DEBATE

Debate sobre os caminhos da Escrita Criativa encerra a Bienal do Livro

Evento recebe a primeira edição do Seminário Nacional em Escrita Criativa de Pernambuco

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 13/10/2017 às 8:00
Foto: JC Imagem
Evento recebe a primeira edição do Seminário Nacional em Escrita Criativa de Pernambuco - FOTO: Foto: JC Imagem
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A criatividade é, em sua definição, uma característica muito pessoal, um talento que pode permear qualquer área de atuação. Mas ser criativo é um traço que pode ser ensinado e o conhecimento adquirido. No campo literário há uma tradição relativamente recente no Brasil de cursos e seminários de escrita criativa e é justamente essa temática o destaque da programação da 11° Bienal Internacional do Livro deste fim de semana. Desta sexta a domingo acontece o Primeiro Seminário Nacional de Escrita Criativa de Pernambuco, organizado pela pernambucana Patrícia Tenório e pelo gaúcho Luiz Antônio de Assis Brasil.

Encerrando a noite, às 19h, acontece o debate A Importância de um Ambiente Estimulante na Criação Artística, com as presenças de Luís Roberto Amabile (PUC-RS), Valesca de Assis (RS), Sidney Nicéas (PE) e Raimundo Carrero (PE), além dos organizadores do projeto. Na ocasião, será lançado o livro Sobre a Escrita Criativa (Editora Raio de Sol), uma extensão do seminário, que reúne textos de diversos autores promovendo reflexões sobre o fazer literário.

"Eu e Luiz somos colegas da PUC do Rio Grande do Sul, que é a única universidade brasileira hoje a ter não só o curso de graduação em Escrita Criativa, mas também o mestrado e doutorado. Foi pensando em como divulgar mais esse programa que surgiu a ideia de levar a outras cidades e apareceu essa oportunidade de parceria com a Bienal", conta Patrícia. Os autores reunidos no livro são também os que vão ministrar as oficinas durante o seminário, como Bernadete Bruto, André Balaio, Maria do Carmo Nino e Luís Roberto Amabile, entre outros.

Sobre a lacuna do debate em relação à escrita criativa no ambiente acadêmico brasileiro, Patrícia acredita que o fato de ser um tema ainda novo e de não haver muitos professores formados na área dificulta a integração do curso em outras universidades. “A ideia é que o livro circule nos ambientes universitários. É importante também ressaltar do encontros desses dois polos literários, Recife e Porto Alegre, no projeto, que há muito tempo dialogam. O que interessa para nós é fomentar a escrita”, conclui.

RAIMUNDO CARRERO

Patrícia foi uma das muitas alunas de Raimundo Carrero, precursor dos cursos de escrita criativa em Pernambuco. Carrero decidiu, em 1988, começar a ministrar as aulas a partir de um desejo de estudar e discutir o romance.

“A escrita criativa é o ensino do artesanato, os alunos aprendem as técnicas de aperfeiçoamento e como alcançar melhores resultados. Todo mundo sabe escrever uma frase, mas como melhorá-la, deixar o ritmo mais apropriado, usar as pontuações?”, reflete.

Para ele, que é autor dos livros A Preparação do Escritor e Os Segredos da Ficção: Um Guia da Arte de Escrever Narrativas, a escrita criativa deveria ser ensinada nas escolas. “Não se estuda a criação, apenas a gramática. São poucos os professores que ensinam como fazer um poema, um conto, dar vida a um personagem que não seja pelo lugar comum.”

Relembrando de uma importante fala de Luiz de Assis em que ele parafraseou Simone de Beauvoir, Carrero diz que “não se nasce escritor, mas torna-se”, daí a necessidade dos seminários. A academia, segundo ele, está mais pautada em formar críticos e teóricos, não tanto escritores.

“Mas acredito que há uma movimentação por aqui também de integrar a formação da escrita criativa na universidade”, reforça.
Ele ainda ressalta que seus seminários não oferecem aos autores um modelo pronto de como escrever, mas oferece caminhos para que cada um, dentro de seu estilo e suas vontades, possa se aperfeiçoar.

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