Intimista

Isadora Melo solta a voz nos silêncios de 'Vestuário'

Cantora e atriz pernambucana lança aguardado álbum de estreia em show gratuito no Teatro de Santa Isabel

GGabriel Albuquerque
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GGabriel Albuquerque
Publicado em 20/10/2016 às 9:49
Foto: Bruna Valença/ Divulgação
Cantora e atriz pernambucana lança aguardado álbum de estreia em show gratuito no Teatro de Santa Isabel - FOTO: Foto: Bruna Valença/ Divulgação
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Isadora Melo completa um ciclo artístico ao lançar Vestuário em show no Teatro de Santa Isabel, hoje, às 20h. Depois de interpretar e cantar como a Maria do Baile do Menino Deus, passar pelas rodas de samba e choro como vocalista do Arabiando e maturar sua música em shows ao lado de Juliano Holanda, Zé Manoel e Walter Areia, ela lança o seu aguardado primeiro álbum solo.

O disco começou a ser pensado por volta de 2013, ano em que Isadora começou a tocar com Juliano Holanda. Ela chegou a lançar, no ano seguinte, um EP de três músicas – duas delas, Partilha A Joia, regravadas em Vestuário.

Em evento de audição do álbum, na semana passada, Isadora, 27 anos, ressaltou que o álbum foi sendo formado pela intimidade e o afeto com os compositores gravados e os instrumentistas músicos que a acompanham. Estes são Rafael Marques (bandolim), Julio Cesar (acordeom), Walter Areia (baixo acústico) e Juliano (violão e guitarra), que também é o produtor musical do trabalho.

Esse clima íntimo, ou, como cantava Marisa Monte, o “infinito particular” do processo de produção se reflete diretamente na sonoridade e na proposta do álbum. São músicas com delicadeza e até certa ingenuidade comovente. A instrumentação contém poucos e discretos elementos, como se, ao invés de ressaltar a música, apenas a sugerisse. 

Sem nenhuma batida percussiva, as canções são habitadas por espaços vazios. Isadora então se lança com sua voz firme, mas macia. A banda parece tocar silêncios. É como se precisássemos parar tudo e deitar no chão para poder escutar. 

Caio Lima, vocalista da banda Rua, foi atravessado por essa “invenção de silêncio” ao assistir a uma apresentação de Isadora no Excentricidades (evento artístico que acontece no Coletivo Sexto Andar, do Edifício Pernambuco). Foi pensando nisso que escreveu Praia do Sossego, uma das mais belas faixas de Vestuário e, curiosamente, o local em que Isadora foi batizada pela sua própria mãe. “O amor é a boca na areia/ Lambendo o peso do antigo oceano/ Espaço para revirar silêncio/ Miudeza funda”, ela canta.

“Eu estava ouvindo muita coisa sem percussão e eu tinha esse desejo de tocar assim. Não é uma aversão, eu só achava que era um vazio bonito”, explica Isadora, que preocupou-se também em não deixar o álbum “monocromático, monótono”. 

“Juliano consegue preencher bem esse vazio porque o acordeom e o bandolim estão fazendo as linhas melódicas, dando a harmonia e a base do baixo dá bem esse apoio também. Acho que o baixo de Areia tem algo de percussivo”, completa. Percebe-se essa qualidade principalmente em Do Tempo (Hugo Linns e Juliano), um diálogo sutil entre a voz e o baixo, em que os estalos das cordas constroem o alicerce rítmico.

Corporalidade

No ano passado, Isadora fez uma ponta de atriz na série global Amorteamo. Este ano, foi convidada pelo diretor João Falcão para integrar o elenco do musical Gabriela, em São Paulo. Mas ela pondera: “Nem me reconheço muito como atriz, é uma coisa bem recente que veio do começo desse ano. Eu faço o Baile do Menino Deus há um tempo, mas o Baile é uma coisa muito mais leve, não tem uma preparação muito forte”. 

De qualquer maneira, a corporalidade continua sendo um de seus interesses. “Eu já pensava sobre isso antes, mas o processo de Gabriela intensificou muito. Estender esse dizer que vem da voz até o corpo. Eu penso muito mais nisso para romper as barreira da minha timidez, as minhas paredes pessoais. É uma necessidade que sempre senti”, conta.

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