O começo é o mais difícil; para começar é preciso um salto; o começo é o mais triste; começar é fácil. Todas essas frases são de um mesmo livro, um ensaio-paradoxo sobre o ato de iniciar qualquer coisa feito pela escritora paulista Noemi Jaffe, O Livro dos Começos. Convidada da Mostra Cultura do Shopping Recife, ela participa do evento sábado (21/5) falando sobre a obra, a partir das 17h. Antes, às 16h, o projeto Leia Mulheres faz o lançamento por aqui do volume Todos os Contos de Clarice Lispector com um debate sobre A Felicidade Clandestina.
Noemi explica que a ideia de escrever sobre os inícios veio do próprio cotidiano de dar aulas em oficinas de escrita criativa. “É uma questão que sempre me intriga muito. Costumo falar para os alunos que trabalho o tempo na escrita é complicado – a maioria pensa uma narrativa como algo sequencial, os eventos na ordem em que acontecem. Você não precisa falar de algo pelo começo. Na verdade, nada começa, tudo está em processo, tudo é está em fluxo”, explica a escritora. O desafio, para ela, é obter o efeito da duração – Ulisses, de Joyce, ela lembra, tem cerca de mil página e ocorre ao longo de um dia.
A obra de Noemi pode ser começada por qualquer página e não tem encadernação. “É um livro provocativo, que não pertence a um gênero específico: pode ser prosa poética, ensaios mínimos, poesia em prosa”, indica a autora. Não é à toa que há um tom de ordem nos fragmentos poéticos da obra. “Não comece. Depois de começar, você se dará conta de que não existe mais caminho de volta”, escreve.
Por ironia, O Livro dos Começos foi o último livro lançado pela Cosac Naify antes do seu fechamento. “Como todos, eu fui pega de surpresa. Só depois, notei que prejudicava o livro, que ficou sem ser distribuído em livrarias”, lamenta Noemi. “Foi um acaso simbólico até porque o livro fala sobre isso: as coisas não acabam ou começam. Tomara outras editoras continuem a Cosac.”