Entrevista

Fafá de Belém: "Cafona é ter preconceitos"

A cantora discorre sobre os 40 anos de carreira - celebrados em show hoje, no RioMar

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 23/05/2017 às 17:55
Caio Galucci / Divulgação
A cantora discorre sobre os 40 anos de carreira - celebrados em show hoje, no RioMar - FOTO: Caio Galucci / Divulgação
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A cantora paraense Fafá de Belém celebra 40 anos de carreira (e 60 de idade) com a turnê do novo Do Tamanho Certo Para O Meu Sorriso. No show de hoje, às 21h, no Teatro RioMar, Fafá se apresenta sob a direção inusitada de Paulo Borges - o homem de moda responsável por recentes shows memoráveis da MPB como o multimídia Rainha dos Raios, de Alice Caymmi. Acompanhada pelos paraenses Manoel e Felipe Cordeiro, pai e filho, ela celebra uma espécie de afirmação de suas origens e, transitando entre o sofisticado e o popular, avisa: "Cafona é qualquer tipo de preconceito!". Veja o resumo da entrevista concedida ao repórter Bruno Albertim:

JORNAL DO COMMERCIO – Há oito anos que você não entrava em estúdio para gravar inéditas. Em que medida este disco é um reencontro ou reafirmação da relação umbilical com a música paraense?
FAFÁ – Exatamente por não gostar muito de estúdios e, sim, de estar nos palcos, interagindo com o público, achei que seria a hora mais propícia para um álbum de inéditas. E num momento tão emblemático, quando completava quatro décadas de carreira, resolvi passear entre memórias, perfis, pelas coisas da minha terra e, naturalmente, pela minha própria trajetória. Mas tudo com um novo olhar, um frescor...

JC – Por que a opção de fazer o show apenas com Manoel e Felipe Cordeiro? Isso simboliza um retorno mais afirmativo a suas origens na música paraense?
FAFÁ – Já vinha trabalhando com eles, de vez em quando, no Brasil e exterior. Tenho uma admiração enorme pelo talento de Manoel e Felipe. Uma admiração que cresceu ainda mais depois de ter gravado com eles. Foi delicioso contar com a participação do “combo Cordeiro” no álbum, e está sendo incrível dividir o palco com eles. O duo está conquistando o público que comparece aos meus espetáculos com seu virtuosismo, sonoridade e energia.

JC – Você começou a cantar mesmo nas serestas e saraus na porta de casa, em Belém?

FAFÁ – Sim, nos saraus, serestas, festas e reuniões familiares... E nem pensava, naquela época, em ser cantora...queria era ser psicóloga. Mas adorava as reuniões, a cantoria e gostava do convívio com os adultos.

JOHNNY HOOKER

JC – De fados a Chico Buarque, sem esquecer de temas que você imortalizou no patrimônio afetivo da música mais popular brasileira, os clássicos sempre encontraram abrigo em sua voz. Mas você parece não querer ficar apenas na zona de conforto, amparada pelos consagrados, e tem ido em busca do novo....Como se deu, por exemplo, seu interesse por Jonnhy Hooker, cuja canção, "Volta", está nesse novo disco e DVD?

FAFÁ – Adoro o trabalho do Hooker, e aprecio desafios. Nunca fui adepta de zonas de conforto, muito pelo contrário. Por isso, talvez tenha sido (e continue sendo) tão patrulhada. Gravei lambada quando ninguém nem sabia do que se tratava, sertanejo quando nem se imaginava que o estilo musical iria ser esse estouro que é hoje (a primeira canção sertaneja que entrou nas programações das FMs cariocas era interpretada por mim), e optei por gravar um repertório mais popular num momento em que achavam que só continuaria a gravar os grandes ícones da MPB. Ícones que eu amo, continuo a reverenciar e a gravar. Mas a música brasileira é rica em gêneros, estilos, talentos de diferenciados naipes, e adoro explorar possibilidades. Além disso, tenho muito orgulho de ser uma cantora popular!

JC – Paulo Borges, embora um diretor relativamente recente no cenário musical, já faz história, como aconteceu no espetáculo Rainha dos Raios, de Alice Caymmi. Por que o interesse de trabalhar com Borges, um diretor de tantos recursos cênicos, neste momento tão especial da carreira?

FAFÁ – Paulo Borges tem um reconhecido talento, só poderia acrescentar. É um diretor criativo, tem bom gosto, e trouxe elementos que auxiliaram muito na confecção deste espetáculo. Um show que, conforme mencionei, tornou-se emblemático pra mim por conta desses números redondos (40 anos de carreira, 60 de idade). Vi alguns dos seus trabalhos e, principalmente, o que fez no espetáculo da Alice Caymmi. Por isso, não tive dúvidas em confeccionar essa parceria.

JC – Como se deu a escolha de repertório?

FAFÁ – Há uns três anos já vinha pensando em fazer um trabalho com esse frescor e um novo olhar...Paralelamente, como também disse, vinha trabalhando, de vez em quando, no Brasil e exterior, com o duo Cordeiro. Foi tudo tão natural e espontâneo que o CD que deu base ao DVD que agora estamos lançando nesta turnê acabou faturando os troféus de Melhor Álbum e Melhor Cantora – categoria Canção Popular do "Prêmio da Música Brasileira.

JC – Nesses 40 anos de carreira, você tem sido tão sofisticada quanto extremamente popular; Hooker uma vez me disse que te admira justamente pela falta de medo de rótulos. Pergunto (já que você está cantando Meu Coração é Brega), houve, em algum momento, o receio de ser patrulhada ou taxada de brega em sua carreira?

FAFÁ – Sou uma cantora popular e tenho o maior orgulho disso. O politicamente correto nunca esteve no meu dicionário e, sim, Johnny tem razão... jamais apreciei rótulos!Também não temo ser patrulhada porque enfrentei e enfrento isso até hoje. Acho que cafona é cultivar preconceitos...de quaisquer espécies.

JC - Você, que está no Carnaval, nas festas de rua, nos teatros, no Festival de Inverno de Garanhuns...há algo de especial em cantar para o público pernambucano?

FAFÁ – O público pernambucano tem lugar cativo e especial em meu coração. É caloroso, tem uma energia contagiante e sabe receber os artistas com respeito e carinho.

Show Do Tamanho Certo para o Meu Sorriso, com Fafá de Belém, hoje, 21h. Teatro RioMar. Ingressos: Balcão nobre: R$ 60 (meia) e R$ 120 (inteira)/ Plateia alta: R$ 70 (meia) e R$ 140 (inteira); plateia baixa: R$ 80 (meia) e R$ 160.

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