Kurt Cobain, líder do grupo de rock Nirvana, completaria, nesta segunda-feira, 50 anos de idade se não tivesse cometido suicídio em 5 de abril de 1994. Duas décadas depois, sua obra e influência continuam vivas e refletem na nova geração.
Com um tiro na cabeça em sua casa de Seattle, nos Estados Unidos, Kurt Cobain acabou com sua vida, com seu sofrimento, com o Nirvana e o movimento grunge.
E mesmo o rock, que ajudou a renascer das cinzas com "Nevermind", diamante bruto lançado em 1991 e que vendeu mais de 30 milhões de cópias no mundo.
"Foi um dos últimos a ter feito algo novo", considera o jornalista e músico francês Stan Cuesta, autor do livro "Nirvana, une fin de siècle américaine" ("Nirvana, o fim do século americano"), reimpresso esta semana em uma versão atualizada.
"Continua a ser o artista musical mais importante das últimas duas décadas, apesar de o ser apenas por este disco", afirma por sua vez Charles R. Cross, autor de três livros sobre o artista.
De acordo com o jornalista americano, "a maneira como Cobain escrevia suas canções tornou-se um modelo. Ele mostrou que poderíamos expressar emoções dolorosas, a raiva, falar sobre sua depressão ou até mesmo coisas horríveis como estupro. O impacto continua a ser enorme entre muitos artistas".
HIP HOP
Em uma entrevista à revista britânica New Musical Express, Lana Del Rey afirmou em 2011 que Cobain era "sua primeira inspiração para não ceder aos compromissos da minha música e meus textos". A prova de que a sua herança está entre os artistas contemporâneos de diferentes estilos musicais.
Ainda mais surpreendente, o hip hop retomou muito de Nirvana nos últimos anos. O rapper Jay-Z chegou a versionar a letra de "Smells Like Teen Spirit" em sua canção "Holy Graal" em 2013.
"É algo relativamente recente", afirma Charles R. Cross. "No início das anos 1990 não contecia isso, e, atualmente, mais de 50 artistas estão listados no site whosampled.com por ter aproveitado o repertório do grupo".
Cobain se tornou muito rapidamente, ainda que contra a sua vontade, o ícone de uma geração, e "é por vezes mais conhecido por sua imagem do que por sua música", ressalta Stan Cuesta.
"O poster de Kurt Cobain é equivalente ao de Che Guevarra. Muitos são aqueles que o tem em seus quartos, sem necessariamente conhecer a história de Che, e muito menos a música de Nirvana."
Cobain teria, muito provavelmente, detestado esta herança póstuma. Mas, se ainda estivesse vivo em 2017, na era da internet e de uma música composta na frente da tela de um computador ao invés da garagem, que artista ele teria sido?
VIRADA MUSICAL
"Nirvana não teria durado muito tempo", acredita Stan Cuesta. "Ele já o dizia na época. O sucesso incomodava muito. Ele teria levado uma carreira solo e musicalmente diferente".
Neste sentido, o álbum "Unplugged in New York", última gravação do grupo (1994), talvez já prenunciava uma virada musical. "Ele teria feito algo mais suave, mais acústico. Sempre teve essa mistura entre pop e punk".
"Poderia ter feito algo experimental. Uma das coisas mais gratificantes a seus olhos, foi a gravação que fez com William Burroughs", afirma o jornalista.
Neste disco raro "The priest, they called him" (1993), pode-se ouvir o escritor da geração beat recitar poesia em uma música saturada interpretada por Cobain.