Documentário

Chocho, mais velho chorão em atividade, ganha documentário

Filme celebra os 70 anos de carreira do músico

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 07/05/2017 às 3:01
foto: divulgação
Filme celebra os 70 anos de carreira do músico - FOTO: foto: divulgação
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Mais velho chorão em atividade, Otaviano do Monte, conhecido pelo apelido de Chocho, aos 93 anos de idade e 70 de música, é tema do documentário, Chocho ­ 70 anos de Cordas Musicais, dirigido por Anselmo Alves, que estreia no Cine São Luiz, amanhã, às 19h (ingressos custam R$ 3).

 Idealizado por Marcos Veloso, também responsável pela produção executiva, o documentário, de 29 minutos, além de contar a trajetória de um mestre do violão (talentoso também no cavaquinho e no bandolim), registra uma pequena parte da obra de Chocho, que teve várias composições gravadas em CD por Danda e Seu Regional de Ouro, porém continua inédito em disco solo.

 "Um historiador africano, esqueci o nome, saiu pelo continente registrando artistas que só eram conhecidos pela memória oral, fez um grande trabalho. Ele tem uma frase: cada velho desses que morre é uma biblioteca que se incendeia", o comentário é de Anselmo Alves, que dirigiu o documentário sobre Chocho. Ele ressalta esta particularidade da memória oral nos artistas populares, que deixam poucos registros na imprensa e são esnobados por músicos de outros estratos sociais:

 "Nos anos 60, o pessoal que tocava na orquestra do Canal 2, ou da sinfônica, que escrevia partituras, discriminava os músicos populares. Resta incentivar esta garotada nova pra cair em campo e registrar o trabalho deles", continua Anselmo. No caso particular de Chocho, ele aponta que uma das dificuldades é que os próprios músicos não se importam muito com seu trabalho musical que, geralmente, acontece paralelo ao exercício de outra profissão.

 Chocho, por exemplo, começou a tocar ainda criança e participou de programas de calouros, nos anos 40. Em 1952, já casado, foi morar no Rio, onde trabalhou na construção civil, como mestre de obras. De volta ao Recife (na verdade, Jaboatão), forma, com Josué Cosmo, o regional Unidos dos Guararapes, embrião do Quintal do Cosmo, onde tocou outro grande do choro pernambucano, Antônio da Silva Torres, ou Jacaré (falecido em 2005, a0s 72 anos), que chegou a ter disco lançado pela Funarte, apadrinhado por Hermínio Bello de Carvalho.

Anselmo Alves tem pelo menos mais três dezenas de docs, a maioria no segmento da cultura popular, com ênfase para o forró. Vale ressaltar que Chocho ­ 70 anos de Cordas Musicais não recebeu patrocínio, nem público, nem privado. A produção foi viabilizada num crowdfunding à moda antiga, a popular "vaquinha":

 "Começamos três meses atrás, sem dinheiro algum. Os amigos foram dando a grana, com um pouco de cada conseguimos fazer o documentário. Acho melhor assim do que entrar na fila do Funcultura, preencher toda aquela papelada Das 15 músicas do doc, oito são de autoria de Chocho, apenas uma com parceiro, No Quintal de Cosme (com Noel Tavares). O título desse choro refere-­se ao citado local, em Prazeres, Jaboatão, onde eram realizadas memoráveis rodas de chorinho.

CHORO E FREVO

 Outra lenda do choro pernambucano, Narciso do Banjo também fazia parte desta roda. Ele, assim como Chocho, foi também músico do Bloco da Saudade. Não há frevos de bloco no documentário, onde se encaixou até a Garota de Ipanema, de Vinicius e Tom, e clássicos do choro como Apanhei-­te Cavaquinho (Ernesto Nazareth), ou Tico­Tico no Fubá (Zequinha de Abreu).

 Ressalta-­se, pois, uma particularidade dos chorões pernambucanos: além de integrar conjuntos regionais, eles também integram orquestras de pau e corda, que animam os bloco líricos no Carnaval, tocando frevos de  bloco (o que, aliás, fez o bandolinista Luperce Miranda nos anos 20).

 Um documento precioso para a música, não apenas de Pernambuco, mas do País. O cartaz tem belo projeto gráfico de Hassan Santos, e desenho assinado por Sávio Araújo (que até o ano passado foi responsável pela figura do Galo da Madrugada).

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