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MC Carol: 'UPP não acabou com o tráfico, só com o baile funk'

Funkeira de Niterói lança seu primeiro álbum, carregado com críticas sociais e verve feminista

GGabriel Albuquerque
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GGabriel Albuquerque
Publicado em 24/11/2016 às 10:23
Foto: Fernando Schlaepfer/ Divulgação
Funkeira de Niterói lança seu primeiro álbum, carregado com críticas sociais e verve feminista - FOTO: Foto: Fernando Schlaepfer/ Divulgação
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A funkeira MC Carol, de Niterói, ficou conhecida basicamente por dois tipos de letras. O primeiro grupo são demonstrações de humor surreal e delirante, como Minha Vó Tá Maluca e Bateu uma Onda Forte. As outras são canções em que Carol se expressava de forma aberta como agente da sua sexualidade, contrariando a ideia de pureza, castidade e passividade imposta às mulheres por séculos – como Meu Namorado é Mó Otário e Vou Tirar sua Virgindade.

Essa verve política levou a música de Carol para além dos morros, alcançando também jovens universitários de classe média. Ela foi recebida como símbolo de empoderamento feminino e de autoafirmação da mulher negra, periférica e fora do padrão hegemônico de beleza. É desse contexto que emerge Bandida, o primeiro álbum de Carol, lançado em todas as plataformas de streaming.

O disco traz novas versões de músicas antigas (Prazer, Amante do seu MaridoJorginho me Empresta a 12O Amor Acabou) e faixas novas produzidas pelo DJ Leo Justi, conhecido por misturar o funk com a música eletrônica bass e trap.

PROTESTO

As novas músicas são faixas de protesto ou engajamento claro. Não Foi Cabral critica o ensino tradicional da História do Brasil e reivindica o espaço dos indígenas. Delação Premiada é uma crítica à política de guerra às drogas e às Unidades de Policia Pacificadora (Na televisão/ A verdade não importa/ É negro, favelado, então tava de pistola). E 100% Feminista, com a rapper curitibana Karol Conká (Eu tinha uns cinco anos, mas já entendia/ Que mulher apanha se não fizer comida/ Mulher oprimida, sem voz, obediente/ Quando eu crescer, eu vou ser diferente”).

“Minha primeira música foi uma música politizada, que foi Vou Largar de Barriga. Daí fui pro funk cômico porque eu gosto disso, tipo Gorila & Preto, Vuk Vuk. Eu gosto desse tipo de funk. Aí eu comecei a fazer música cômica e agora, quando eu fiz Não Foi Cabral, teve uma entrevista e gerou repercussão maior”, diz Carol.

Em meio aos funks cômicos, essa abordagem engajada e militante sempre foi um interesse dela. “A Delação Premiada eu queria largar uma música sobre esse assunto há muito tempo, mas era perigoso cantar sobre esses coisas (violência policial) morando no morro. Hoje em dia moro próximo, mas não moro lá em cima. É diferente de você morar na comunidade”, explica.

Ela mantém firme o discurso contra o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). “A UPP não acabou com o tráfico, acabou foi com o baile funk. E o baile gera emprego. É o DJ, o MC, o produtor, entre outros. Quantas pessoas que estão no funk e poderiam tá fazendo coisa errada? A UPP conseguiu acabar com o baile funk, mas não conseguiu acabar com as armas, as drogas”.

Ela vê uma aceitação maior do funk, mas que ainda há preconceitos a serem quebrados. “Melhorou, mas ainda existe (preconceito). É errado porque o funk fala das mesmas coisas que o rap fala, que o reggae fala, que o forró fala. O reggae e o rap falam sobre droga e ninguém diz nada. É ridículo dizer que o funk não é cultura”, argumenta. E completa: “o funkeiro só é aceito quando ele começa a cantar funk pop com bailarina atrás, quando tem um corpo bonito, quando tem um cabelo bonito. Aí, ele é aceito”.


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