PARIS, FRANÇA - Madeleine Vionnet (1876-1975), Marcel Rochas (1902-1955) e André Courrèges eram nomes de peso da moda do século passado. Uma onda retrô que quebrou nas passarelas de Paris nos primeiros dias da temporada de verão 2016, iniciada na terça (29/10), reciclou a estética desses estilistas.
O saudosismo guiou a primeira coleção do cipriota Hussein Chalayan na grife Vionnet, etiqueta da elite em meados do século 20.
Chalayan preferiu retomar os códigos do vestuário clássico da Grécia Antiga, padrão instituído por Madeleine na roupa de festa da nobreza europeia, a enveredar por temas políticos comuns à sua marca homônima.
De certa forma, os vestidos longos de inspiração helênica foram um banho de água gelada para quem esperava uma relação entre o passado e o presente.
Atento às vendas, o estilista produz um par de peças com recortes assimétricos em cores insossas, do nude ao azul claro, do branco ao preto. Tudo leve e romântico, mas sem sua genialidade característica.
A Rochas de Alessandro Dell'Acqua comemorou 90 anos com festa na Champs-Élysées, na quarta (30/9). Uma celebração da resistência em manter o viés aristocrático, ainda que um tanto despojado.
Ao reeditar o romantismo de Marcel Rochas, misturando-o a elementos do guarda-roupa estampado e lúdico de Gala Dalí (1894-1982), mulher do pintor Salvador Dalí (1904-1989), a grife produz looks presos num tempo distante.
Mesmo implementando boas ideias ao repertório da marca - o couro brilhante dos grandes casacos e os sapatos com renda de lingerie -, a imagem de Dell'Acqua se distancia da nova geração.
Embora haja um flerte com a corrente retrô que vem desde os desfiles de Milão, que aconteceram na semana passada, as estampas ricamente adornadas com brilhos e os brocados aplicados nas peças de alfaiataria parecem engessadas no tempo.
Parado no tempo também foi a coleção da Courrèges, que renovou o time, agora capitaneado pela dupla Sébastien Meyer e Arnaud Vaillant.
Ironicamente, o look espacial de André Courrèges, fundador do estilo futurista dos anos 1960 e que disseminou no mundo o uso da minissaia, foi reciclado nas jaquetas, nas saias curtas e na silhueta em "A", que, numa outra época, eram inovadores.
Aí é que os trabalhos de Hedi Slimane, estilista da Saint Laurent, e Alessandro Michele, da Gucci, se mostram relevantes. Eles são a prova de que reconstruir grifes lendárias não significa copiar e colar os elementos que fizeram a fama dos seus fundadores, é preciso redefini-los num outro contexto histórico.