas versões IOS e Android, apresenta um catálogo inicial que reúne dez produções da TV Brasil com programas de entretenimento, jornalismo e para o público infantil. Assim como a emissora é pública, o produto também é gratuito. “Não adianta termos a melhor televisão e a melhor radiodifusão do mundo quando menos e menos gente vê televisão”, disse o presidente da EBC, o embaixador Alexandre Parola, sobre a importância da presença multiplataforma.
Considerada a maior rede de televisão do País, a TV Globo também tem corrido atrás do prejuízo para se inserir no mercado do streaming. Em 2015, eles lançaram o Globo Play, disponibilizando boa parte do conteúdo da emissora e de acervo para assinantes. Mas a concorrência com as produções originais da Netflix fez com que ela se movimentasse ainda mais. Em breve, será lançada a GloboFlix, que se concentrará em conteúdo internacional recente e inédito, além de séries originais e conteúdo da emissora, para tentar brigar “em pé de igualdade” com sua grande rival e também a Amazon. O diretor geral do Globo Play, João Mesquita, resumiu esta nova plataforma em um recente fórum de TV em São Paulo: “O serviço tem dois objetivos claros, embora conflitantes: manter o catchup aberto do conteúdo da TV Globo e vender um serviço com conteúdos originais exclusivos”.
GAME OF STREAMINGS
A Netflix não tem forçado só as televisões abertas a se mexerem. A disputa pela fatia do público ávido por séries e filmes no mercado do streaming levanta uma saudável briga tanto entre veículos semelhantes, como também com a TV fechada.
No mundo afora, a maior pedra no sapato da Netflix atende pelo nome de Hulu. A empresa, nascida originalmente como uma empresa de aluguel de DVDs pelo correio, agora tem o apoio de grandes estúdios. A 21st Century Fox, por exemplo, que produz a série This Is Us, aceitou a oferta de US$3,5 milhões por episódio da Hulu e NBC. Fora a Fox, empresas como a Disney, a Comcast e a Time Warner se juntaram à Hulu para que ela se fortifique no mercado rompendo vínculos com a Netflix. Resultado: eles comemoraram em maio deste ano a marca de 20 milhões de assinantes. Uma pena que ainda não haja previsão para que esta plataforma – que tem em seu vasto catálogo a premiada série original The Handmaid’s Tale – chegue no Brasil.
Já a Amazon Prime Video, esta sim disponível no País, também dá dor de cabeça ao mais popular serviço de streaming. Existente no Brasil desde dezembro de 2016, com um valor de assinatura mais barato que a Netflix, a plataforma também possui algumas das séries famosas e originais como Mr. Robot, Preacher, The Exorcist e Fear of the Walking Dead de forma exclusiva. Já entre títulos mais comuns há Seinfeld, Two and a Half Men e Dr. House. Tanto Netflix quanto Amazon Prime Vídeo disponibilizam sessões exclusivas para animes e desenhos japoneses — com títulos exclusivos dos dois lados.
Com uma lista de concorrentes que não param de crescer - oriundas da TV aberta, fechada e da própria web - a ascensão da Netflix no Brasil e no mundo tem provocado o mundo audiovisual em vários âmbitos, mas quem ganha com tudo isso é o público, que a cada dia vai ganhando mais opções de entretenimento feito “à moda do cliente”. Uma guerra interessante de acompanhar, e pelo visto, sem data para terminar.