Fernanda Takai vai logo avisando que foi o jeito que ela encontrou e pede que a deixem apenas mostrar o amor. A mensagem, direta e despretensiosa, chega na terceira faixa, a oitentista De um jeito ou de outro, do seu novo trabalho, lançado na semana passada. Com a melodia de Marcelo Bonfá e bateria de Glauco Nastácia, a música sintetiza, em seus diversos aspectos, o que a cantora mineira mostra ao público, neste quarto disco solo, intitulado Na medida do impossível (DeckDisc): muitas parcerias e, pela primeira vez em sua discografia sem o Pato Fu, composições próprias.
Das 13 faixas do álbum, três são letradas por Fernanda. Além de De um jeito..., há Seu tipo – uma das muitas parcerias do álbum, composta com Pitty – e Partidas. A relação ainda pequena de composições próprias em seu disco não a incomoda nem um pouco, pelo contrário. “Não sinto necessidade de me reafirmar com músicas só minhas. Acho a faceta de intérprete muito importante para mim. Mas decidi gravar faixas minhas quando minha filha, Nina, tinha oito anos e me perguntou se não saía nenhuma música da minha cabeça. Passei a me questionar e percebi que o que eu vinha gravando eram canções de outras pessoas só”, conta.
Estar resguardada por músicos profissionais seja na linha de frente, junto a ela nos vocais, ou integrando a banda, parece ser fundamental para Fernanda. As sociedades musicais presentes no disco podem até parecer invisíveis em certas faixas, mas são importantes acordes no resultado final do álbum. Como em Para curar essa dor, versão brasileira de Heal the pain, de George Michael, traduzida por seu marido, produtor e companheiro de Pato Fu, John Ulhoa. O conterrâneo mineiro Samuel Rosa, do Skank, empresta seus riffs pop para a versão. Doce companhia, música original da mexicana Julieta Venegas, também é uma faixa traduzida para o português.
A nostalgia é outra característica bastante presente no álbum. Não aquela lamuriosa, mas, sim, a atrelada à simplicidade dos versos antigos, revisitados por arranjos contemporâneos e refinados. Como em A pobreza, de Leno e Lilian; Como dizia o mestre, de Benito di Paula; e Liz, do Trio Ternura – três grandes destaques do disco. Há ainda Mon amour, meu bem, ma femme, do rei Rossi. “Eu cantei essa música com Zélia Duncan, no Carnaval do Recife de 2011, e percebi o Marco Zero completamente enlouquecido. Dessa vez, para o disco, fiz um arranjo diferente, mais chique, porque eu queria que as pessoas respeitassem essa música”, relembra Fernanda.
Há ainda a inusitadíssima, e muito criticada, parceria com o padre Fábio de Melo na faixa Amar como Jesus amou. Nada de órgão ou violino, a melodia da música lembra as trilhas sonoras de jogos eletrônicos. A turnê deve começar no próximo mês e, segundo a cantora, o Recife está na rota com certeza.