“A Baby cantando com o Pedro Baby me parece que é a fórmula mais bonita do tempo”. Foi assim que Caetano Veloso, em entrevista recente a uma emissora de tevê, sintetizou o show Baby sucessos do Brasil, que os recifenses presenciaram na noite do último sábado, no Cais de Santa Rita, dentro da programação do Vivo Open Air. E foi isso mesmo. Depois de 12 anos afastada das músicas não-religiosas da carreira – as mesmas que fizeram o País respeitar sua espontaneidade artística, elemento que alguns podem confundir com loucura –, Baby Consuelo (agora só atende por “do Brasil”) resolveu ceder ao pedido do filho guitarrista Pedro Baby para um show em que, por concessão divina, ela voltou a ser a menina dos Novos Baianos, a telúrica sem pecado, sem juízo.
O show começou sem atrasos, por volta das 23h, com o hit dos 1980 (o primeiro dos vários que viriam) Seus olhos. Aos 60 anos “de vida terrestre”, e depois de um hiato afastada de suas músicas mundanas, Baby provou que mantém muito bem conservadas a voz e a essência de menina de nariz arrebitado. Cada canção que seguiu foi um golpe na saudade de uma plateia cuja maioria era criança – ou ainda nem havia nascido – quando Baby aparecia na tevê cantando com barrigão de fora (de um dos seis filhos com o guitarrista Pepeu Gomes) e cabelos multicoloridos.
Os tempos de hippie - quando no início dos 1970 ela confabulava junto aos outros Novos Baianos uma revolução cheia de carpe diem na música brasileira – foram lembrados com Tinindo, trincando e A menina dança, um dos momentos mais bonitos do show. Assim como aconteceu em setembro no show em que Moraes Moreira interpretou por aqui na íntegra Acabou chorare – o antológico álbum de 1972 –, o público sentiu mais uma vez que os Novos Baianos nunca estiveram tão novos. No palco ainda estava Dadi Carvalho, baixista da formação original do grupo, que foi homenageado por Baby e Pedro com uma salva de palmas pedida ao público. “Eu e esse cara já passamos por muitas histórias, desde lá no sítio de Jacarepaguá até hoje, é muita coisa”, lembrou a cantora.
Do começo ao fim, Baby agradeceu ao seu Deus pela oportunidade de estar, junto ao filho, se apresentando para um público cuja energia intensa, disse ela parecido, chegava a ser palpável. “Não achem que eu não percebi o que está acontecendo aqui. Vocês estão sentindo a mesma emoção que eu, eu sei que estão, e isso é muito forte”, declarou. Baby conversou o público, atendeu músicas, respondeu beijinhos, piscadas, “maravilhosa!”. Quando alguém da plateia gritou “Rá!”, em referência à seita esotérica da qual Baby fez parte nos anos 1980, ela respondeu rápido: “Nada disso, hoje só tem rá-leluia. É uma história muito doida, depois te conto!”.
No convite que Pedro fez a mãe, que demorou 70 dias para ouvir o “Deixa o menino fazer” de Deus, ele deixou claro que não haveria nenhuma canção gospel no repertório. Várias das músicas ditas mundanas, entretanto, ganharam um contexto compatível com a atual religiosidade de Baby, como Minha oração e até mesmo Menino do rio (que, ao invés de um dragão tatuado no braço, tinha um “Jesus forever”). Em Mistério do planeta, já no final, ela fez questão de frisar: “ ‘Mas ando e penso sempre com mais de um/ por isso ninguém vê minha sacola’... Tá vendo? Os Novos Baianos eram muito doidos!”. “Glória a Deus, aleluia!”, disse ela, para dar tchau, e também o público. Afinal, a menina ainda dança.