Ao se falar sobre música no jornalismo cultural, não é raro fazer referências às cenas locais. Quando se pensa no udigrúdi ou no manguebeat, por exemplo, o que vem à mente são tanto algumas semelhanças sonoras e políticas das bandas e cantores como também a ideia de que eles habitam um território parecido, com um universo em comum e alguma forma de diálogo. Um dos estudiosos das cenas musicais no Brasil, o professor e crítico musical Jeder Janotti Junior decidiu unir sua antiga paixão pelo heavy metal com o olhar teórico e investigativo sobre o tema no livro Rock me like the devil – A assinatura das cenas musicais e das identidades metálicas (L.A.M.A. e Papel Finíssimo, 152 páginas, R$ 40). A obra é lançada nesta sexta (28/11), na Galeria Mau Mau, a partir das 19h.
O volume é um estudo acadêmico carregado de toques da biografia do próprio Jeder. Esse misto de olhar aprofundado com a descrição apaixonada das canções e do universo do metal brasileiro é visível ao longo de todo o livro. No começo, o professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE aborda alguns conceitos fundamentais para a sua pesquisa, como a definição do universo da música pop, em contraposição à música erudita, a ideia de gosto e as noções de cenas e gêneros musicais. Depois, parte para repensar o papel do metal através de canções como Territory, de Sepultura, da banda pernambucana Cangaço e do grupo feminino de metal Panndora, por exemplo.
Na obra, Jeder explica as motivações do estudo. “Este livro tem origem em um entre-lugar que abriga, ao mesmo tempo, minha pesquisa acadêmica e a paixão pelo metal. Se muitas vezes me senti obrigado a desabitar meus afetos para enxergar as contradições do rock, por outro lado, desde quando fui assoberbado pelo metal, uma questão continua a me assombrar em sua potência: O que é, afinal, música?”, questiona.
No lançamento, a professora da Universidade Federal Fluminense Simone Sá ainda mostra as suas primeiras impressões sobre o livro de Jeder. O acadêmico canadense Will Straw, da McGill University, participa de um bate-papo também – ele é um dos maiores especialistas no mundo em cenas musicais e está de passagem pelo Recife. A noite ainda conta com performances, bebidas e música.
A obra ainda é o primeiro lançamento do Laboratório de Análise de Música e Audiovisual, que criou o selo L.A.M.A. para publicar suas pesquisas. Em dezembro, o volume deve ser publicado de forma digital, nos formatos E-Pub e Mobi.