MÚSICA

Comunidade heavy metal em maratona no Hellcifest

Festival teve Cannibal Corpse e Testament, pela primeira vez no Recife

GGabriel
Cadastrado por
GGabriel
Publicado em 16/11/2015 às 10:06
Fernando da Hora/JC Imagem
Festival teve Cannibal Corpse e Testament, pela primeira vez no Recife - FOTO: Fernando da Hora/JC Imagem
Leitura:
Para além da música, shows de heavy metal envolvem certo ritual e um senso especial de comunidade e pertencimento. Fãs de todos os lugares se encontram, vestindo suas camisas pretas com estampa de suas bandas favoritas, formando um corpo coletivo, uma máquina maior em torno da paixão pelo gênero. Não foi diferente no sábado (14), na primeira edição do Hellcifest. O evento, produzido por Paulo André Pires, do Abril Pro Rock, levou ao Clube Português as bandas pernambucanas Vocífera, Decomposed God e, pela primeira vez no Recife, as norte-americanas Cannibal Corpse e Testament.

O Cannibal Corpse subiu ao palco por volta das 22h. Durante uma hora e meia apresentaram uma sequência brutal de death metal, subgênero do qual a banda é uma das pioneiras e principais expoentes. As guitarras nervosas de Rob Barrett e Pat O’Brien (ex-Nevermore e que também já fez shows com o Slayer, substituindo o guitarrista Jeff Hanneman enquanto este se recuperava de uma cirurgia) se uniam ao pedal duplo da bateria de Paul Mazurkiewicz, formando uma incrível parede sonora. A escuta não estava apenas na percepção auditiva, mas era sentida em todo corpo. Os fãs reagiram ao excesso de estímulos jogando-se numa roda de pogo que ocupava o centro do piso inferior do Clube Português, uma grande dança conjunta na qual toda a energia e tensão eram descarregadas.

As músicas mais recentes, como Scourge of Iron (que abriu o show), Kill Or Become e Sadistic Embodiment mostraram uma banda em busca de novas abordagens musicais, explorando dinâmicas e variações rítmicas. O público recebeu tudo com calor e entusiasmo, mas o ponto alto foram mesmo as faixas antigas, clássicos do metal como I Cum Blood e Stripped, Raped and Strangled. Ao final, o vocalista George Fischer fez todos baterem cabeça com uma sequência de hits do grupo: A Skull Full Of Maggots, Hammer Smashed Face e Devoured By Vermin

Enquanto algumas bandas exploram metafísicas caricatas sobre demônios e afins, o Cannibal Corpse expõe o horror em sua forma mais crua e humana possível: assassinatos, suicídios, mutilações, cadáveres, sangue. Não houve bis, e nem era preciso. O show seco e direto, com músicas mórbidas sobre violência desvairada, é uma alegoria do próprio absurdo e crueldade humana.
 
Na sequência foi a vez do Testament subir ao palco. O show foi politizado: Native Blood foi dedicada às vitimas dos atentados em Paris, na última sexta-feira (13), e “a todos os povos indígenas”: “Este mundo do homem branco não vai me dizer o que fazer”, exclama um dos versos da música. Practice What You Preach, uma crítica à hipocrisia das religiões, foi momento central da apresentação. Mesmo cansados após a maratona de apresentações e volume intenso, os fãs reagiram bem, cantando junto em Into The Pit e Over The Wall. Contudo, tocando depois do Cannibal, a banda soava inofensiva e convencional. Ao invés de trazer enfrentamentos, acabava reafirmando valores estéticos estabelecidos do rock e da cultura pop, como a canção “engajda” e as figuras do guitar hero e do vocalista como líder, frontman.

Entre os pernambucanos, a Vocífera abriu o Hellcifest por volta das 20h. Mesmo com pouco público, a banda fez um show instigante, mostrando algumas músicas de seu EP auto-intitulado lançado em 2012 e outras de Evil Thoughts, seu primeiro álbum cujo lançamento está previsto para janeiro. A Decomposed God, ícone da cena metal local, tocou músicas de todas as fases de sua carreira. Em 2016, o grupo completa 25 anos e prepara uma série de lançamentos e eventos em comemoração. O destaque é a gravação de um DVD ao vivo no Recife, ainda sem data e local definidos.

 

Últimas notícias