A saída, em 2015, de Zayn Malik do One Direction, boy band mais bem sucedida da atualidade, desencadeou um processo que parece regra para esses conjuntos musicais. Unidos quase sempre por produtores e com ambições e gostos musicais distintos, em determinado momento, seus membros buscam trilhar caminhos solo, quase sempre tentando se dissociar musicalmente de seus companheiros. É, agora, também o caso de Harry Styles, outro integrante proeminente da banda, que lançou semana passada álbum que leva seu nome.
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Surgido em 2010 na versão britânica do programa de talentos The X Factor, o One Direction é formado, desde a saída de Zayn, por Niall Horan, Liam Payne, Harry Styles e Louis Tomlinson. Completos desconhecidos antes do programa, cada um concorreu a uma vaga solo, mas foram colocados juntos pelo produtor Simon Cowell, que viu nos adolescentes a possibilidade de criar um novo fenômeno aos moldes dos Backstreet Boys ou ‘N Sync. Deu certo.
Porém, como Robbie Williams e Justin Timberlake já mostraram anteriormente, as boy bands costumam funcionar tratando seus membros como arquétipos: o sedutor, o engraçado, o calmo, o misterioso e por aí vai. Não há espaço para quebrar essa ilusão. Aliás, o jogo de espelhos parece ser, em sua essência, a “mágica” desses conjuntos. Porém, com o passar do tempo – e o amadurecimento pessoal dos artistas e dos fãs – essa fórmula costuma se esgotar.
Ao sair do One Direction, Zayn afirmou que não tinha espaço para se expressar na banda. Os quatro membros, porém, disseram que o coletivo não sufocava suas identidades, permanecendo juntos, mas, logo depois, colocando a banda em pausa para se dedicar aos projetos pessoais.
Desde então, Niall, Louis e Liam lançaram singles, todos com a premissa de estabelecer seus verdadeiros “eu”. Porém nenhum chamou atenção como Harry Styles, cujo álbum de estreia mostra uma angústia artística mais interessante.
IDENTIDADE
Se Zayn e Liam abraçaram o r&b e hip hop, investindo em letras de forte teor sexual, e Niall flertou com o folk, o rock setentista, com inspiração dos Rolling Stones, é a base de Harry Styles. No álbum, o cantor britânico tem a oportunidade de mostrar com mais clareza sua potência vocal e, acima de tudo, sua qualidade enquanto intérprete.
Com apenas dez canções, o disco é conciso e usa bem as referências do cantor. As composições, porém, não se afastam da tríade temática “mulheres enigmáticas, relacionamentos disfuncionais e deslocamento no mundo”. Woman, cuja introdução com piano remete à obra de Prince nos anos 1980. Carolina e Only Angel, com pegada influências no rock setentista, também se destacam.
Sign of The Times, primeiro single, talvez seja uma das que melhor apresenta sua a potência vocal. Minimalista, From The Dinning Table mostra que ele sustenta bem uma canção sem grandes aparatos de produção.
Ao inverter as expectativas em relação à sua estreia solo, assim como Justin Timberlake fez ao abraçar o hip hop, para que seus contemporâneos busquem seus próprios estilos. A impressão que fica é a vontade de Styles de abandonar de vez o mundo pop e abraçar o status de rock star. Se este álbum for um indicativo do que vem pela frente, é quase certo que ele atinja esse objetivo.