Ao falar da sua estreia na literatura, a escritora pernambucana Rejane Gonçalves, de 69 anos, brinca: quase que o livro ficou como uma obra póstuma. O volume de contos Escrevo para Dinossauros, que será lançado quarta (26), às 17h, na Livraria Praça de Casa Forte, foi fruto de criação e recriação ao longo de anos, de uma vontade antiga – mas não apressada – de publicar.
São 32 contos na obra, boa parte deles com a temática da morte. Não se trata, no entanto, de uma obra simplesmente com ares sombrios ou trágicos: Rejane traz a morte também como elemento da vida cotidiana, a usa como uma forma de mudar a perspectiva do leitor. “Os contos, de início, levantam muito essa temática, como se a morte fosse o fio que costura as obras. Mesmo quando não é a morte, sempre alguma é sacrificada, algo termina. Mas trabalho a morte com um lado irônico também, essa ideia de zombar. Ela é tão temida, tão importante, que acho fundamental fazer isso”, conta a autora.
Apesar de sempre ter escrito, Rejane demorou para publicar por dois motivos. Primeiro, por cuidado, porque “muito do que se publica é ruim”. “Por isso refazia e revisava muito, até o texto ficar do meu agrado. Gosto de criar contos que eu gostaria de ler, que eu pararia para ver e rever alguns parágrafos”, explica. Outro motivo é porque não queria fazer uma edição por conta própria, que ficasse fora das livrarias e terminasse simplesmente ocupado pedaços da sua casa.
TÍTULO
O título do livro é uma brincadeira com um dos contos, Agente Literário. “Essa narrativa nasceu dessa minha ânsia por publicar, por achar uma editora, e saber que não iam dar atenção, que precisaria de algum apadrinhamento. Comecei a pensar que escrevia para dinossauros, pois meus contos não são assim tão palatáveis, não são fáceis de absorver. É preciso remoê-los”, descreve. “Então, acho que preciso desse leitor que lê as entrelinhas, que caminha ao lado do texto, que não arreda pé da porta do conto. Em tempos sombrios como esses, cheio de distrações, um leitor desse é um dinossauro.”
Formada em Letras e com passagem pela oficina literária de Raimundo Carrero, Rejane ainda traz na epígrafe da obra uma referência a Kakfa – alguém que também sabia mostrar o humor de coisas trágicas como a morte. Apesar de estar feliz com o lançamento de Escrevo para Dinossauros, Rejane confessa que também sente um pouco de melancolia. “É uma alegria melancólica, por ter passado tanto tempo sem ter lançado. Como se o livro já estivesse um pouco contaminado pela melancolia da espera. Espero que existam outros depois”, aponta.