ESCRITA

Show de Luiz Tatit dá início a Ciclo de Literatura na Caixa Cultural

Evento acontece de 4 a 14 de julho, com nomes como Clara Averbuck, Clarice Freire e Cao Guimarães

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 04/07/2017 às 7:40
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Evento acontece de 4 a 14 de julho, com nomes como Clara Averbuck, Clarice Freire e Cao Guimarães - FOTO: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Das narrativas orais até os menestréis e o livros, a literatura teve uma longo caminho por formatos e objetos. Como toda linguagem artística, é um campo sempre passível de renovação, atualização e experimentação. A busca pelos caminhos da expansão da literatura na contemporaneidade é o que gerou a programação do Ciclo de Literatura De Clarice ao Pontocom, que acontece na Caixa Cultural de 4 a 14 de julho. Toda programação é gratuita, exceto a abertura, que conta com um show do músico e linguista Luiz Tatit, a partir das 20h. Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia)

A programação conta com nomes como a escritora e blogueira feminista Clara Averbuck, a poeta e desenhista Clarice Freire e o diretor e artista visual Cao Guimarães. Todos os convidados a provocar reflexões sobre como a literatura se transforma em outras plataformas e formatos na atualidade.

Luiz Tatit, por exemplo, vai trazer no seu show um panorama da sua rica carreira musical, de integrante do grupo Rumos – e da chamada Vanguarda Paulista – até a carreira solo e suas pesquisas sobre a canção. Aliás, é justamente por seu interesse no formato da canção, que nem é música propriamente dita, nem poesia, que ele é um dos nomes presentes no evento.

A apresentação é no formato voz e violão. “Vou trazer as canções de caráter mais narrativo, que têm mais relação com a literatura, contam com personagens”, adianta o artista. Costuma fazer o show com a companhia de uma voz feminina, o que não vai ser possível por aqui, mas ele garante que dará um jeito. Também vai falar, entre as interpretações, um pouco sobre as composições e essa relação destoante entre literatura e música.

“A canção é muito diferente do objeto da literatura. Normalmente se pensa que basta uma adequação para uma poesia virar uma letra, mas não é nada isso. Poeta não sabe fazer canção. Não é que não venha a saber, se tentar, é só que ele antes precisa entender que as duas não são a mesma coisa”, garante Tatit.

O mesmo ele pode dizer sobre músicos de origem erudita: a canção tem exigências diferentes, assegura. “Muitas vezes, os eruditos procuram, assim como poetas, parcerias para construírem canções”, explica. “A canção tem uma linguagem específica, a do cancionista. Vinicius de Moraes é um dos poetas que lutou muito até finalmente aprender essa linguagem, no final da vida. E depois só quis saber da canção.”

Aliás, o apelo da canção – no Brasil e no mundo, como ele destaca, ao lembrar o Nobel a um “cancionista”, Bob Dylan – é que faz ela ser tão buscada por poetas e músicos eruditos. A era dos festivais no Brasil tornou a canção uma espécie de obsessão de uma geração

Tatit dá outro exemplo: Hermeto Pascoal, por exemplo, não tem a mesma facilidade de Erasmo Carlos para fazer grandes canções. “O que define a canção é a prosódia: ela tem a entonação de algo que parece ser falado”, avalia. “O prosódico é o segredo da canção. O cancionista sabe achar naturalmente esse modo de criar.”

PARCERIAS

Depois que saiu do grupo Rumos, Tatit passou a conviver mais com parcerias musicais, indo de Itamar Assumpção e José Miguel Wisnik a Ná Ozzetti e Marcelo Jeneci. “Normalmente eu faço a letra, ou seja, já recebo pronto o modo de dizer e invento o que vai ser tido com a aquela melodia. Minhas músicas costumam ser imensas, e as que enviam para mim às vezes são curtas, um dos trabalhos é achar a síntese para aquilo. As parcerias mudam o meu estado comum, são interessantes”, comenta o compositor.

Em faixas como Quando a Canção Acabar, do disco Sem Destino, de 2010, Tatit já brincou com o propalado “fim da canção”. “As pessoas pegaram isso de uma declaração do Chico (Buarque), que quis dizer que, diante do rap, a canção no sentido de canção que fala de amor, a dos menestréis, poderia terminar. O que Chico queria dizer é que não fazia sentido fazer a canção como se fazia antes”, analisa. “O pior é que o rap é a canção pura.”

Atualmente, o músico se dedica a docência, mas com menos obrigações do que antes de se aposentar. Sua pesquisa sobre a canção continua rendendo artigos acadêmicos, que devem virar livro em breve. “Hoje em dia posso fazer shows em lugares mais distantes, como aqui, que termino passando três dias”, comenta.

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