Entrevista

Para Paulo André Pires, Abril Pro Rock continua sendo o maior

O produtor de um dos festivais mais antigos do Brasil conversou com o JC sobre a edição 2017 do evento

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 25/04/2017 às 20:00
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O produtor de um dos festivais mais antigos do Brasil conversou com o JC sobre a edição 2017 do evento - FOTO: Foto: Arquivo/JC Imagem
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Paulo André Pires tinha 25 anos quando produziu a primeira edição do Abril pro Rock. Em maio, ele completa 50 anos, metade dedicado a um dos festivais mais antigos do Brasil. Paulo André conversou com o Jornal do Commercio sobre a edição deste ano do APR, e traçou uma análise do mercado do rock brasileiro atual, além de comentar sobre o livro que está escrevendo.

ENTREVISTA // PAULO ANDRÉ PIRES

JORNAL DO COMMERCIO – Qual a maior dificuldade deste ano para montar a grade do APR?
PAULO ANDRÉ PIRES – Sempre é complicado, mas tomamos a decisão certa, dois dias de rock. O pop este ano só no APR Club. Estávamos tentando a Cavalera Conspiracy tocando Roots, mas não rolou porque haviam feito uma tour no Brasil, final do ano passado. Aí entrou a Suicidal Tendencies, que só podia na sexta, aí foram dois dias de rock: o sábado, tradicional, e a sexta também.

JC – Qual foi o problema que deu nos dois cancelamentos de bandas?
PAULO ANDRÉ – Principalmente amadorismo da produtora que nos ofereceu as bandas, não mais trabalharemos com eles. Temos bons parceiros nas atrações gringas e principalmente um público e um nome a zelar. Mas substituímos à altura, mesmo gastando mais do que havíamos previsto. A produtora já tinha sido paga mais de 20.000 em cachês e passagens, estamos aguardando o ressarcimento.

JC – Paulo, no que influi no Abril pro Rock essa coisa de haver grandes festivais em fevereiro, abertos ao público, com todo mundo tocando de graça no Carnaval?
PAULO ANDRÉ – Hoje influi muito. Não bastasse o Carnaval pop, em que todas as bandas de PE tocam gratuitamente, os blocos viraram festivais de música pop. Portanto, fomos por outro caminho. Investimos em noites que trazem gente de todo o Nordeste. Basta ver as caravanas no evento do APR no Face, tem pelo menos 10 de 10 cidades diferentes, fora a galera que vem por conta própria. Isso é o melhor do APR, movimentar a região toda. Não há concentração maior de bandas de rock pesado na região Norte/Nordeste. O APR continua sendo o maior, e a galera sai de longe pra ver bandas que não viriam aqui de outra forma, como a Death e a Tiger Army, por exemplo.

JC – A última banda pop que estourou no Brasil, tocando muito no rádio, foi a Los Hermanos, que apareceu no APR. A tendência do APR, então, será tornar-se um festival em que predominam cada vez mais o metal e rock pesado em geral?
PAULO ANDRÉ – Los Hermanos tocou em 1999, já voltou em 2000 como atração principal. Pitty tocou em 2003, voltou em 2004 como atração principal. Esses são os dois últimos nomes populares do rock brasileiro, que as pessoas conhecem a música e os cantores. Ambos são “crias” do APR. Mas, nos últimos tempos, não é mais via gravadora. Johnny Hooker tocou em 2009, depois em 2014, quando começou a ter projeção nacional, e Almério, que tocou em 2015, vai pro Rock in Rio com Liniker e Johnny Hooker.

JC – Mas nenhum desses estourou pra valer, tocou no rádio. Não são nomes que atraiam um grande público. Já o metal tem público certo, sabido e fiel?
PAULO ANDRÉ – Continuamos muito atentos à cena musical daqui e do interior. Nos últimos anos tivemos Almério (Caruaru), Pierre Tenório (Belo Jardim), Encanto e Poesia (São José do Egito) entre outros. O APR é um festival de música pop, mas assumidamente underground. Este pessoal tocou, sim, não no rádio, mas na internet e na TV. Cada ano é uma realidade diferente, a curadoria pode seguir caminhos diferentes do ano anterior, mas a repercussão deste ano aponta pra uma edição histórica, com shows históricos.

JC – O Suicidal Tendencies será a atração que mais levará público. Quais as outras em que você aposta?
PAULO ANDRÉ – É uma noite de rock, skate rock, punk rock clássico e psycobilly, além das bandas novas Há tempos não tínhamos uma noite tão rock sem metal. A ST é clássica e esperada. Eu diria que há anos Recife não tinha uma noite rock assim no geral. O sábado tem a tradicional diversidade com metal dominando. Mas tem Cockney Rebels que é punk clássico também.

JC – Como estamos de bandas locais? Tem bandas aqui que levem público ao APR?
PAULO ANDRÉ – Este ano apostamos numa nova geração de bandas de rock, como Serrapilheira e Diablo Angel, liderada por uma moça. A Saga HC representa a cena mais underground suburbana, sempre presente no APR. A produção musical continua incrível, mas a MPB e o rock circulam mais na noite, nos pequenos espaços, onde tenho visto as bandas daqui. Camarones foi uma das bandas novas brasileiras que mais circularam em 2016; Foca é bem articulada, representam o Nordeste junto com Mystifier, banda clássica do metal nacional e baiano. Circulam o mundo há tempos.

JC – O APR chega à 25ª edição. É seu projeto de vida, ou você pensa em um dia parar com o festival e partir para outros projetos?
PAULO ANDRÉ – Tô esperando meus sobrinhos, dessa geração que tem tudo (informação), mas não tem nada, acomodados demais, acordarem, ou meus filhos crescerem. Eu vou fazer um festival de música brasileira, principalmente, no Sertão, na fazenda da minha família. A região é muito carente, a pior música circula por lá. Nunca circulei tanto como em 2016, vi a cena musical brasileira em festivais em Brasília, Belém, Paraíso do Norte (PR), Londrina, Salvador, São Paulo, Recife, entre outras. A cena musical independente brasileira está melhor do que nunca: a produção barateou e circula nas redes, mas os gargalos e problemas são os mesmos de 24 anos atrás, quando eu era um jovem de 24 anos, querendo fazer alguma coisa pelo Recife e pela sua cena musical. Isso é bem triste, comunicação pública mofada, jabá dominando geral, juventude alienada em dois ou três ritmos musicais, não sei como ficará nossa identidade cultural em 20/30 anos.

JC – E o seu livro, o que você vai contar nele, os bastidores da música pernambucana, alguma coisa específica?
PAULO ANDRÉ – Vai se chamar Inconformados. É sobre minha parceria com CSNZ. O 1º capítulo, Manguetown, contextualiza a cidade nos anos 90. O segundo já é indo pro Rio de Janeiro gravar Da Lama ao Caos. O último capítulo se chamará A Pior Produção da Minha Vida, onde relatarei a notícia, hospital, necrotério, IML, velório e enterro de Chico Science. Não é uma biografia, é a história como ela foi, e com muita imagem.

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