A lenda do cinema francês Gérard Depardieu faz um balanço amargo da vida em um livro de reflexões publicado nesta quinta-feira (26). O mundo corre "para o vazio", expõe o ator em Monstro, um livro obscuro que mistura relatos sobre suas relações com gigantes do cinema e pensamentos sobre alguns de seus escritores prediletos.
"Como podemos continuar avançando em uma civilização que pouco a pouco está perdendo suas razões de ser?", questiona o ator, retomando uma reflexão do autor austríaco Stefan Zweig, que se suicidou em fevereiro de 1942, atormentado pela agonia do mundo.
No livro, dividido em capítulos curtos, Depardieu fala também da sua infância miserável em Berry, no centro da França, e de seu pai, "Dédé", que "nunca tinha visto o mar". Conta também como descobriu o teatro, seu encontro com figuras como Claude Régy e Marguerite Duras, e mais tarde, com Bernardo (Bertolucci), Marco (Ferreri) e François (Truffaut), que mudaram a sua vida.
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CANSADO DAS NORMAS
Ele descreve a si próprio, aos 68 anos, como um homem cansado das "normas", que celebra "a violência dos excessos". Fala também sobre a morte, que define como "um belo ponto de exclamação sobre o vivido".
"A morte é uma coisa normal, sábia (...). É preciso se preparar", afirma o protagonista de filmes como "Cyrano de Bergerac" e "Tempos que Mudam".
Lamenta, além disso, "a falta de desejo e sensualidade" que segundo ele caracteriza esta época, e conta que "lê o Alcorão" quando tem um "desejo de sensualidade".
"Na descrição do paraíso de Allah há uma verdadeira visão do desejo", afirma. "Não tem nada a ver com a imagem do paraíso que têm esses idiotas que nunca leram o Alcorão e que pensam que 72 virgens os esperam (...) se eles se explodirem em público", acrescenta, em referência aos extremistas islâmicos.