homenagem

Francisco Brennand publica carta ao amigo Ariano Suassuna

No texto divulgado no seu perfil no Facebook, o artista plástico ressalta a importência da conversão do escritor ao catolicismo

Do JC Online
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Publicado em 24/07/2014 às 23:02
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No texto divulgado no seu perfil no Facebook, o artista plástico ressalta a importência da conversão do escritor ao catolicismo - FOTO: Foto: Reprodução
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O artista plástico Francisco Brennand, um dos grandes amigos de Ariano Suassuna, publicou nesta quinta-feira uma carta para o colega, em despedida. O texto foi divulgado no seu perfil no Facebook. Companheiro do escritor paraibano no Movimento Armorial, Brennand escreveu o texto para ressaltar a importância da conversão dele ao catolicismo. Confira o depoimento abaixo:

Compadecida:

Nos depoimentos que varreram a mídia nacional, não vi nem ouvi nenhuma menção a conversão de Ariano Suassuna ao catolicismo.

Herdeiro de duas famílias do sertão nordestino, uma paraibana e outra rio-grandense do norte, os Suassunas e os Dantas. Durante a sua infância, Ariano junto aos seus inúmeros irmãos e irmãs, recebeu uma educação religiosa de origem Luterana e rigorosamente protestante no sentido da rigidez das normas religiosas, contidas nos seus ensinamentos. Dona Rita de Cássia Dantas Villar foi um dos pilares dessa educação religiosa ministrada a sua prole.

Acontece que Suassuna com mais de 20 anos adoeceu gravemente na época em que ele conheceu a sua futura mulher, Dona Zélia de Andrade Lima. Durante a doença sob os cuidados de Zélia, Ariano Suassuna converteu-se ao catolicismo, e essa conversão foi decisiva em toda a sua futura conduta existencial.

Uma das consequências notórias dessa conversão foi o aparecimento do “Auto da Compadecida”. Nada mais católico do que santificar a mãe do Cristo. Aliás, existe uma frase de Leon Bloy que diz, “quanto mais uma mulher é santa, mais ela é mulher, e quanto mais ela é mulher, mais ela é santa”. O universo do “Auto da Compadecida” cumpre a sua finalidade religiosa de uma maneira soberba, além de ser como teatro uma peça estruturalmente feita por alguém que conhece profundamente dramaturgia. Escolho o “Auto da Compadecida” como a obra prima de Ariano por que colaborei com o autor na execução do figurino para o primeiro filme da Compadecida dirigido por Jorge Jonas, em 1968, na pequena cidade de Brejo da Madre de Deus - PE. Veja que tudo se encadeia, inclusive o nome da cidade, que por sua topografia interna já é um verdadeiro cenário teatral. Pintei 76 quadros e outros tantos desenhos.

Dificilmente na dramaturgia brasileira se encontra nada parecido. Poderia ser um auto medieval ou uma peça de teatro extremamente moderna e exemplar para aqueles que sofrem desse mal incurável que é a piedade.

Francisco Brennand

Propriedade Santos Cosme e Damião, 24 de julho de 2014.

Foto: encontro da "Academia dos Emparedados" na casa-grande do Engenho São Francisco. Da esquerda para a direita: Cesar Leal, Ariano Suassuna, Tomás Seixas e Francisco Brennand, 1960.

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