O surgimento e a maturação da música pop está diretamente inscrita na forma como os jovens da década de 1960, apropriando-se das ferramentas da comunicação de massa, tomaram a frente de movimentos políticos e civis. Não é por acaso que, para tradição do rock e pop, envelhecer é um sinal de perda de vitalidade; velhos ultrapassados — sintoma disso é a BBC Radio 1, em 2015, tirar da programação uma música da Madonna na tentativa de diminuir afaixa etária dos ouvintes.
Mas por que a euforia com o lançamento de A Moon Shaped Pool, o nono álbum do Radiohead, uma banda formada em 1985 com membros quase cinquentões? O quinteto liderado pelo vocalista Thom Yorke e o guitarrista Jonny Greenwood é uma “incerta” sem filiações precisas, sempre embaralhando as fronteiras do pop com recortes de música eletrônica, rock e compositores vanguarda do século XX — Messiaen e Penderecki são influências primais de Greenwood, que chegou a gravar um disco com o polonês em 2012.
No primeiro momento, o álbum pode decepcionar aqueles que esperam do Radiohead uma reivenção ou revolução musical. Diferente do mergulho eletrônico em The King of Limbs (2011), o disco anterior, A Moon Shaped Pool é muito característico do que já foi feito pelo Radiohead.
Cinco das onze faixas já haviam sido apresentadas ao vivo. A mais impactante é True Love Waits, uma antiga presença nos shows da banda mas só registrada no EP ao vivo I Might Be Wrong (2001). “Tentaram gravá-la incontáveis vezes, mas nunca funcionou”, contou no Twitter o produtor Nigel Godrich.
Muitos relacionam a música com o divórcio de Yorke e Rachel Owen, sua parceira há 23 anos. Há ainda análises ligando Daydreaming e Carl Jung. Mas nada é assim tão óbvio. O Radiohead parece habitar os silêncios e pausas mais do que no óbvio de letra e som. A Moon Shaped Pool é um disco de diversas camadas (semânticas, estéticas, sensíveis) a ser decantado.