Alguns autores marcam a vida de seus leitores para sempre. Entre romances, ensaios, contos ou coletâneas de poesias, quem não consegue citar ao menos um título que tenha sido fundamental na sua formação? Seria possível, então, que cada um tivesse dentro de si um pouco de Clarice, Silviano, Érico, Machado, Chimamanda, Agatha, Stephen ou ainda J. K. – para citar apenas alguns célebres escritores? A ideia de se encontrar e se identificar a partir de suas leituras é defendida por Xico Sá, Maria Ribeiro e Gregório Duviver através projeto Você É o Que Lê, que chega hoje ao Recife, em um evento gratuito, às 19h, no Marco Zero.
O trio vem levando a várias cidades brasileiras o debate sobre literatura desde maio de 2016. A iniciativa começou em Salvador, com o convite da produtora cultural baiana Evelyne Lessa, e depois seguiu para Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Aracaju, Porto Alegre e desembarca neste fim de ano em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. “A ideia é trazer a literatura para perto das pessoas, não é ocupar as livrarias apenas com consumidores, mas também com reflexão, de uma maneira despretensiosa. Nenhum de nós três é acadêmico e então nosso papo é bem próximo da experiência do leitor”, explica Gregório.
Na conversa todo assunto pode ser um gancho para falar de literatura, desde os temas debatidos nas redes sociais passando pelas correntes do WhatsApp e os ganhadores do Prêmio Nobel. Debater sobre autores e livros em tantos locais diferentes é sempre uma experiência única. Não simplesmente pelo fato da recepção de cada público ser distinta, mas também pelo próprio repertório de cada Estado. Os pernambucanos podem então esperar que hoje a conversa também aborde a produção local.
“Pernambuco tem a mais importante, no conjunto, poesia brasileira, não dá para desconsiderar gênios como Bandeira, João Cabral, Joaquim Cardozo, Ascenso Ferreira, Alberto da Cunha Mello, Angelo Monteiro, Marco Polo, Cida Pedrosa, Oliveira de Panelas, Mocinha de Passira, Miró da Muribeca, entre outros. O encontro no Recife será, naturalmente, muito marcado pela poesia”, ressalta o cearense disfarçado de pernambucano Xico Sá.
Ele estudou e iniciou sua carreira jornalística no Recife, então é inegável a influência que a literatura pernambucana teve na sua formação. “Minha escola foi a Livro 7 – a maior livraria do mundo, óbvio – e os botequins dos arredores”, lembra, citando a extinta e histórica livraria da Sete de Setembro. Em relação à produção atual, Xico se mantém atualizado e cita os nomes de Luzilá Gonçalves Ferreira, Raimundo Carrero, Sidney Rocha, Marcelino Freire, Fernando Monteiro, Jomard Muniz de Britto e Micheliny Verunschk, entre muitos outros. “É muita gente boa, meu Deus.” A poesia pernambucana também é lembrada por Maria Ribeiro, uma apaixonada pelos versos de Manuel Bandeira. “A gente também não pode deixar de citar João Cabral de Melo Neto e O Cão Sem Plumas, nem Clarice Lispector, porque toda sua obra está relacionada de alguma forma com sua infância no Recife.”
VIVÊNCIAS
Você É o Que Lê é um dos projetos necessários em um país onde cerca de 44% da população não tem o hábito da leitura. A relação prazerosa com a literatura é mais natural e orgânica na fase adulta quando esse incentivo já aconteceu na infância. Tanto Maria Ribeiro quanto Xico são pais, e Gregório se prepara para se tornar um em muito breve (sua namorada está grávida de uma menina). Conversar sobre literatura em casa é, para eles, tão importante quanto fazê-lo Brasil afora
“A simples visão dos pais com um livro em uma rede ou em uma poltrona já instiga a leitura dos filhos em casa. A imagem é forte. Hoje deve ser mais difícil a peleja do livro contra a fartura de jogos eletrônicos e imagens no celular, mas desde já leio para Irene ou invento”, diz Xico. “Eu incentivo muito meus filhos a lerem. Brinco que literatura infantil de má qualidade devia dar cadeia, porque é algo que a gente lê junto. Então quando eu estou lendo para meu filho, estou lendo para mim também”, ressalta Maria.
Maria e Gregório são atores e Xico, jornalista. Mas os três são também cronistas de jornais ou revistas e autores publicados. A atividade faz com que estejam sempre acompanhando o cenário nacional contemporâneo, que definem como passando por um momento de abundância e qualidade. “Claro que as editoras ainda são importante, mas hoje você pode escrever em qualquer lugar, no Instagram, blog etc...”, destaca Maria. A literatura é para todos, seja no ato da leitura ou da escrita.