Nesta terça-feira, será anunciada a lista com os vencedores deste ano do Prêmio Pernambuco de Literatura. Mas os vencedores de edições anteriores, contudo, publicaram uma carta aberta em que criticam a decisão do Governo do Estado em mudar o nome do prêmio para Hermilo Borba Filho - o escritor comemoraria cem anos este ano.
Os oito escritores criticam o personalismo da escolha: "Não há dúvidas quanto ao mérito indubitável do saudoso Hermilo Borba Filho nas letras pernambucanas, sobretudo no teatro; muito importante, ainda, se faz relembrá-lo em seu centenário. No entanto, a inclusão do nome de um artista no prêmio estadual traz honraria a esse artista e, portanto, uma honraria menor do que aquela distribuída a todos os artistas de Pernambuco, com o nome de nosso Estado. Até mais do que isso, a inclusão do nome do saudoso Hermilo, acaba por trazer a uma premiação estadual um personalismo indesejado em tempos de Estado Democrático de Direito. Sobretudo em momentos em que a democracia".
Se criticam a mudança no nome, os signatários, por outro lado, aprovam a realização do certame: "a informação de que por meio do Decreto a ser assinado por esse Digno Governador, seriam ampliados o número de premiados, a tiragem dos livros e o investimento financeiro total do prêmio, nos trouxe grande gáudio! Alegria essa que, certamente, está presente em todos os escritores de Pernambuco, sejam vencedores, sejam participantes ou sejam aqueles que irão participar das próximas edições do prêmio, vez que tal fato demonstra o comprometimento do Governo do Estado com a cultura pernambucana", escrevem.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o secretário de Cultura, Marcelino Granja, se pronunciaram a respeito da carta em nota divulgada através da assessoria de comunicação da Secult-PE. Seu conteúdo é reproduzido logo abaixo.
Leia a carta, abaixo, na íntegra:
Carta aberta ao Governador Paulo Câmara
E ao Secretário de Cultura Marcelino Granja
Senhor Governador,
Senhor Secretário,
No último dia 12/10/2017 recebemos com satisfação a informação de que na terça-feira
17/10/2017, às 18h30, o resultado da quinta edição do Prêmio Pernambuco de Literatura,
será divulgado no berço do governo estadual, o Palácio do Campo das Princesas. O cerimonial em tal casa já demonstra por si só, a uma, a grande honraria e reconhecimento por parte do Governo do Estado, para um prêmio de tão vasta importância cultural e que tem trazido novos nomes à lume no cenário da literatura em Pernambuco, e a percepção de que prêmios como o Pernambuco de Literatura, independem de governo ou de gestão, mas são um verdadeiro reconhecimento da cultura plural e da diversidade pernambucanas.
E o Prêmio Pernambuco de Literatura é uma marca que chancela sim, por si só, a pluralidade e diversidade latentes em nosso Estado, e abraça sem rodopios a literatura tal como é engendrada em todas as macrorregiões pernambucanas, sem distinções de pessoas , gênero, sexo, cor, formato da obra, temática prevista, etc. Em suma, é um dos grandes prêmios já lançados no cenário brasileiro para galardão dos gêneros conto, romance e poesia. Ao longo das últimas quatro edições, 760 obras foram inscritas, das quais 19 restaram premiadas e distribuídas para várias Bibliotecas de Escolas Públicas em todo o território pernambucano. Por outro lado, projetos magníficos como o “Outras Palavras” (Fundarpe), têm ajudado não só a divulgar a chancela do prêmio, como a espalhar essa literatura para estudantes de todo o Estado.
Nesse contexto, a informação de que por meio do Decreto a ser assinado por esse Digno Governador, seriam ampliados o número de premiados, a tiragem dos livros e o investimento financeiro total do prêmio, nos trouxe grande gáudio! Alegria essa que, certamente, está presente em todos os escritores de Pernambuco, sejam vencedores, sejam participantes ou sejam aqueles que irão participar das próximas edições do prêmio, vez que tal fato demonstra o comprometimento do Governo do Estado com a cultura pernambucana.
Todavia, um aspecto das mudanças informadas trouxe-nos preocupação, qual seja: a mudança do nome do Prêmio Pernambuco de Literatura para “Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura”.
Isso porque, o nome do nosso Estado atrelado ao Prêmio de Literatura que galardoa os nossos escritores pernambucanos é uma verdadeira honraria, cujo orgulho em portá-la transcende os limites de qualquer explicação. Pernambuco é um ente forte da federação, nossa cultura é riquíssima e diversificada, e um prêmio com o nome de nosso Estado, cujo troféu é a representação mesma do Leão do Norte, é uma honraria por si só a todos os pernambucanos.
Não há dúvidas quanto ao mérito indubitável do saudoso Hermilo Borba Filho nas letras pernambucanas, sobretudo no teatro; muito importante, ainda, se faz relembrá-lo em seu centenário. No entanto, a inclusão do nome de um artista no prêmio estadual traz honraria a esse artista e, portanto, uma honraria menor do que aquela distribuída a todos os artistas de Pernambuco, com o nome de nosso Estado. Até mais do que isso, a inclusão do nome do saudoso Hermilo, acaba por trazer a uma premiação estadual um personalismo indesejado em tempos de Estado Democrático de Direito. Sobretudo em momentos em que a democracia brasileira debate-se por se reafirmar em meio a tantos traumas.
Quando se resolve homenagear uma personalidade dando-lhe o nome de uma premiação que é de todos os pernambucanos, acaba-se por limar tantas outras que igualmente representam o nosso Estado e poderiam igualmente estampar seu nome ali, cite-se, a exemplo: Osman Lins, Gilvan Lemos, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Gylberto Freire, Joaquim Nabuco, Tobias Barreto e tantos outros.
Doutro lado, dar ao prêmio o nome “Pernambuco”, enseja, por si só, a honraria a todos esses grandes artistas já idos, àqueles já premiados e àqueles que do fundo de seus corações anseiam ter sua literatura reconhecida por meio desse selo.
Note-se, ainda, que grandes prêmios de literatura brasileiros têm se reafirmado ano a ano nesse caráter democrático, isonômico, não-personalista e, portanto, pujante, encartando como imagem máxima das premiações o nome de seus respectivos Estados, como o Prêmio São Paulo de Literatura (que já faz 10 anos de história), o Prêmio Paraná de Literatura (que chega a 05 anos de vida) ou o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura (que já faz 10 anos de história).
Nesse sentido, o Prêmio Pernambuco de Literatura já vai completar o seu sexto ano de história, investindo em literatura, fomentando o contato com as diversas formas de compreender o mundo, ampliando o espaço da leitura e da reflexão como diretiva para promover uma sociedade mais plural e com pensamento crítico. Alterar o nome tão pujante desse prêmio, retirar a honraria erga omnes do nome de nosso Estado, para estampar o nome de apenas um artista (por maior que seja), além de se prestar a uma verdadeira descontinuação da imagem do prêmio, acaba por instaurar um personalismo que o Estado de Pernambuco não carece.
Além do mais, impende dizer que não faz qualquer sentido institucional, inclusive, dispensar seis anos de investimento em uma marca, em um selo com o nome do Estado, para manter uma identidade que funciona, que já tem prestígio, por uma nova que, basicamente, não traz nenhum ganho. O que, de fato, não se afigura inteligente para a gestão, para os autores, ou mesmo para o contribuinte.
Dito isto, e respeitosamente, sugerem os signatários da presente Carta, todos premiados com o Prêmio Pernambuco de Literatura, que Vs. Exas. mantenham o nome atual do Prêmio, de modo que sua história se perpetue enquanto literatura houver no Estado, com a mesma identidade.
Como alternativa, à honradez do centenário do saudoso Hermilo, sugerem, ainda, os presentes signatários que seja feita homenagem ao grande artista junto ao nome do prêmio nessa sexta edição, da seguinte forma: VI Prêmio Pernambuco de Literatura – Homenagem ao Centenário de Hermilo Borba Filho, o que, a uma, garante o nome do Estado em nosso prêmio e concede a devida honraria ao grande Hermilo, por seu centenário.
Sem mais, encaminhamos nossos sinceros votos de grande estima a Vs. Exas.
Atenciosamente,
Mario Filipe Cavalcanti
Vencedor do Prêmio
Pernambuco de Literatura;
Rejane Paschoal
Vencedora do Prêmio
Pernambuco de Literatura;
Bruno Liberal
Grande vencedor do
Prêmio Pernambuco de
Literatura;
Carlos Gomes
Grande vencedor do
Prêmio Pernambuco de
Literatura;
José Juva
Vencedor do Prêmio
Pernambuco de Literatura;
Luiz Coutinho Dias
Filho
Vencedor do Prêmio
Pernambuco de Literatura;
Paulo Gervais
Vencedor do Prêmio
Pernambuco de Literatura;
Álvaro Filho
Grande vencedor do
Prêmio Pernambuco de
Literatura
NOTA DA SECRETARIA DE CULTURA
"A decisão de colocar o nome de Hermilo Borba Filho no Prêmio Pernambuco de Literatura foi tomada em conjunto com a comissão organizadora do seu centenário. É um reconhecimento inconteste da contribuição deste autor, encenador, professor, crítico e ensaísta para a cultura pernambucana. O anúncio desta mudança foi feito na Praça da Palavra, durante o FIG 2017, bem como na abertura das comemorações do centenário, no Teatro Apolo-Hermilo, também em julho deste ano. Os prêmios literários de São Paulo, Paraná e Minas Gerais, citados na carta, são nacionais, por isso a necessidade de identificar o estado. O Prêmio Hermilo Borba Filho é regional, lembrando que Pernambuco já tem um prêmio nacional, que é o Prêmio Cepe Nacional de Literatura. Finalmente, o decreto que será assinado amanhã pelo Governador Paulo Câmara só reforça o prêmio de literatura, primeiro, porque institucionaliza por meio de decreto, depois duplica o valor e aumenta o número de escritores premiados, mantendo seu caráter regionalizado. Como a própria carta diz, o gesto do governo simboliza uma enorme conquista."