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Abril Pro Rock fica devendo qualidade na noite do metal

Cancelamento das principais atrações revelou curadoria frágil do lineup como um todo

GGabriel Albuquerque
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GGabriel Albuquerque
Publicado em 01/05/2016 às 7:04
Foto: Snapic/ Divulgação
Cancelamento das principais atrações revelou curadoria frágil do lineup como um todo - FOTO: Foto: Snapic/ Divulgação
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Há pelo menos três anos o Abril Pro Rock tem dificuldades em montar uma boa programação e atrair o público para sua noite pop – este ano a abertura do festival chegou a mudar para o Baile Perfumado, espaço menor, com shows de Alice Caymmi, Tiê, Filipe Catto e também teve poucos pagantes. Nesta edição de 2016 o problema atingiu ainda a tradicional noite do metal, ponto alto do festival e que ficou muito, muito abaixo do esperado para um evento do porte do APR.

Quinze bandas foram escaladas para a “noite dos camisas pretas”. Nenhuma, porém, de impacto significativo. Não havia um nome pelo qual todos esperavam ansiosamente. Aquela banda que começa a tocar e todos imediatamente levantam correndo para ver o show. Um artista que, por si só, movesse toda a massa headbanger e fizesse o festival valer a pena. O resultado foi um Classic Hall quase vazio (algo em volta de mil pessoas) e um público constantemente apático, boa parte sentado nas escadarias, mesmo durante os bons shows.

O inesperado cancelamento da turnê dos americanos Malevolent Creation e Warrel Dane, há menos de um mês para o festival, foi um baque forte, afinal, eles eram estes grandes headliners. A situação é compreensível, mas revela uma curadoria frágil. Façamos uma comparação: o elogiado combo neo-psicodélico The Oh Sees era o principal nome da última edição do Coquetel Molotov, que aconteceu no dia 1º de novembro. A banda cancelou sua apresentação também faltando um mês para o show. E mesmo assim, com lineup quase inteiramente nacional, o Molotov teve a sua melhor edição, com shows de Emicida, Cidadão Instigado e Ava Rocha apresentando novos álbuns.

O APR, por outro lado, ficou dependente de figuras manjadas, repetidas e repetitivas, sem mais nada de novo a dizer. Korzus e Viper, que encerraram o festival, parecem tocar no piloto automático, fazendo cover de si mesmo. O cúmulo foi o cantor Edu Falaschi (Almah; ex-Angra)e seu show Metal Classics Tribute, no qual reverencia Iron Maiden (com Can I Play With Madness), Dio (Stand Up and Shout), Angra (Nova Era) e outros clássicos do cancioneiro heavy metal cheirando a mofo. Uma noite de “dinossauros sagrados”, poderia se dizer. Mas num momento em que Deafheaven (que acaba de anunciar seu primeiro show no Brasil), Baroness, Naðra, Death Grips, Concreto Morto e tantos outros enfrentam as fronteiras estéticas e poéticas do gênero, Korzus, Viper e Falaschi soam mais como fósseis de uma era distante. Tudo numa grande zona de conforto.

Em meio ao marasmo, ainda houve bons momentos. Já no pequeno palco de abertura, por volta das 18h30, a pernambucana Confounded e a sergipana [Maua] fizeram apresentações intensas e violentas. Acompanhado por uma banda mais jovem, Robertinho de Recife provou-se um dos guitar hero ao remontar o cultuado álbum Metal Mania – ainda que com versos bobos como “Bate o pé, bate a mão/ A cabeça e o coração”. A Rebaellium fez o melhor show da noite. A banda gaúcha que encerrou as atividades em 2002 está de volta com um death metal vigoroso e audacioso que não deve para os grandes pilares do subgênero.

Mas esses casos são pontos esporádicos dentro de um quadro estrutural problemático. Ainda é pouco para um festival como o Abril Pro Rock e todo seu histórico na cidade, no estado, no país. Bem pouco, na verdade.

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