COBERTURA

Em novo local, Coquetel Molotov 2017 foi sucesso do início ao fim

Nem a chuva atrapalhou os bons shows e a animação do público

LUANA NOVA e NATHÁLIA PEREIRA
Cadastrado por
LUANA NOVA e NATHÁLIA PEREIRA
Publicado em 22/10/2017 às 15:20
Foto: Beto Figueirôa/Coquetel Molotov/Divulgação
Nem a chuva atrapalhou os bons shows e a animação do público - FOTO: Foto: Beto Figueirôa/Coquetel Molotov/Divulgação
Leitura:

Do rock experimental psicodélico ao brega, a 14ª edição do festival No Ar Coquetel Molotov, uniu todas as tribos no Caxangá Golf & Country Club no último sábado (21). Com mais de 14 horas de duração, o evento, já consagrado na cena alternativa, apresentou proposta mais pop e se firmou como um dos maiores do País. Conseguiu suprir bem as lacunas de organização apontadas por muitos dos frequentadores na edição anterior, quando filas tomaram a Coudelaria Souza Leão, desde as formadas para comprar bebida e comida até a gigantesca para espera das vans que levariam até a saída do espaço.

A lição foi aprendida e a melhor estrutura era nítida desde a entrada, sem engarrafamentos no trânsito ou tumultos, impressão reforçada pelo público. As irmãs Thisbe Martins, assistente social, 23, e Ingrid Abage, jornalista, 22, estiveram pela primeira vez no evento e se disseram satisfeitas com o que viram, sugerirando melhoras pontuais.

"Gostei da pontualidade dos shows, apesar da falta de cobertura para a chuva. Sem filas, sem dificuldades para acessar o espaço", contou Ingrid. "Cheguei já à noite e gostei de tudo o que vi. O único ponto negativo foi que precisei pedir para que um dos seguranças passasse o detector de metais em mim. A revista poderia ser mais cuidadosa", pontou Thisbe, ansiosa pelo show da MC paulistana Linn da Quebrada.

Como prometido pela organização, a área de foodpark foi estendida e conseguiu atender a quem optou por comprar refeições e lanches no local. Quem preferiu levar a própria comida pode entrar com frutas, biscoitos e garrafas de água com até 1L. Na compra das bebidas, ponto positivo para a iniciativa de distribuir vendedores das fichas de pedido em toda a área, inclusive com a opção de pagamento em cartão de crédito, o que evitou aglomeração no bar.

OS SHOWS

Entre os pontos altos da noite estiveram os shows da rapper Linn da Quebrada (SP), da dupla No Porn (RJ) e dos grupos internacionais Diiv (EUA) e Hinds (ESP), todos inéditos no Recife. Esta, inclusive, foi a primeira vez do Diiv na terra brasilis, grupo de Nova York que incorpora elementos de dream pop, shoegaze e kraut rock às suas músicas.

As apresentações começaram ainda à tarde. Por volta das 16h30, a instrumental Kalouv (PE) fez o show oficial de lançamento de Elã, terceiro registro da carreira iniciada em 2010. Foram eles, com a companhia de Roberto Kramer (RØKR), os primeiros a concentrar em frente ao palco Sonic o público ainda tímido que chegava. Com prioridade para as ótimas faixas novas, fecharam a apresentação de 40 minutos com a participação do guitarrista Benke Ferraz, da Boogarins (GO). A pianista Sofia Freire, presente nas músicas Elã e Pedra Bruta, também faria participação, mas acabou ficando doente.

Minutos após o show da Kalouv, a pernambucana Lady Laay encheu o espaço do palco Aeso para cantar seu rap cheio de recados diretos contra o machismo e a misoginia dentro e fora do movimento hip hop. Acompanhada pela também rapper Mari Periférica (Cena Periférica), pela cantora e compositora Darc Cintra e com DJ Novato nas pick ups, ela entoou faixas como Bela, Recatada e do Lar e Fora Temer, além de destacar a importância de desconstruir a rivalidade entre mulheres, inclusive na área artística. "Eu também estou em constante desconstrução", afirmou ela .

A rapper pernambucana Lady Laay se apresenta no Palco Aeso do #coquetelmolotov2017

Uma publicação compartilhada por Jornal do Commercio PE (@jc_pe) em

Pontualmente às 18h, Arnaldo Baptista (SP) abriu a line up do palco Velvet, numa apresentação voz e piano. Tímido, não conversou muito com o público e emendou as músicas escaladas no show intitulado Sarau o Benedito?. A chuva, que irrompeu em alguns instantes, dispersou parte das pessoas justo quando o Mutante cantou versos da clássica Ando Meio Desligado. Os fãs mais concentrados, no entanto, aplaudiram com força quando ele anunciou o fim da participação: "desculpem qualquer coisa".

Liderados pelo vocalista Zachary Cole Smith, os nova-iorquinos da Diiv subiram ao palco Velvet, o principal do Molotov, por volta das 20h30. Eles entregaram um show imersivo e extasiante ao público que acompanhava atento às diversas camadas de guitarras e ricas melodias que marcam as músicas do segundo disco de estúdio da banda: Is The Is Are, lançado no ano passado com os singles Dopamine, Under the Sun e Blue Boredom (Sky’s Song).

Em meio a uma cena roqueira ainda machista, em que as bandas mainstream formadas inteiramente por homens costumam ocupar o headline dos festivais, o quarteto feminino de indie rock Hinds encabeçou o line-up do No Ar, figurando como um dos dois grupos internacionais a compor a programação. Misturando sons influenciados por bandas como The Velvet Underground, The Strokes e The Vaccines, as chicas de Madrid trouxeram para a capital pernambucana o repertório de seu primeiro álbum: Leave Me Alone (2016), trabalho repleto de mensagens sobre liberdade e empoderamento que foi apresentado pela primeira vez na América Latina, na última sexta-feira (20), na cidade de São Paulo.

Bastante à vontade, o grupo espanhol subiu ao palco Sonic por volta das 20h. A abertura do show ficou por conta da leve e pegajosa canção Garden. No miolo, as garotas apresentaram música nova, dançaram em compasso com a batida, beberam cerveja e falaram muito portunhol misturado com inglês. A vocalista e guitarrista Ana Perrote, inclusive, chegou a soltar um: “Ah, Muleke!”, dizendo ter aprendido a gíria durante a sua estadia no País. Deixando uma essência de rock de garagem no ar, o encerramento da apresentação se deu com o single Bamboo, lançado como demo em 2014. E a plateia pediu bis.

Ainda sobre quebrar padrões, talvez o show mais esperado desta edição tenha sido o de Linn da Quebrada, um dos nomes mais ativos na cena do funk atual. Mulher trans, ela apresentou seu primeiro álbum de estúdio, Pajubá (2017), que discute temas ligados à sexualidade, preconceito, racismo e empoderamento da comunidade LGBT.

Já eram quase 23h quando Linn entrou no palco Velvet, emocionada, entoando os versos reflexivos da música Submissa do 7º Dia, através de um megafone. Seguindo as demais faixas do álbum, cujas letras são mais sujas, o momento “lacração” não tardou a aparecer. Linn pediu o tradicional “Fora Temer” e logo colocou geral para “bater cabelo” – e ainda premiou com um CD a pessoa que melhor o fez –, enquanto cantava Coytada.

A rapper/funkeira ainda provou o gosto do brega recifense ao dividir o palco com Nega do Babado, dona do hit Milk Shake, sucesso nos anos 90. Envolvendo o público do início ao fim, Linn se despediu ao som de Bixa Preta, ovacionada. Os fãs entraram em catarse. "Sem palavras, vim pra ver a Linn e foi tudo maravilhoso", contou a estudante Cariny Santos, 23 anos.

Sai Linn, entra Rincon Sapiência, revelação mais recente do rap paulistano. Acompanhado por percussão, baixo, mesa eletrônica e DJ, segurou um show cheio de energia, cantando as presentes na estreia Galanga Livre. Lia de Itamaracá, ovacionada mais cedo durante apresentação no Som na Rural, foi chamada ao palco para cantar sua ciranda. Ela foi um dos artistas sampleados por Rincon no álbum.

Linn da Quebrada canta o hit "Milk Shake" com a cantora pernambucana de brega Nega do Babado. #coquetelmolotov2017

Uma publicação compartilhada por Jornal do Commercio PE (@jc_pe) em

Encontro emocionante de @rinconsapiencia e @liadeitamaraca ???????????????????????? #NoAr2017

Uma publicação compartilhada por No Ar Coquetel Molotov (@noarcm) em

Também versando sobre sexualidade, o duo carioca de eletrônica No Porn entrou no palco Sonic por volta das 1h30, com cerca de uma hora de atraso, entregando um show com atmosfera dark e misteriosa, como era esperado. Pela primeira vez em Pernambuco, a dupla, formada pela artista plástica Liana Padilha – a voz por trás das batidas sintéticas – junto com o DJ Luca Lauri, apresentou o álbum Boca (2016), com destaque para as batidas envolventes das músicas Maiô da Mulher Maravilha, Fumaça, Tanto e Cavalo. Faixas do disco NoPorn (2006), que exploram o estranho e o experimental, também pautaram o repertório, encerrado pelo hit fashionista Baile de Peruas.

Pela primeira vez em Pernambuco, No Porn (RJ) é a investida eletrônica do #coquetelmolotov2017

Uma publicação compartilhada por Jornal do Commercio PE (@jc_pe) em

A festa só encerrou depois das 3h, com o swing da baiana Attooxxa, que botou todo mundo pra dançar no palco Velvet, e a discotecagem dos DJs da festa Mamba Negra (SP), no Sonic.

Sente o clima da galera no show de Attooxxa (BA) no #coquetelmolotov2017

Uma publicação compartilhada por Jornal do Commercio PE (@jc_pe) em

FEIRA NO AR

Nem só de música vive o Festival Coquetel Molotov. Moda, design, tatuagem e até um espaço com foco em questões de sustentabilidade estiveram no evento, onde as marcas também se comunicam e compartilham os valores do festival: criatividade, inovação e sustentabilidade.

Com curadoria realizada pelo diretor de produção Nestor Mádenes, 60 marcas expuseram suas peças em 40 stands da Feira No Ar, uma iniciativa dedicada à produção independente e ao empreendedorismo. Entre os expositores, estava o casal Caio Remígio, 28, e Gabriela Melo, 23. Ela, estudante de direito, largou o estágio há cerca de três meses para se dedicar à sua loja de roupas, Avoá. Nesse meio-tempo, os produtos que só eram vendidos nas redes sociais, já contam com espaço físico. Ele, barbeiro e cabeleireiro há um ano, fez da própria casa seu espaço de trabalho, chamado CDC.

A ideia que Gabriela quer passar com sua marca é de que cores tidas como femininas, como rosa ou roxo, podem ser usadas por todo mundo. “Minhas roupas são bem coloridas e não tem distinção de gênero. O que importa é que as pessoas se vistam com o que se sentem bem”, afirma, ressaltando que o retorno financeiro foi bom no evento. Para Caio, esse retorno também foi positivo, sobretudo na divulgação do seu serviço. “Saí entregando o meu cartão de visitas pelo evento, vai dar uma boa visibilidade”.

A Feira No Ar também teve papel importante para o produtor de moda e assistente de figurino Armando Batista, 22, que teve a chance de trabalhar como voluntário, pela primeira vez, nesta edição. “Tô dando uma assistência aqui na feira e só posso dizer que está sendo muito bom participar dessa forma de um festival que acompanho há tanto tempo e que acredito na proposta”, afirma, enfatizando que frequenta o festival desde os 15 anos.

Últimas notícias