“Os headbangers também são gente.” A frase dita, em tom bem-humorado, pelo músico e jornalista Wilfred Gadêlha, apresentador – ao lado do também jornalista e músico Ad Luna – do programa de rádio Pesado, que estreia às 18h deste sábado (4) na Rádio Universitária (FM 99,9), justifica o merecimento dos fãs do gênero e as ramificações do projeto que começou como um livro e, mais recentemente, foi aprovado pelo Edital do Audiovisual do Funcultura para transformar-se num documentário.
“Queremos mostrar o metal de Pernambuco para outros públicos. O que existe ainda são iniciativas muito isoladas. A gente está tentando justamente quebrar esse paradigma e, quem sabe, chegar à TV, chegar à internet. A estrada é longa e a gente quer trilhar. O projeto Pesado está se consolidando, nem satã sabe onde isso vai parar”, brinca o metaleiro entre risos.
Faz tempo que a cena metaleira de Pernambuco anda em busca de espaço: há um mercado, há vontades, há paixão – isso, pelo menos, desde a década de 1980. Não à toa, a Noite dos Camisas Pretas, dedicada ao rock de peso, é o dia que reúne mais público no Festival Abril por Rock. Público fiel, seja para assistir e bater cabeça ao som do punk, progressivo ou hardcore; trash, death ou heavy metal.
Sim, existe em Pernambuco um autêntico público fiel para o gênero ao qual o programa irá se dedicar. O dia pesado do APR, por exemplo, mais parece uma espécie de “congresso-confraternização”. “É inconcebível que o estilo não mereça a atenção da mídia, dos patrocinadores. E todo ano a gente enche o Abril pro Rock. Ou seja: o metal é bom quando convém. E se as pessoas conhecerem mais sobre ele, tenderão a ter menos preconceito”, avalia Wilfred.
Nas redações dos grandes jornais, cabe aos “repórteres abnegados”, como classificou Wilfred, transformar a sua paixão em cobertura. Caso semelhante aconteceu com Ad, que conta como definiu a sua trajetória profissional e artística: “Eu devo muito ao metal e ao som pesado, em geral, pelo que sou. Foi quando assisti, pela TV, ao primeiro Rock in Rio, que decidi que queria ser músico e jornalista. Decidi que queria tocar bateria por causa do baterista do Iron Maiden, Nicko McBrain. E queria ser jornalista para poder ir a shows e escrever a respeito deles”, arremata.
“O metaleiro, o headbanger, é desconfiadísssimo com a mídia. Mas se ele nos vê fazendo entrevista, fala: ‘se é Wilfred ou Ad que está fazendo, vai fazer legal’. É um selo de credibilidade que a gente apresenta nessas horas e que é interessante”, relatou Wilfred à TV JC. A familiaridade dos apresentadores com a cena metaleira se reflete positivamente na apuração – a exemplo desta edição do Abril pro Rock, onde foram coletadas as entrevistas para os primeiros números do programa.
No primeiro dia do festival, em noite dedicada ao udigrudi e psicodelia pernambucanos, Wilfred e Ad desataram a falar com músicos veteranos, a exemplo de Zé da Flauta, Marco Polo e Flaviola; e também com novatos como o cantor e compositor Juvenil Silva. “Um cara de agora, que nem é da cena pesada. A gente tem a compreensão de que pode ampliar esse horizonte. Para que a música não seja um gueto, mas que passe a ser compreendida”, diz Wilfred. O primeiro programa aborda, inclusive, o falecimento do guitarrista Ivinho.
“A gente quer alcançar tanto o público ‘tradicional’ do metal, quanto outros que estejam interessados em conhecer mais sobre esse universo. Aliás, o programa não vai ficar só no metal. Acontece que o termo ‘pesado’ é, na verdade, bem mais abrangente do que pode parecer. Muita gente tem algum traço de ‘peso’ em seus gostos musicais”, finaliza Ad, complementando que as pautas dos programas abarcam temas que vão de política e sociedade a questões existenciais e filosóficas.
