17 de abril de 2007. Quem é fã da dupla Sandy e Junior sabe que nesta segunda-feira (17) completam-se dez anos de um dia amargo e difícil para quem acompanhava a carreira dos irmãos de Campinas. Através de uma coletiva de imprensa e um vídeo publicado no site oficial dos artistas, eles anunciaram aquilo que os fãs não queriam ouvir: Sandy, com 24 anos na época, e Junior, com 23, estavam dispostos a encerrar a carreira em dupla. Com ele, viria um CD e DVD Acústico MTV e uma turnê de despedida do álbum pelo país até o fim daquele ano, quando fizeram, enfim, o último show em São Paulo no dia 18 de dezembro.
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Para muitos, a dupla deixou um legado de boa música, bom exemplo de irmãos e uma carreira permeada por um sucesso estrondoso. E poucos foram aqueles que fizeram parte daquela trajetória de perto, convivendo o dia a dia com os filhos de Xororó e Noely. Por isso, o Jornal do Commercio foi atrás e conseguiu falar com três pessoas que viveram com os artistas nos bastidores: o diretor musical Otávio de Moraes, o saxofonista Milton Guedes e o ator Igor Cotrim, que fez o Boca, no seriado Sandy & Junior, da TV Globo, entre 1999 e 2002.
OTÁVIO DE MORAES
O paulista Otávio de Moraes tinha 24 anos quando entrou da banda da dupla em 1996, onde ficou até 2004. “Um amigo (Alexandre Volpi) tocava com a dupla e me chamou pra preencher a vaga de baterista... Lembro do primeiro show: Foi em Montes Claros, Minas Gerais”, relembrou o músico. Para ele, conviver com Sandy & Junior acrescentou muito: “Foram anos muito especiais, de muita dedicação, empenho, amor... Lembrando também que eles foram parte importantíssima na minha formação musical também”.
Além de tocar na banda e ser diretor musical das megaturnês Quatro Estações e Sandy & Junior 2002 (que teve DVD gravado no Maracanã), Otávio também ajudou a compor alguns sucessos da dupla. Entre eles, Estranho Jeito de Amar: “Gravamos essa música em 2005. Nessa época eu já não fazia mais shows com eles, tinha acabado de abrir minha produtora de trilhas pra filmes. Eles me convidaram pra co-produzir o novo disco com um produtor radicado nos EUA. Gravamos o disco em Miami, mas a pré produção foi toda feita em meu estúdio em São Paulo. A (backing vocal) Tatiana Parra e o Juninho começaram a composição, que só veio parar em minhas mãos um tempo depois. Compus um pedaço, “costurei” outro… Muito bacana o processo”, relatou.
Quando Otávio soube da separação da dupla em 2007, ele enxergou com naturalidade. “Eles mesmos me contaram. Na verdade achei natural. Cada um precisava viver outras experiências, buscar outras sonoridades. Enfim… Experimentar! Me pareceu tudo muito tranquilo”, comentou. Otávio hoje é casado com Dani Mônaco, que também era backing vocal da dupla, com quem já tem uma filha. Ele garante que fala com os irmãos até hoje.
MILTON GUEDES
Bastante conhecido e respeitado no meio musical, o brasiliense Milton Guedes entrou na banda em 2002, considerado a época de auge de Sandy & Junior. “A dupla gravou várias músicas minhas e fui convidado para fazer uma participação no lançamento da Turnê Sandy e Junior 2002, no Maracanã. Com isso, veio o convite para seguir com a turnê como músico”, relembra o músico.
Milton contou para o JC como nasceu um dos grandes sucessos da dupla, Cai a Chuva, que a princípio, não era para os irmãos: “Eu havia composto esta música para o Maurício Manieri! (risos) Acho que ele nem sabe disso. Pensei no Jorge Ben Jor: “Lá fora está chovendo, mas assim mesmo eu vou correndo só pra ver o meu amor…” e imaginei o Tim Maia cantando. A letra da canção era diferente. O produtor Paul Ralphes estava selecionando repertório para a dupla – para o disco de 2001 – e me pediu para juntar o refrão Cai a Chuva com uma versão que fiz para a música Tease Me, indicada por ele. Elas se encaixaram perfeitamente ao estilo que eles estavam querendo para eles”, relatou.
Questionado sobre um momento especial que viveu nos palcos com a dupla, Milton destaca uma passagem que poucos tiveram acesso: “Cada show tinha uma força. Mas a estreia do Junior cantando Super Herói ao vivo (no Maracanã) foi especial. Todos nos abraçamos no final emocionados, pois o Junior se saiu muito bem e era muito criticado na época. Ele sempre teve muita força em cena. Só quem via os shows tinha uma ideia real do que isso representava. A Sandy sempre arrasou e os dois se completavam em cena”, afirmou.
Milton Guedes também acompanhou o processo de transição da dupla: dos megaespetáculos, megacenários e bailarinos para as turnês apenas de Sandy & Junior tocando com sua banda, como foi o Identidade Tour: “A banda teve um papel muito importante nesse amadurecimento musical. Sandy e Junior sempre foram super profissionais e nos escutavam muito. Indicávamos novos trabalhos, cantores, bandas, além de clássicos da música nacional e internacional. Com o tempo, cada um dos dois foi se identificando com um estilo diferente de música e tentavam adaptar isso aos shows”, garante.
Para Milton, a separação da dupla foi fundamental para os irmãos se encontrarem como artistas. “A busca de novos caminhos musicais de cada um foi ficando cada vez mais evidente, e todos acompanhávamos isso. Foi muito difícil ver a dificuldade em abrir mão de um projeto tão eficiente e rentável também, em nome de uma verdade musical que cada um deles buscava. Nós dávamos toda a força possível, mesmo sabendo que o processo seria delicado. Eles precisavam arriscar algo novo. Crescer como artistas individuais”. Milton deixou a banda em 2004, quando foi para a banda de Lulu Santos, mas consegue sintetizar o período que viveu com a dupla: “Eles representam o profissionalismo aliado à alegria de se fazer música. Nasceram nela”, concluiu.
IGOR COTRIM
Além da música, a série que a dupla estrelou na Globo também teve grande sucesso e repercussão na TV. Entre os personagens mais lembrados do seriado dominical, estava o bad boy Boca, vivido pelo ator Igor Cotrim.
Igor contou ao JC que tinha acabado de ser formar em Artes Dramáticas na USP quando foi chamado para fazer uma participação na série dos irmãos em dois episódios, quando o personagem era chamado de Cleosvaldo Tartari: “O nome era para ser Cleosvaldo e eu sugeri ao (diretor) Paulo Silvestrini que me chamassem de Cleosvaldo, o que foi incorporado à série e os dois episodios viraram três anos e meio”, relembrou.
O intérprete de Boca contou que não conhecia o trabalho da dupla na época, mas sabia do sucesso que faziam. “Era ótimo! Tive muita liberdade para compor a personagem e tenho muitas saudades da equipe e dos atores, era um grupo super talentoso”, disse. Igor ainda relembrou a mudança de perfil do personagem: “Ele era o antagonista , mas com bom coração apesar das trapalhadas que ele fazia. A Sandy era como se fosse o antídoto para que o Boca percebesse as coisas erradas que fazia, e também o personagem divertido da série, cheio de camadas e surpreendente”, comenta.
Entre as curiosidades nos bastidores, Igor relembra uma passagem especial: “Uma vez tive uma conversa em baixo de uma mesa com Sandy e falamos muito sobre a vida. Tanto ela como o Junior sempre foram muito educados e queridos”, conta. Igor Cotrim revela que quando soube da separação musical dos irmãos, não viu maiores problemas. “Era o curso natural das coisas. E sigo sempre torcendo para que eles cresçam ainda mais como artistas”, finalizou ele, que define a dupla atualmente como “amigos que gostaria de rever”.