Biografia

Paul McCartney ganha sua mais minuciosa biografia

Autor foi um dos críticos mais duros do trabalho solo de Paul

JOSÉ TELES
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Publicado em 21/05/2017 às 13:14
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Autor foi um dos críticos mais duros do trabalho solo de Paul - FOTO: foto: reprodução
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Paul McCartney - ­ A Biografia, de Phillip Norman chega às livrarias brasileiras, enquanto o biografado, em pessoa, aterrissa aqui em outubro, para quatro apresentações (desta vez incluindo Salvador no roteiro). Norman é autor de duas elogiadas biografias, uma dos Beatles (Shout) e John Lennon ­- A Life (lançada no Brasil). A de Paul McCartney, publicada em 2016, foi alvo de bastante elogios.

 Um veterano do jornalismo musical da Inglaterra, Phillip Norman era a pessoa menos indicada para escrever sobre McCartney. O próprio relacionamento do jornalista com os Beatles em geral, e com Paul McCartney em especial, é uma história à parte.

 Em Dezembro de 1965, Phillip Norman tinha 22 anos e era repórter do Northern Echo, jornal que circulava no Nordeste da Inglaterra, quando os Beatles vieram fazer uma apresentação na cidade. Já era o grupo mais famoso do mundo e, teoricamente, um jornalista do interior teria poucas chances de chegar perto deles. Mas eram outros tempos.

 Norman e outro repórter estavam na calçada, onde ficava a entrada lateral do clube, quando Paul, Ringo, John e George desceram de um automóvel, e logo sumiram porta adentro. Não havia seguranças, nem a porta foi trancada. Ele e o colega entraram e chegaram até o camarim onde estavam os quatro Beatles. Súbito surgiu Paul McCartney. Perguntaram se podiam entrar. A reposta foi sim. Durante alguns minutos eles conversaram com Ringo, John e Paul (George, que via TV, pareceu nem notar que os dois jovens jornalistas estavam ali).

 Permaneceram no camarim até serem gentilmente convidados a sair de lá por Neil Spinall, um dos amigos de infância dos quatro músicos em Liverpool, que se tornou um dos principais nomes da equipe da banda (foi um dos responsáveis pelos negócios do quarteto até 2008, quando faleceu em conseqüência de um câncer).

 Anos depois, trabalhando no Sunday Times, Norman se recusou a fazer uma entrevista que lhe foi oferecida com Paul McCartney. Achava que o ex-­beatle tinha perdido o dom de escrever canções com a qualidade das que gravou com a banda. Chegou a fazer uma paródia de Mull of Kintyre, sucesso de McCartney, que ele mesmo considera hoje de mau gosto e que, obviamente, irritou o autor.

 Em 1979, uma longa greve parou o Sunday Times e ele decidiu escrever uma biografia dos Beatles. Claro, não conseguiu falar com Paul. Shout, a biografia, foi lançada semanas antes de John Lennon ser assassinado, e teve as vendas incensadas pela tragédia. Norman foi convidado para uma entrevista no programa Good Morning America, e aproveitou para cutucar mais uma vez Paul, afirmando, em cadeia nacional, que Lennon não era um dos quatro, mas sim três quartos dos Beatles, o que lhe angariou a amizade de Yoko, e lhe abriu caminho para que escrevesse a biografia de John Lennon.

 Mais uma vez, Phillip Norman procurou o agente de Paul McCartney a fim de entrevistá­lo para o livro, mas achava difícil que ele aceitasse. Paul detestou Shout (saudado pelo New York Times como a biografia definitiva dos Beatles). Para sua surpresa, o telefone tocou, ele atendeu e era alguém, com pesado sotaque do Norte da Inglaterra, que se identificou como Paul. Norman teve a cara de pau de perguntar: "Paul de quê?".

 McCartney disse que ligou curioso para falar com o cara que detestava ele, mas no final concordou em responder perguntas por e­mail. John Lennon ­- The Life foi publicado em 2008 (ganhou edição brasileira em 2009, também pela Companhia das Letras). Em 2015, Phillip Norman e Paul McCartney já se falavam sem rancor. McCartney até ligou para ele, em 2012, avisando que estava gravando um disco de inéditas.

 Norman decidiu escrever a biografia de Sir McCartney ao se dar conta de que todas até então publicada eram falhas, incluindo Many Years from Now, escrita Barry Miles, a história oficial, feita com as bênçãos do biografado. Ela seria também, para empregar uma expressão na moda, um "companion", grosso modo, complemento à biografia de John Lennon.

 Entrou em contato com o agente de Paul, Stuart Bell, dizendo­-lhe o que pretendia. Queria entrevistar McCartney. Caso não aceitasse, faria o livro assim mesmo, entrevistando pessoas que conviveram com ele. Paul estava em turnê nos EUA, disse­-lhe o agente. Dias depois Norman recebeu um email: "Caro Phillip, obrigado por sua nota. Sinto-­me feliz por lhe dar minha aprovação tácita, talvez Stuart Bell possa lhe ajudar. Tudo de bom. Paul".

 DETALHES

 A aprovação tácita não implicava em colaboração pessoal, até porque isto ele já havia feito na biografia assinada por Barry Miles. A fase mais interessante e importante da carreira e da obra de McCartney já foi exaustivamente esmiuçada, portanto, Phillips traz à tona pouca informação inédita. Tudo bem, provavelmente muita gente não soubesse que o Belo Beatle (como ele era chamado nos anos 60) tenha fumado maconha durante 40 anos, diariamente), mas quando foi preso no Japão, em 1980, por porte da substância, ele estava com uma libra da erva, quase meio quilo. Apesar da fama, McCartney ficou numa cela com presos comuns, e ganhou a amizade deles, ofertando-­lhes mimos musicais como, por exemplo, uma interpretação a capela de Yesterday.

Phillips detém-­se em pequenos detalhes do biografado. Aponta a memória privilegiada de Paul McCartney para música. Quando estava na Nigéria para gravar o que seria o álbum Band on the Run, ele foi vítima de assaltantes, que lhe levaram uma pasta com todas as partituras e arranjos da canções do disco.  Tinha tudo guardado na cabeça. O jornalista vai a minúcias curiosas, mas sem importância no desenvolvimento da música de McCartney com os Beatles, ou na carreira solo.

 Quando foi admitido, em 1956, nos Quarrymen, o grupo liderado por John Lennon, Paul McCartney faltou ao primeiro show, porque estava numa reunião de escoteiros. Paul McCartney ­- A Biografia não é um complemento para John Lennon -­ Uma Vida, é o outro lado da mesma moeda. A partir de 6 de julho de 1957, o dia em que John e Paul se conheceram, as vidas dos dois seguem juntas, como dois afluentes que desaguaram num rio caudaloso. Suas biografias comungam muitos episódios entre si.

 No entanto, enquanto a de Lennon tem o final que todos conhecem, a de McCartney, tudo indica, terá um feliz. Tanto McCartney considera a música dos Beatles o ápice de sua carreira, que nos shows elas formam o grosso do repertório. Os Beatles foram um todo infinitamente maior do que as partes que o formaram. Phillip Norman é um bom biógrafo, mas nem ele, nem ninguém mergulhou com profundidade no que aconteceu entre a primeira fotografia do quarteto com Ringo Starr, tirada em 22 de agosto de 1962, e a derradeira, coincidentemente, batida em 22 de agosto de 1969

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