Entre The Moon 1111 e Ottomatopeia, que Otto lança hoje nas plataformas digitais, passaram-se cinco anos,durante os quais ele não esteve ocupado apenas em fazer shows e gravar, mas também em acompanhar a situação política do País, indignando-se e opinando, em entrevistas ou nas redes sociais. "Há cinco anos este país vem neste caos. Se você me perguntasse cinco anos atrás se eu estava entendendo alguma coisa, diria que não. Esse disco reflete esse tempo de tortura, de falta de democracia. É muito na minha parada, o que estava na minha cabeça. Mas é um disco de amor, de muito sentimento", resume.
Ottomatopeia (independente), produzido por Pupillo (coautor com Otto da maioria do repertório), foiagregando convidados enquanto era esculpido. Numa participação de Otto em reunião do movimentoProcure Saber, em Brasília, ele trouxe Roberta Miranda para cantar com ele o sucesso Meu Dengo. "Roberta, minha rainha, veio, gravou, foi um encontro maravilhoso, que teve participação de Céu, nos vocais. Sempre gostei do canto dela, esta música vendeu mais de um milhão de cópias". Meu Dengo, do álbum de estreia de Roberta Miranda, em 1986, tinha sido cantado pelos dois, num dueto virtual, para a trilha do filme É Quase
Samba (2015), de Ricardo Targino.
Vindo do passional Esta Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos (2009) e do citado e conceitual The Moon 1111 (2012), Otto volta com um álbum mais próximo do rock and roll e do pop, com linhas melódicas que o aproximam de Condon Black (2001). É o de canções mais radiofônicas entre os seis discos de estúdio quelançou. "Realmente é bem rock and roll, como era a turnê Recupera, que considero a antessala de Ottomatopeia. Tem a pegada que eu queria, o Brasil que eu vejo. Neste tempo reaça de Trump, de Temer, tenho que cantar o amor, penso muito no que as pessoas estão passando neste momento, mas não fiz um
disco panfletário", esclarece.
POLÍTICA
"Cara acho que a gente viveu uma tortura. Se não recuperarmos a democracia, o poder do voto, a gente não vai ser uma nação soberana, justa, já que tomaram o poder de um pessoa honesta, e tá ali todo mundo culpado. O que mais me preocupa é a retomada do povo para escolher seus candidatos", discursa Otto, sobre a atual conjuntura política. A "tortura" a que se refere não é física, obviamente, mas a tensão cotidiana, pelo imponderável, enquanto se assiste ao noticiário na TV, o desfecho de julgamentos, as intermináveis operações policiais da Lava Jato. "De resto, este disco este grito, é muito mais para as pessoas pensarem em amor, do que em falar de dor. Transformo este meu grito, esta tortura, em música para afagar, para refletir",
inflama-se.
Aos 49 anos, a um ano das duas décadas de carreira solo (o primeiro disco, Samba pra Burro, é de 1998), uma filha de 12 anos, uma nova namorada, Kenza Said (responsável pelas fotos da capa do álbum, e da divulgação), ele se considera no auge da criatividade: "É um trabalho de maturidade, com uma grande banda, nomes como Guilherme Monteiro, Pupillo, que está numa hora maravilhosa, Clovinho Pereira, João Carlos do cello, pernambucanos, Bruno Giorgi, que é da família Lenine, fundamental para o disco. Um trabalho que tem meu melhor momento, acho que estou escrevendo melhor, compondo melhor, estou muito feliz com o que consegui neste disco".
DISCO
Repleto de citações, com título cabalístico, The Moon 1111, com lançamento previsto para o dia 11 do mês 11 de 2011, só saiu em 2012, perdeu o impacto da coincidência numérica. Otto vinha do maior sucesso de sua carreira, o álbum Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos, e The Moon 1111 não conseguiu repetir o feito. Ottomatopeia, embora evoque romantismo alemão, pop africano e tenha sido inspirado no sombrio cenário político e econômico brasileiro, é o disco mais simples de Otto, o mais pop, com mais canções radiofônicas.
Da levada afro-latina de Bala e do compasso abolerado de Soprei, ao pop rock latino Atrás de Você, puxado por um riff chiclete, uma que promete ser hit. O mais pop disco da temporada. Tão ensolarado que nos leva a esquecer o clima invernal da atual conjuntura brasileira