POESIA

Fred Caju lança o livro Estilhaços, feito em edição artesanal

Na obra, editada pela Castanha Mecânica, Fred mostra uma poesia feita a partir do sangrar

Diogo Guedes
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Publicado em 27/01/2017 às 14:22
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Na obra, editada pela Castanha Mecânica, Fred mostra uma poesia feita a partir do sangrar - FOTO: Reprodução
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"Não há como escrever um poema sem sangrar", garante Fred Caju, um dos principais nomes da nova geração de poetas pernambucanos. O autor lança sexta (27), às 20h, no Casbah, em Olinda o seu sétimo livro, Estilhaços, editado em formato artesanal com cascas de ovos na capa pela Castanha Mecânica.

Estilhaços traz poemas curtos e escritos como prosa – assim eles parecem, pela velocidade e cadência, ainda mais urgentes. O volume tem três partes. A primeira, Um Corpo que Cai, mostra um mundo fragmentado, diante do abismo e da dissolução – um dos poemas, Tourear, fala tanto de um corpo feito de navalhas quanto diz: “havia o silêncio mas não havia o teu silêncio”. 

A parte seguinte, Um Copo que Cai, dilacera a própria escrita do autor, a força e a ironia de sua criação. São versos que mostram que a poesia de Fred Caju não é feita de cicatrizes, mas de feridas ainda abertas. Por fim, o trecho final, Um Corpo que Vai, se debruça sobre os relacionamentos – o amor aqui é um sentimento próximo à ilusão ou ao cinismo. “Sei que é inoportuno e já está fora de moda telefonar mas só queria dizer sem nenhum pretexto que é índigo o céu neste final de tarde”, diz Fred em Índigo.

O volume ainda tem um epílogo com um verso, Fuligem. Estilhaços, como um todo, é um livro sobre o que sobra da destruição necessária para se reinventar, o que fica de alguém (e da poesia) após uma avalanche. É por isso que seu fim conclama: “é preciso regar as flores com querosene e gasolina”.

Leia um poema de Fred Caju:

tourear

havia o silêncio mas não havia o teu silêncio não o da
tua camisa listrada havia tua falta teu olho que pastorava
as crianças e não importa o quanto crescíamos em
família é assim mesmo somos todos crianças e eu que
julgava impenetrável teu olhar não tinha percebido que
já estávamos todos dentro dele foi preciso distância foi
preciso a lâmina do tempo a lágrima dos pais herdo
teu silêncio mas não sei calar não sei transmitir sou um
corpo de navalhas e não tenho forças para impulsionar
com os pés a mesma cadeira de balanço não sei
como tourear a chuva sobre nosso teto e transformá-la
em ternura não sei 

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