Luto

Lula Côrtes perde batalha contra o câncer

Artista, líder não oficial de movimento cultural alternativo do Recife nos anos 70, foi sepultado, ontem, no Cemitério de Prazeres, em Jaboatão

José Teles e Eugênia Bezerra
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José Teles e Eugênia Bezerra
Publicado em 28/03/2011 às 19:15
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Cantor compositor, artista plástico, agitador cultural e irrequieto guru do udigrudi pernambucano dos anos 70, Lula Côrtes faleceu na sexta-feira à noite, no Hospital Barão de Lucena, no Cordeiro, em consequência de um câncer, contra o qual lutava há mais de dez anos. O velório foi realizado na Câmara Municipal de Jaboatão dos Guararapes (atualmente, ele trabalhava como gerente de cultura do município). O sepultamento de Lula Côrtes, que faria 61 anos no próximo dia 9 de abril, aconteceu ontem, por volta das 16h30, no Cemitério de Prazeres.

Amigos, familiares e fãs levaram, além de muitas flores, a música e a poesia que marcaram a vida do artista. Algumas pessoas já chegaram ao cemitério tocando e por várias vezes outros declamaram versos e cantaram suas músicas preferidas, como Desengano e O pirata (da Ave Sangria). “Acho que ele era simplesmente magnífico, é o que eu tenho para falar”, resumiu Alga Côrtes, filha de Lula (ele tinha quatro filhos).

Um dos primeiros a chegar ao local foi o amigo Josenildo da Silva, conhecido como Campeão. “Nossa amizade era de tomar uma, pescar. Era um cara totalmente extrovertido. Não tinha medo de morrer. Quando o médico dizia para não comer galinha, ele comia pato. Não gosto de funeral, vim para o dele porque... Ele era um cara sem miséria. Se pegasse R$ 100 mil hoje, se brincar amanhã já estava liso. Gostava de fazer comida, ter a casa cheia”, afirmou o amigo, que guarda em casa um quadro pintado por Côrtes e um coqueiro que ele lhe deu para plantar.

Estou muito triste, já sabia que ele estava doente. Fui assistir ao show dele no Neno. Acompanho a carreira dele desde a adolescência. Filmamos com ele para O melhor documentário do mundo, coloquei ele com Miró. Estou muito triste, primeiro foi Germaninho (o produtor Germano Coelho), agora Lula. Quero fazer essa homenagem a ele, estou louca para editar o filme. Espero fazer uma bela edição”, afirmou a cineasta Luci Alcântara.

“Lula era tão pós-moderno que teve uma carpideira pós-moderna, que cantava seu mantra em ritmo de rock”, comentou o amigo Pedro Oliveira, citando o grupo de pessoas que cantava durante o enterro. “Ele foi feliz, morreu em plena glória”, completou.

Lula Côrtes subiu ao palco pela última vez na semana passada, em São Paulo. Ele e Zé da Flauta foram convidados para tocar com Alceu Valença na recriação do antológico show Vivo

Nos anos 70, Lula Côrtes, na época casado com a cineasta Kátia Mesel, era o líder não oficial, de um movimento cultural alternativo no Recife: “A casa deles em Casa Forte era uma universidade livre, onde se falava o que queria, se falava de tudo. Ele definiu o som do udigrudi dos anos 70 em Pernambuco. Estava em todas. Todos os discos da época, de uma forma ou de outra, têm Lula Cortês e seu clavicórdio” comentou Zé da Flauta.

Lula Côrtes subiu ao palco pela última vez na semana passada, em São Paulo, com Zé da Flauta foram convidados para tocar com Alceu Valença na recriação do antológico show Vivo.  “Ele não estava muito bem, bebia o tempo inteiro, acho que já sabia que a doença estava vencendo”, disse Zé da Flauta. Para alguns amigos dos velhos tempos, como Lailson, com quem Côrtes gravou o álbum Satwa foi uma surpresa: “Curioso é que pensei nele ontem (sexta-feira). Compus uma ópera rock, e pensei nele para um dos personagens. A gente se conheceu quando produzi a feira experimental de Fazenda Nova, em 1972, ficamos amigos de imediato, uma amizade que durou até hoje”.

Lula Côrtes fez história com Satwa, considerado o primeiro disco independente da moderna música brasileira, e com o lendário álbum duplo Paêbirú – o caminho da montanha do sol, feito em parceria com Zé Ramalho. Considerado um dos mais raros títulos da discografia brasileira, Paêbirú teve quase toda sua edição perdida na cheia do Rio Capibaribe de 1975. Teriam restado apenas 300 exemplares do álbum, que foi relançado em 2009, por uma gravadora inglesa..

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