A Mostra Sesc de Literatura Contemporânea começa nesta quinta (2/7) com um encontro proveitoso para a literatura local. O evento, que se estende até o domingo na Livraria Cultura do Paço Alfândega, tem início com a conversa entre amigos que mantêm uma admiração mútua, apesar dos estilos particulares e das singularidades das suas obras: o pernambucano Raimundo Carrero e o cearense radicado por aqui Sidney Rocha. A mesa, com mediação do crítico e escritor Maurício Melo Jr., começa às 19h e tem entrada gratuita.
Ao falar do encontro, Sidney é direto: “Vou lá ver Carrero falar. Com alegria”, diz o cearense radicado em Pernambuco. O carinho que existe entre os dois “vizinhos” do interior do Nordeste, como diz Carrero – um de Salgueiro, o outro de Juazeiro do Norte –, é a garantia de uma boa conversa.
Para Sidney, Carrero é o dono de “uma trajetória das mais importantes da literatura contemporânea brasileira”, em um patamar acima do seu. “Mas, sem comparações, há alguns personagens meus e de Carrero que estão (ou estiveram) internados no mesmo manicômio”, sugere, apontando que talvez os dois trabalhem com um “léxico da loucura”, principalmente nas obras mais recentes, incluindo O destino das metáforas, e na fase de Carrero entre Sinfonia para vagabundos e Tangolomango. “Alguns desses livros podem parecer prontuários de enfermaria psiquiátrica, não é não? Nós só trocamos Lacan por Flaubert. Freud por Shakespeare. Jung por Santa Teresa d’Ávila”, destaca o cearense.
Do seu lado, Carrero imagina outro ponto de contato. “Acho que temos na nossa produção uma tentativa da compreensão do universo feminino, a tentativa de entender as mulheres como as grandes vítimas do mundo”, conta o autor de Tangolomango. “Fazemos isso juntos sem ter nunca termos conversado ou combinado”.
Tanto Carrero quanto Sidney continuam investindo com força na criação. O primeiro está engordando as anotações dos dois próximos livros. “Lamalagata conclui a parte da minha obra sobre mulheres, iniciada com Bernarda Soledade e que termina com a história de Paloma”, expõe. “O livro sobre a vida de Jesus marca uma nova série, que vai trazer a preocupação mística em relação aos homens”. Neste ano, Carrero continuou a ter repercussão internacional: saíram traduções de Bernarda Soledade, em romeno, e de Minha alma é irmã de Deus, em inglês – a obra ainda deve chegar em breve à França.
Sidney, por sua vez, se prepara para lançar o romance Gerônimo, que vai dar início a uma trilogia. O livro está pronto, mas envolve “mais alta tecnologia das estradas” e só deve ser entregue a editora quando os dois volumes seguintes – já iniciados – forem concluídos. As narrativas devem tratar da temática do Tempo, com inicial maiúscula, como diz o autor.
Sidney ainda aguarda para este ano a publicação na Alemanha de contos do premiado O destino das metáforas e a tradução para o inglês da obra, pelas mãos da professora americana Ami Schiess Peay. “Tradução para mim é criação, então, dei a Ami toda a liberdade que ela precisasse”, revela o escritor.
Confira a programação completa da Mostra Sesc de Literatura Contemporânea:
25/7 (quinta) - Local: Livraria Cultura
19h | Leitura: Marina Colasanti (RJ). Mesa: Raimundo Carrero (PE) e Sidney
Rocha (CE/PE). Mediação Maurício Melo Junior (PE/DF).
26/7 (sexta) - Local: Livraria Cultura
19h | Leitura: Fabiano Calixto (PE/SP). Mesa: Everardo Norões (CE/PE) e
Geraldo Holanda Cavalcanti (PE/RJ). Mediação Alexandre Furtado (PE).
27/7 (sábado) - Local: Livraria Cultura
19h | Leitura: Xico Sá (CE/SP). Mesa com Marcelino Freire (PE/SP) e Cida
Pedrosa (PE).
28/7 (domingo) - Local: Livraria Cultura
19h | Leitura: Ronaldo Correia de Brito (CE/PE). Mesa: Antônio Cícero (RJ).
Mediação Jomard Muniz de Brito (PE).
Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta quinta (25/7).
