O nome da cidade num letreiro que se assemelha ao que existe nas colinas de Hollywood, é um destaque deAlmeirim, no Pará, a 455 km em linha reta de Belém. Mas a maioria da população, que não tem condições de viajar de avião, enfrenta 36 horas de barco para fazer o mesmo percurso. Aos 19 anos, Joelma da Silva Mendes, encarou mais um dia e meio de viagem para tentar a sorte na capital. Em Almeirim, onde nasceu e cresceu, ela começou a cantar em barzinhos e bandas locais. No entanto a cidade de letreiro hollywoodiano iria demorar alguns anos para ganhar sua primeira estrela.
Durante seis anos, ela cantou na banda Fazendo Arte, já bem conhecida na capital, resolveu procurar um dos mais atuantes músicos de estúdio do Pará, Cledivan Almeida Farias, conhecido como Chimbinha: "Fui procurar ele para gravar o meu primeiro disco solo. Chimbinha tinha a equipe dele, produzia muita gente. Esse disco solo acabou sendo o começo do Calypso. No primeiro CD a gente fez sucesso e não parou mais", conta Joelma, em entrevista por telefone. Ela está divulgando Avante Ao Vivo em São Paulo (DVD e CD) pela Universal Music. Desde da ruidosa separação profissional e pessoal do ex-marido Chimbinha, Joelma já
gravou dois EPs e um CD de estúdio.
Um longo caminho desde que a banda Calypso, no final dos anos 90, na base da independência, produzia seus próprios CDs e vendia nos shows, por R$ 10, bem abaixo do que se cobrava por um disco na época: "A gente conseguia vender barato porque não tinha gravadora, custos com produção, mixagem, estas coisas encarecem muito. Fazia uma produção barata, com um produtor só para fazer tudo. Estes discos ajudaram muito na divulgação da música da Calypso", comenta Joelma, que agora não esconde o orgulho de estampar o logotipo de uma multinacional no seu trabalho: "Eles distribuem bem meu disco, dão um apoio muito
grande, na imprensa, de modo geral. É uma estrutura bem grande, o que a Calypso não tinha".
Estrutura grande também Joelma contou para a gravação do DVD. A começar pelo palco, desenhado especialmente para o show, em que a passarela que avança para o público tem formato de uma bota. Ela também contou com figurinos especialmente criados para o show, telões de altíssima definição. E não ficou por aí. Contou ainda com a participação especial de Ivete Sangalo e de Solange Almeida (ex-Aviões do Forró), além dos filhos Yago Mendes, Yasmin Mendes e Natália Sarraf. Ela repassa um repertório
de 24 músicas, incluindo o tema de abertura, produzida pelo tecladista Tovinho.
No visual, ela se afasta cada vez mais do Calypso, musicalmente sugere que pode enveredar por novos caminhos. "Hoje posso gravar outras coisas, gravar o que eu quiser, mas não quero desvincular do que acredito, do que amo fazer, da minha cultura. O que não impede que misture o calipso com outros ritmos mais modernos. Que bote um pouco do pop, de balada, uma coisa mais eletrônica, um pouco de sertanejo", diz.
Joelma confessa que não conhece pessoalmente os músicos que fazem a cena alternativa da música paraense, uma as mais celebradas do país, ou mesmo os mestres da guitarrada: "Eu não moro lá. Faz muito tempo que saí de Belém, conheço poucos artistas do Pará. Sei que os ritmos que eles tocam é diferente do que toco, mais voltado pra cumbia, do merengue, a gente
sofre muita influência".
RECIFE NO CORAÇÃO
Joelma e Chimbinha fincaram a Calypso no Recife desde o início dos anos 2000, fizeram da cidade a base do grupo. Joelma até recebeu o título de cidadã pernambucana: "Estou hoje em São Paulo, mas apenas para divulgação do DVD, continuo morando no Recife, adoro a cidade, que abraçou a gente de uma maneira muito especial. Foi lá que a gente começou pra valer", elogia Joelma, embora esteja tentada a se mudar para a capital paulista, onde a dupla explodiu para o sucesso nacional.
O ex-parceiro leva algumas alfinetadas em canções como Game Over, que abre o repertório: "Para de chorar / Pra mim não deu, valeu, adeus, bye, bye / Vê se me esquece, desencana, não te quero mais / Desilusão, não tem perdão/ Agora é game over pra você". Sem afirmar explicitamente, ela insinua que o Calypso é ela, e que a banda não se ressente da guitarra de Chimbinha: "Fiquei com 99,9% de tudo. Os músicos, todo mundo ficou comigo. Se escutar meu CD vai dizer assim não mudou nada. Vários guitarristas do Pará têm o mesmo estilo. É o mesmo que pegar os músicos de sopro do Recife. Todos tocam frevo maravilhosamente bem",ironiza.
À pergunta sobre uma hipotética reunião da Calypso, a resposta de Joelma é curta e grossa: "De jeito
maneira. Minha carreira está firme e forte, graças a Deus".