Graça Araújo: Uma despedida marcada pela força do povo

No velório da jornalista, domingo, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, fãs, amigos e familiares destacaram a simplicidade com que Graça falava com o povo e para o povo

Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem
No velório da jornalista, domingo, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, fãs, amigos e familiares destacaram a simplicidade com que Graça falava com o povo e para o povo - FOTO: Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem

Artemis, Eduardo, Cosma, Márcio, Julita, André, Marinete. Merendeira, repórter, empregada doméstica, garçom, empresária, educador físico, aposentada. Pessoas de diferentes lugares, idades, classes sociais, profissões e sobrenomes. Unidos na admiração pela jornalista Graça Araújo, 62 anos, eles estiveram no último domingo no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife, para se despedir da apresentadora que morreu sábado, vítima de um acidente vascular cerebral hemorrágico. Nos depoimentos de amigos, familiares, políticos, artistas e fãs, uma unanimidade: a simplicidade com que Graça falava com o povo e para o povo, e a seriedade com que encarava a profissão.

“Ela representava o pobre. Defendia a gente. Moro em Santo Amaro (área central do Recife). Quando tinha homicídio e ela ia lá fazer reportagem, falava com as pessoas, cumprimentava. Vai fazer muita falta”, disse o garçom Márcio Antônio da Silva, 35 anos. “Era a voz de quem precisava. Respeitava os ouvintes, não fechava o microfone pra ninguém, não tinha medo de cobrar às autoridades. Era uma alegria ouvi-la toda tarde na Rádio Jornal”, comentou a merendeira Artemis Carvalho, 59, de Brasília Teimosa, Zona Sul da capital pernambucana.

“Graça perguntava aos médicos o que o povo queria saber e não tinha como perguntar. Transmitia confiança, uma jornalista competente e séria, sem deixar de ser descontraída”, destacou o eletricista Severino João Nascimento, 46, de Mirueira, Paulista. “Quando a comunidade chamava a imprensa porque a barreira estava perto de cair, Graça dava espaço pra gente reclamar. Nunca discriminou o pobre”, afirmou a empregada doméstica Cosma Simão Freitas, 52, moradora do Córrego do Abacaxi, em Caixa d’Água, Olinda.

“Uma profissional exemplar, uma mulher de ferro, que esbanjava saúde. Foi uma fatalidade o que aconteceu”, lamentou o personal trainer Pedro Henrique Soares, que estava com a jornalista no momento em que ela passou mal, quinta-feira passada, quando concluía um treino numa academia de Boa Viagem. Ele contou que Graça Araújo sofreu três paradas cardíacas – uma na academia, uma na ambulância, a caminho do hospital, e outra na unidade de saúde, onde ficou internada na UTI até morrer.

HOMENAGENS

Durante todo o dia o movimento no velório foi intenso. Mais de cem coroas de flores, enviadas por políticos, empresas, amigos, entidades e admiradores amenizaram o peso da despedida. Corredores do grupo Corpore Sano, do qual Graça Araújo fazia parte, colocaram uma camisa sobre o caixão, enquanto atrás havia uma bandeira de Pernambuco, assinada por maratonistas. Antes de o cortejo sair com o corpo para ser cremado, numa cerimônia restrita a familiares, fãs cantaram músicas religiosas e de despedida. Em vários momentos a apresentadora foi aplaudida.

A mãe da jornalista, uma senhora de 82 anos, mora em Londrina, no Paraná, com uma outra filha e preferiu não comparecer ao sepultamento. Estiveram duas irmãs, cunhado e sobrinhos. “Minha tia sempre foi e será uma referência de amor e cuidado. A gente tinha muito orgulho dela, pela superação de saber de onde veio, de uma realidade tão inóspita, tão difícil, e chegar aonde chegou”, ressaltou a estudante Yasmin Soares, 21, sobrinha e afilhada de Graça Araújo.

“Falei com ela, por telefone, duas semanas atrás. Ela comentou que vivia seu melhor momento profissional, que estava plena e feliz em todas as esferas da vida. Até disse que pensava em se aposentar, mas que estavam surgindo muitas oportunidades de trabalho”, relatou Yasmim, que mora no interior de São Paulo. As duas se viram pessoalmente pela última vez três anos atrás, quando o pai de Yasmin, irmão mais velho de Graça, faleceu.

Amiga de duas décadas, a hair stylist Julianne Farias cuidou do cabelo de Graça Araújo até o último momento. “Sei que ela gostaria de estar linda. Graça era muito exigente, com ela e com os outros. Uma mulher perseverante e que amava incondicionalmente”, destacou. A maquiadora Joane Silva também maquiou a jornalista após a morte. “Graça sempre me chamava, antes de entrar no programa TV Jornal Meio-dia, para ver se o cabelo e a maquiagem estavam em ordem. Não poderia deixar de prestar essa última homenagem a ela”, comentou Joane.

RECONHECIMENTO

O presidente do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, João Carlos Paes Mendonça, esteve no velório acompanhado da esposa, Auxiliadora Paes Mendonça. “O que fica de Graça é a dignidade como tratava os assuntos, como se comportava como pessoa. Era de uma lealdade impressionante, uma figura extraordinária. Fez um trabalho bonito e tenho certeza de que Deus a colocará num bom lugar”, destacou João Carlos, lembrando que a jornalista atuou no sistema por 27 anos.

“A morte de Graça choca mais dos que as mortes comuns porque ela, mais do que ninguém, se preparou para viver muito. Foi se disciplinando, comendo folhas, correndo, vivendo santamente. A morte não fazia parte do cardápio dela, ainda mais do jeito como foi, a rapidez. Estou morto um pedaço”, comentou o radialista Geraldo Freire, que ressaltou o carinho, a amizade e o respeito que os dois tinham entre si.

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