Lançamento

Análise: Luan Santana evolui, mas também regride em '1977'

Novo disco do sertanejo, com duetos femininos, foi lançado nas plataformas digitais; Apesar da boa sacada conceitual, a ideia se perde em algumas faixas do álbum

Robson Gomes
Cadastrado por
Robson Gomes
Publicado em 04/11/2016 às 17:30
Foto: Divulgação
Novo disco do sertanejo, com duetos femininos, foi lançado nas plataformas digitais; Apesar da boa sacada conceitual, a ideia se perde em algumas faixas do álbum - FOTO: Foto: Divulgação
Leitura:

Na noite desta quinta-feira (3), o cantor Luan Santana lançou em todas as plataformas digitais o disco Luan 1977 (Som Livre, 2016). O álbum nasceu de um conceito inovador: o título faz homenagem ao ano em que foi instituído o Dia Internacional da Mulher pela ONU. E para isso, o artista recorreu a grandes cantoras para dividir os vocais em seis faixas das 12 que cotemplam o projeto. A ideia, que parece bem embalada, não se conclui completamente, ao menos no CD.

A música que abre o disco - Dia, Lugar e Hora - foi divulgada previamente e soa como um bom cartão de visitas para 1977. Com uma letra extremamente romântica (composta pelo próprio Luan em parceria com Douglas César) e muito bem arranjada musicalmente, a canção soa diferente, indicando um certo amadurecimento do cantor, mas logo em seguida, Primeira Semana tropeça com uma bachata de letra rasa.

Eu, Você, O Mar e Ela, além de já ser conhecida do público, não surpreende muito no disco, mesmo com a pegada mais acústica. A primeira participação feminina vem na quarta faixa. Estaca Zero, com Ivete Sangalo, evidencia a boa química musical entre eles, que já fizeram vários duetos juntos. A letra e a melodia da canção segue bem a linha do sertanejo feminino, com violões e sanfonas se destacando no arranjo.

Em seguida, Sandy surge para dividir os vocais em Mesmo Sem Estar. Apesar de declarar que não gosta muito do gênero sertanejo, sua voz - que hoje versa muito mais para o MPB - consegue elevar positivamente a canção não só como cantora, mas também como uma "backing vocal de luxo" nos momentos em que Luan está solando. A faixa Fantasma, em que o cantor convidou Marília Mendonça, soa muito melhor na voz dela do que quando o anfitrião assume os vocais, salvo os momentos em que unem as vozes nos refrões finais.

CONTRADIÇÕES

Ao se basear numa ideia de homenagear as mulheres neste álbum, a faixa Acordando o Prédio soa completamente desconexa da proposta. "Será que tem como a moça gritar baixinho? / Sei que tá bom, mas as paredes tem ouvidos", diz a música que fala sobre "fazer amor escondido", fazendo o romantismo do álbum cair por terra. Em contrapartida, a oitava faixa traz Anitta para cantar RG. Uma balada bem arranjada, na medida para os dois, que executam bem.

Logo após, o dueto de Luan com Ana Carolina em Plano da Meia Noite surpreende com uma melodia menos óbvia e soando, positivamente, como a menos sertaneja do disco. No entanto, a profundidade desta faixa é quebrada com Km 70, outra canção que poderia ser facilmente descartada, ou ao menos, entrar num projeto futuro do cantor. Além disso, no fim desta música, ainda vaza o cantor mandando um sonoro "f**a". Desnecessário.

Enquanto o mau gosto imperava nesta décima faixa, Luan ataca em seguida com a linda Butterfly. Voz, violão e percussão harmonizaram com a romântica letra, uma das mais bonitas do disco. E encerrando o 1977, o dueto Amor de Interior - com a atriz Camila Queiroz - é gracioso de ouvir, quase puritano quanto a letra da canção.

A evolução musical de Luan Santana em 1977 é nítida, tanto como intérprete como a sua sonoridade, que também amadureceu. Mas o disco regride, somente, pelas incoerências de algumas faixas que, no contexto em que foram inseridas, poderiam (na verdade, deveriam) ser descartadas. Pois nem todas as faixas seguem o propósito inicial. Que era, até onde se prove o contrário, de homenagear a mulher em sua essência.

EM TEMPO: Na próxima terça-feira (8), o DVD Luan 1977 será exibido nos cinemas da rede Cinemark.

 

Últimas notícias