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Caetano e David Byrne num memorável encontro em CD

Sai no Brasil e nos EUA, com oito anos de atraso, registro do impressionante concerto de Caetano e David Byrne no Carnegie Hall

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 02/05/2012 às 8:03
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Sai no Brasil e nos EUA, com oito anos de atraso, registro do impressionante concerto de Caetano e David Byrne no Carnegie Hall - FOTO: Foto: Divulgação
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Ao contrário de Paul Simon, que o antecedeu nos safáris culturais em países periféricos, David Byrne não incorpora ao seu arquivo, para um provável uso posterior, a música que importa dos países que vai descobrindo. Divulga-os, e não raro reacende estrelas em via de extinção, como foi o caso de Tom Zé e Mutantes - mais o primeiro do que o segundo.

Caetano Veloso começou a penetrar o fechado mercado americano em 1986, com do álbum que tem seu nome por título, lançado pela Nonesuch nos EUA (saiu no Brasil em 1990). A elasticidade de gostos, ritmos e idiomas permitida com o advento do rótulo "world music" abriu mercados e cabeças para ídolos há anos em seus países e ignorados na Europa e EUA.

Em 2004, Caetano Veloso já detinha prestígio suficiente para comandar uma semana de shows, num projeto chamado Perspectives, no Isaac Stern Auditorium, no Carnegie Hall. O ex-Talking Heads David Byrne foi o convidado de Caetano Veloso em um dos dias de concerto.

A apresentação, acontecida em 17 de abril daquele ano, foi gravada para um programa na rádio NPR e agora chega ao disco pela mesma Nonesuch, lá fora, e Warner Music aqui. Caetano Veloso and David Byrne: Live at Carnegie Hall tem participações de Jaques Morelenbaum (cello) e Mauro Refosco, percussionista catarinense que tem se apresentado com o Red Hot Chili Peppers e num projeto paralelo do Radiohead Thom Yorke.

"Quando me convidaram para curadoria do projeto Perspective, o primeiro americano que estava certo que convidaria foi David Byrne. Conheci David nos anos 1980. Ele me impressionou pelo conhecimento que tinha do que estava tocando no rádio no Brasil. Desde a primeira conversa, entendi que David era o primeiro músico de rock que apreendia realmente a essência da música brasileira... quando dividi o palco com ele, não me sentia nervoso, mas tímido", conta Caetano Veloso, no material de divulgação da Nonesuch.

David Byrne, por sua vez, não ficou menos intimidado em cantar com o baiano: "Sou fã de Caetano desde o final dos anos 1980, quando eu me precipitei de cabeça no buraco à Alice no País das Maravilhas da música brasileira. Se havia um músico que podia me servir de guia, era Caetano, um desses músicos que conseguem manter a criatividade ao longo da carreira". E ele confessa que estava bastante nervoso no show.

As gravadora no entanto não esclarece a razão de ter esperado tanto tempo para lançar o registro do show. Em oito anos, artistas inquietos como Caetano e David Byrne entram e saem de muitos projetos. Uma conferida nos últimos trabalhos dos dois faz com que o Live at Carnegie Hall seja quase um óvni em suas obras.

As seis primeiras faixas do álbum podem levar um incauto, brasileiro, a descartar o álbum pelas obviedades das canções e da interpretação. No melhor estilo pupilo de João Gilberto, Caetano canta Desde que o samba é samba, Você é linda, Sampa, O leãozinho, Coração vagabundo e, não tão óbvia, Manhatã, em tratamento acústico. De certa forma teria razão, se parasse a audição por aí. A partir da sétima faixa, Revolution, a dupla Caetano & Byrne desdobra-se em canções assinadas pelos dois ou, a exemplo de And she was, também por Jerry Harrison, Chris Frantz & Tina Weymout - companheiros de Byrne no Talking Heads.

Os dois mundos musicais convergem harmoniosamente como quando Você é linda encontra Nothing (but flowers), também pinçada do repertório da Talking Heads. A performance, como ressaltou David Byrne, tem algumas falhas, afinal, os dois devem ter ensaiado pouco, mas a admiração mútua faz com que o prazer da parceria seja compartilhado por quem não esteve no Carnegie Hall - que deveria estar repleto de brasileiros, pelo ímpeto dos aplausos. Com seus inevitáveis pecadilhos, Live at Carnegie Hall é um registro precioso de dois dos mais instigantes criadores de música popular em atividade.

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