R&B futurista

Dawn Richard e Tinashe brilham com novos lançamentos

'Redemption' e 'Nightride' mesclam gêneros e expandem repertório das cantoras

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 01/01/2017 às 11:00
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'Redemption' e 'Nightride' mesclam gêneros e expandem repertório das cantoras - FOTO: Reprodução
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De Frank Ocean a Solange, o chamado rhythm & blues alternativo pautou as discussões e “o som” de 2016. Em um ano de estranhezas e incertezas, a heterogeneidade de artistas que desconstroem (e reconstroem) o r&b e, assim, influenciam a indústria como um todo, como é visível nos ótimos álbuns Lemonade, de Beyoncé, e Anti, de Rihanna. Dentro deste cenário, dois nomes se destacaram pela excelência de seus trabalhos, apesar de não receberem o mesmos holofotes dos nomes citados anteriormente: Dawn Richard e Tinashe, Redemption e Nightride, respectivamente. 

Proveniente do grupo pop Danity Kane, formado em um reality show, Dawn Richard desenvolve, desde 2012, um projeto marcado pela infusão da dance music com hip hop, aliado à estética e temas ligados ao afrofuturismo, movimento que floresceu nos anos 1960 e que mescla o resgate das mitologias africanas com a tecnologia e, principalmente, a ideia de tatear o inexplorado.

Esse caráter ficou mais explícito a partir de Goldenheart (2013), primeiro álbum de uma trilogia que conta ainda com Blackheart (2015) e se encerra com Redemption (2016). O projeto foi produzido de forma independente pela cantora.

O álbum mais recente é resultado da maturação de seus antecessores e continua o mergulho de Dawn na investigação dos relacionamentos e da solidão na pista de dança, como elucida nas ótimas Love Under Lights, Black Crimes e Voices. 

Como pontuou o site Pitchfork, a música de Dawn soa como um dance-pop apocalíptico com vocais que soam como uma interseção de Björk com Brandy. A sensibilidade criativa da americana pode ser sintetizada na excelente LA, faixa que se inicia marcada por sintetizadores e se transmuta em uma ode aos anos 1970, com a entrada da banda comandada por Trombone Shorty, emulando a cidade de nascença de ambos, Nova Orleans.

Assim como fez em Blackheart, com a música Billie Jean, de Michael Jackson, Dawn dá voz a outra figura feminina icônica da música pop em Hey Nikki, resposta a Darling Nikki, de Prince. 

Passeio noturno

Assim como Richard, Tinashe tem sido um nome reverenciado no cenário alternativo, mas que não encontrou seu lugar junto ao grande público. Seu disco de estreia, Aquarius (2014), figurou em praticamente todas as listas de melhores do ano. O álbum reunia dois lados da cantora: sua sensibilidade para as pistas de dança, como no hit 2 On, e seu interesse em batidas minimalistas e na construção de uma atmosfera etérea.

Nightride, primeira parte de um projeto que será sucedida pelo álbum Joyride, evoca às primeiras mixtapes da cantora, produzidas por ela em seu quarto. Em faixas como Sacrifices, C’est La Vie, Soul Glitch e Sunburn, marcadas pelo minimalismo da produção, a voz dela soa elusiva. A atmosfera é onírica e noturna, como sugere o título do álbum (passeio noturno, em tradução literal).

Fã de Janet Jackson, ela se aproxima das pistas de dança em Company, Ride of your life e Party Favors. Não são, no entanto, canções efusivas, aproximando-se do hip hop e dos melhores momentos de Drake e The Weeknd. No universo de Tinashe, as luzes de estrobo parecem reforçar que ela está em um baile de uma pessoa só. Porém, a solidão não é vista como um ponto negativo. É, antes de tudo, parte de uma jornada de autoconhecimento.

“Eu não vou ser ignorada”, declara Tinashe em Sacrifices, um dos destaques da mixtape. Ao ouvir Nightride, fica difícil negar essa afirmação.

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