ARTE SONORA

Performance: artistas exploram possibilidades do corpo com o som

Misturando dança, teatro e música, pernambucanos reiventam as relações entre movimento e som em seus trabalhos

GG ALBUQUERQUE
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Publicado em 17/09/2017 às 10:00
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Misturando dança, teatro e música, pernambucanos reiventam as relações entre movimento e som em seus trabalhos - FOTO: Foto: Reprodução
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“O que me interessa é a potencialidade de se criar não só com uma coisa, como pensar ‘apenas faço dança, então vou ver só meus movimentos’. Mas que energia é essa que eu trago com minha dança? Que ruídos são esses do meu pé pisando no chão? Que cheiro é esse que entra no lugar que a gente está assistindo? Como isso vai mudar o jeito que a gente percebe um trabalho? Me interessa também essas chances, esses acidentes”, diz a artista de performance Luciana Freire D’Anunciação.

Além dos trabalhos ligados a corpo e dança, Luciana é um dos artistas pernambucanos que exploram o embricamento entre som, corpo e movimento em seus trabalhos – como The Sound Between, solo de performance em que, munida de um microfone e uma caixa acústica, busca investigar a percepção humana através do fenômeno acústico feedback (ou microfonia).

“O que me interessa desse híbrido é que a música tem a capacidade de potencializar a percepção, de maneira que uma experiência passa por uma apreensão mais intuitiva, menos racional, que é uma coisa que me interessa muito”, diz ela, pontuando que busca “o corpo como sensível”. “Eu gosto de trabalhar o corpo e de provocar trabalhos que atravessem o lugar do conceito. Me interessa a percepção antes da conceitualização. Claro que a gente conceitualiza tudo, é normal do ser humano tentar entender. Mas eu gosto muito da outra parte, o mistério de sentir uma conexão (boa, ruim, provocativa) e que não necessariamente você precisa saber o que é. E isso pode ser uma escolha política, chamando atenção para essa potência de corpo que muitas vezes é menosprezada porque a qualidade conceitual ou uma coisa mais acadêmica tem mais valor”.

Marie Carangi tem seguido no mesmo caminho com a sua Teta Lírica, performance em que toca um theremim com os seios, ao invés das mãos. “A teta tem sido símbolo recorrente no meu trabalho exatamente pela necessidade de transformar sua simbologia em outras possibilidades. É um membro que se limita, se restringe. Uma parte do corpo que precisa ser escondida, que não deve se manifestar, e apenas é escondida. O fato é as tetas serem capazes de ter voz”, destaca ela, que em julho circulou com o trabalho pelo Sudeste – onde tocou ao lado das musicistas Ava Rocha e Bella e até fez uma oficina de Teta Lírica.

O contato e a voz

Em Contato Sonoro, Flávia Pinheiro vai a espaços públicos produzindo sons com piezo (um microfone de contato), seja tocando em si própria ou em objetos e outras pessoas. Ao entrar em contato se constrói um grande circuito analógico entre os corpos, proporcionando uma aproximação através do som. “Eu acreditava que as pessoas podiam se apropriar dos objetos obsoletos, isso como uma metáfora dos sistemas corporativos, financeiros, políticos. A ideia era como pensar o dispositivo para cada um fazer a própria performance dela, micropolíticas do cotidiano. A ideia utópica de cada um é conseguir hackear o próprio corpo”, explica.

Outro nome atuante nesse cruzamento das categorias de arte de performance e som é Conrado Falbo. Apesar de ser conhecido pelo trabalho no teatro e dança, ele iniciou sua trajetória artística na música, estudando violão clássico – até iniciou uma graduação em música na UFPE. Mas ele se achou quando entrou em contato com as artes cênicas e com o trabalho de artistas que buscam a desconstrução da voz (como a americana Meredith Monk, objeto de estudo de seu doutorado).

No seu Solo Para Várias Vozes, Conrado, munido de uma loop station (pedal eletrônico que permite gravar sons e repeti-los instantaneamente), investiga ruídos, canto difônico, sons contínuos e sons escatológicos. Ele partiu da questão: o que pode a voz quando não fala nem canta?

“A voz é corpo, todo mundo vai dizer isso. Se você for olhar na física, o som é vibração. Uma pessoa surda é capaz de se relacionar com o som sentindo a vibração em diferentes partes do corpo. Você sente a vibração no corpo inteiro, o ouvido traduz para o som; você produz o som e sente o reflexo no corpo inteiro. O que eu faço é abraçar a ideia de canto que enfim explore isso tudo em vez de ficar lá paradinho, ignorar que tenho corpo”, diz Conrado.

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