Diogo Guedes
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Nascido na Argentina em 2003, em plena crise, o movimento cartonero – que cria livros artesanais com capa de papelão e baseados na economia solidária – nasceu como uma forma alternativa de publicação e edição de obras literárias. Hoje, só no Estado de Pernambuco, o editor da Mariposa Cartonera, Wellington de Melo, consegue listar 15 iniciativas em atividade ou em incubação, produzindo obras próprias. Para celebrar o movimento, acontece sábado e domingo (23 e 24) a Jornada Cartonera, das 10h às 18h, na Casa Astral.
O evento traz atividades para editores, leitores e autores, incluindo a venda dos livros. Sábado (23), às 10h, a designer Patrícia Cruz Lima conversa com Wellington de Melo sobre dicas de tipografia e tipologia para a edição de livros. Amanhã, no mesmo horário, André Arribas, da editora Pé de Letra, conversa com Alicia Cuerva, criadora da Kartocéros, sobre o trabalho de editar, no Brasil, uma edição em francês do livro O Pequeno Príncipe – o volume será lançado em fevereiro, em Clermont-Ferrand.
“O encontro promove o espírito de rede, que é o natural dos cartoneros. As editoras não são concorrentes entre si, são parceiras, trabalham, às vezes, juntas. O movimento vem crescendo e acho pouco provável que seja um modismo. É uma alternativa viável de publicação. A jornada é um momento para se pensar também as editoras mais do que como um modo de complementar a renda: é interessante ver como ela pode ser um meio de sobrevivência mesmo”, comenta Wellington.
Outra novidade do evento é uma rodada de negociação para autores e editores. A ideia é apresentar suas obras e ver que editora cartonera pode se interessar por ela. “É algo comum em eventos de música e cinema e nas feiras do livro de Frankfurt e Guadalajara, mas acho que nunca vi acontecer na área literária em Pernambuco. A ideia é ter autores mostrando seus trabalhos para negociar publicações, parcerias ou edições por demanda. Queremos fazer esse papel de alcoviteiro mesmo”, brinca o organizador do evento.
Amanhã, a partir das 15h, haverá ainda um microfone aberto para quem quiser recitar seus poemas. Ao mesmo tempo, em Salvador, na Bahia, a Mariposa lança o volume Rapsódia Bruta, do escritor Gustavo Rios.