Lourenço da Fonseca Barbosa tinha 44 anos quando comprou o terreno de 420 m² na rua Barão de Itamaracá, no bairro do Espinheiro, e, junto à sua esposa Zezita, construiu a casa do número 369. Quintal, muitas janelas, quatro quartos e dois banheiros: um lar comum para o Recife de 1948 é, hoje, sinônimo de privilégio e oásis em meio aos tantos prédios que rodeiam a casa. Foi nela que o pernambucano, carinhosamente conhecido até hoje de Capiba, morou até sua morte, em 1997, e compôs muitos de seus frevos mais conhecidos.
Após ter se tornado viúva, Zezita ainda permaneceu na casa mas, pouco tempo depois, decidiu voltar a Surubim. De lá para cá diversas empresas sublocaram o imóvel mas, desde o início de agosto, a casa laranja erguida há 69 anos está desocupada . Pela primeira vez, Zezita optou pela alternativa de colocar também à venda, além da opção de aluguel. O âncora da Rádio Jornal, Geraldo Freire, descobriu o recente abandono da casa antes de ontem, durante um passeio. Ele usou as redes sociais para mostrar seu descontentamento em relação à ausência de ação do poder público.
"A casa está à venda e quem comprar, derruba, faz o que quiser, e a memória de Capiba vai embora. O legislativo não se preocupa, o Executivo não se preocupa, então que a gente se preocupe com isso", desbafou o comunicador. O valor atual da casa é de R$ 2 milhões para quem tiver interesse em comprar e R$ 8 mil por mês para alugar. Nos últimos três anos uma empresa que presta serviço de consultoria estava ocupando o local e cumprindo o pedido de Zezita: manter os paineis de fotos em seus devidos lugares.
A casa
No total, são quatro: um logo na entrada da garagem, que mostra um Capiba alegre em peno Carnaval; outro na recepção, que antigamente correspondia à sala de jantar da casa, com notas musicais e fotos do compositor. O terceiro painel funciona como um papel de parede da que era a sala de estar e representa em uma foto preto e branca um dos objetos mais queridos de Capiba, seu piano. Ao passear pela casa, é fácil imaginá-lo sentado, perto da janela que dá para a rua, compondo e tocando. Sortudos devem ter sido os transeuntes da Barão de Itamará entre as décadas de 1950 e 1990!
O último painel se encontra em um dos quartos, no primeiro andar, e cobre uma porta. Outro pedido da viúva de um dos maiores nomes do frevo é que a estrutura da casa não seja alterada. O azulejo azul que cobre as paredes do banheiro é original da época da construção, assim como todo o piso da casa e a madeira da escada. Desde a divulgação do vídeo de Geraldo Freire, o corretor do imóvel, Antônio Carlos, diz ter recebido muitas ligações. Uma delas envolvia uma proposta de transformar o espaço em um café e espaço cultural, cujo som ambiente seria de frevos do antigo dono.
O único empecilho? A pessoa gostaria de construir, no fundo do grande quintal, quartos para abrir um albergue, o que acarretaria uma alteração estrutural no local. A expectativa de Dona Zezita é que a Prefeitura ou o Governo do Estado se encarreguem do processo de tombamento da casa. Entretanto, ela não teria ainda entrado em contato com os órgãos responsáveis para realizar o pedido.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Cultura da Prefeitura do Recife afirmou que não estava sabendo da venda do imóvel. A Fundarpe está apurando o caso, mas ressaltou que qualquer integrante da sociedade civil pode solicitar o tombamento se achar que tem importância histórica, não há necessidade de ser alguém da família.