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Crítica: Ed Sheeran serve péssimo requentado de baladas em 'Divide'

Recém-lançado disco do cantor vai da balada ao rap e bate recordes, mas peca pelo excesso

JC Online
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Publicado em 12/03/2017 às 11:37
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Recém-lançado disco do cantor vai da balada ao rap e bate recordes, mas peca pelo excesso - FOTO: Foto: Divulgação
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T he A Team, a música que lançou Ed Sheeran, em 2011, era um single altamente estranho para o mercado mainstream de entretenimento: uma balada de voz e violão sobre uma prostituta indigente viciada em cocaína. Apesar disso, a canção chegou ao top 5 das paradas e cravou o nome do cantor e compositor no panteão do pop. Desde então, Sheeran recebeu elogios de Elton John e fez músicas ou colaborou com os mais diversos artistas, como The Weeknd, Justin Bieber, One Direction, Taylor Swift e o produtor grime Wiley.

Na última sexta-feira (3), Sheeran lançou ÷ (pronuncia-se Divide), seu terceiro álbum. E já é hit. Em menos de uma semana, o disco bateu a marca de 1 bilhão de visualizações no YouTube, cravando o recorde de disco mais ouvido em 24 horas no Spotify e deve estrear em primeiro lugar na lista de mais vendidos da Billboard – posição que Shape Of You já ocupa no ranking de singles.

MISTUREBA

A característica principal de Divide é a mistura de estilos. Por circular entre músicos de gêneros diferentes, ele traz a levada vocal de rap (em Eraser), suas influências de Van Morrison e Eric Clapton (Happier), a batida do R&B (New Man), a sua linhagem irlandesa (Galway Girl) e, claro, várias e várias baladas românticas acústicas no piano e violão.

Mas o que poderia ser o forte da música de Ed Sheeran é na verdade o que a derruba. Divide abarca uma variedade de gêneros, mas nenhum de modo profundo, renovador ou minimamente coeso. Chega a ser mesmo embaraçoso ouvi-lo (tentando) cantar rap, sem qualquer vestígio de ginga e balanço. Quando vai para as baladas lentas, sua zona de conforto, os resultados são menos desastrosos, como Supermarket Flowers, sobre a morte de sua avó. Ainda assim, a maior parte – como Perfect e Hearts Don’t Break Around Here – é puro sentimentalismo barato e piegas. Castle On The Hill, por sua vez, é mera emulação dos clichês do rock de arena do U2.

Atirando para todos os lados, o álbum parece mais um catálogo das tendências mais previsíveis do pop atual. Ou melhor, das supostas tendências. Porque o pop vive uma reinvenção estética (notável em álbuns recentes de Rihanna, Sia, Miley Cyrus, Beyoncé) e um impasse político (de Lady Gaga e seu “patriotismo” no Super Bowl à afirmação negra de Beyoncé e rappers como Kendrick Lamar, Migos e Future, passando pela inclusão de personagens gays em animações da Disney) em que as conven- ções são viradas ao avesso. Diante desta encruzilhada, Divide oferece apenas um (péssimo) requentado das baladas do U2 e do Coldplay (com aquele mesmo piano), invariavelmente com a mesma subjetividade do “homem de coração partido e paixão platônica”. É a trilha sonora das grandes lojas de departamento e de powerpoint romântico do YouTube.

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