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Anastácia tem Zeca Baleiro, Alcione e Fagner em disco novo

Rainha do Forró lança o CD Daquele jeito hoje no Recife

JC Online
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Publicado em 19/12/2017 às 9:44
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Rainha do Forró lança o CD Daquele jeito hoje no Recife - FOTO: foto: divulgação
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“O importante pra mim é a semeadura, plantar a sementinha pra depois colher os frutos”. A frase da cantora e compositora Anastácia é sobre seu novo disco Daquele Jeito, que lança hoje, às 17h na Passa Disco, no Espinheiro. Às 20h, estará no restaurante Mamulengo, na Praça do Arsenal, no Bairro do Recife.

 “Se a gente achar que a situação está ruim, que não tem rádio pra tocar, você para. Sempre persisti. Não tem gravadora, banco meu disco. Não tem rádio? Toco na rádio patrulha, qualquer rádio, não compram? Dou CD, por isso que sobrevivi a essa catástrofe. Minha arrecadação aumentou, é sinal de que em algum lugar alguém está ouvindo minha música”.

 O aumento na arrecadação, ela atribui aos serviços de música para streaming. Daquele jeito tem 16 faixas autorais, incluindo nove parcerias com Dominguinhos: “Não é uma questão de ser egoísta, é o material que tenho pra sobreviver. Se for gravar músicas de outras pessoas, o feijão começa a diminuir lá em casa”. A produção do álbum foi independente, o empresário da cantora, Hélio Rodrigues (que já trabalhou com Gilberto Gil, Belchior), levou o projeto à gravadora Atração e o diretor Wilson Souto comprou a ideia.

Um disco de muitas participações, e novas parcerias. Doce Cachaça foi feita com Zeca Baleiro, que canta a música com Anastácia. Fagner está em Sertão te Espera, Fafá de Belém em O Canto de Acauã, e o Trio Xamego em Quero um Chamego (as três, parcerias com Dominguinhos). Mais convidados: Diego Figueiredo, Germano Junior (que assina a produção e direção musical do álbum), Dantas do Forró e Niltinho Ribeiro. Eu Só Quero um Xodó volta a ser gravada por ela (com participação de Alcione), que já a cantou em disco tanto com Dominguinhos quanto com Gilberto Gil, que estourou a música em 1973. Ela gosta de contar a maneira casual como surgiu a composição:

“A gente morava num apartamentinho no Centro de São Paulo. Eu fritando peixe e Dominguinhos sentado no sofá tocando. Eu de ouvido na música, num certo momento ele tocou uma em ritmo de marcha, meu anjo da guarda avisou, é esta, vai. Fiz duas quadrinhas. Eu solfejei, ele tocou e deu certinho. Ele fez o arranjo e aí a música encorpou com aquela musicalidade maravilhosa dele”. Marinês gravou em ritmo de marchinha junina, mas não emplacou. Pouco tempo depois, Dominguinhos viajou para o Midem, a feira de música francesa. No camarim, com vários músicos presentes, fazia muito frio, para aquecer, pegou a sanfona e tocou Eu Só Quero um Xodó, em ritmo de xote. Chamou atenção de quem estava no local, sobretudo de Gilberto Gil, que empunhou o violão e fez dupla com ele. Gil prometeu gravar a música quando voltasse ao Brasil. Gravou e foi um dos maiores sucessos de sua carreira.

“Essa música foi feita para o sertão quando Gil gravou ganhou outra conotação e tomou conta do Brasil. Paguei meus carnês atrasados. Eu quando encontro com Gil digo a ele, você me deu uma casa. Fiz uma casa com Só Quero um Xodó. Se fosse uma pessoa amostrada teria me exibido com um carro. Mas preferi fazer logo meu quixó, porque sucesso é feito disenteria, dá e passa. Se não fizer mais sucesso, pelo menos eu tenho uma casa pra morar”, diz Anastácia.

TENHO SEDE

Dois anos depois, o baiano escutou mais uma parceria de Anastácia e Dominguinhos, Tenho Sede, gostou, gravou e novamente fez sucesso, não comparável ao de Eu só Quero um Xodó, mas o suficiente para acrescentar mais um clássico à MPB. Tenho Sede, no entanto, quase não acontece: “Eu fiz a letra, Dominguinhos estava viajando. Quando eu mostrei, toda empolgada, ele fez assim, franziu o nariz, eu conhecia a figura e perguntei se ele não tinha gostado. Ele disse que parecia música de maracatu. Onde tu viu maracatu aqui?, perguntei. Amassei a letra e joguei na lixeirinha. Depois ele apanhou o papel, começou a esticar, desamassou foi tocando, e mudando o semblante. Depois disse venha cá, e elogiou: esta letra é bonita. Aleluia, eu disse”.

RADIO JORNAL

Em meados dos anos 50, a adolescente Lucinete Ferreira, moradora da Macaxeira, Zona Norte do Recife, dava os primeiros passos como cantora. Era crooner de conjuntos que faziam baile pelos subúrbios recifenses. No meio das páginas dos jornais da época, um anúncio discreto anuncia: “Baile na Roça, com Lucinete Ferreira e Sonia Maria, no Delfim Verde, de 23 a 29 de junho, direção de Geraldo Lemos”. Lemos dirigia um dos conjuntos de baile mais requisitados do Recife. Foi numa festa assim, no Vasco da Gama, que Lucinete foi descoberta pelo ator Clênio Wanderley, que sugeriu que ela procurasse Amarílio Nicéas, diretor da Rádio Jornal. Lucinete começou no programa de Paulo Duarte.

Entre 1954 e 1960, ele foi contratada da rádio. Em 1960, veio a TV Jornal do Commercio, e o diretor lhe disse que ela teria que cantar na televisão: “Eu não esperei para me adaptar à modificação não, endoidei e fui embora com a família para São Paulo”. Está na capital paulista há 57 anos. “Fui pra São Paulo com uma agenda marcada por Deus. Não pensava em ser cantora em São Paulo, imaginava que iria trabalhar num boteco, alguma coisa assim, trabalhei na Vasp, mas cheguei em junho e no final do ano assinava contrato com uma gravadora. Sou remanescente da velha guarda do forró. Luiz Gonzaga, Sivuca, Marinês, Dominguinhos, Clemilda, Abdias, está todo mundo lá em cima. Como eu não gosto de altura, vou ficando aqui por baixo. Quero ficar por muito tempo e bater muitas palmas para a glorificação do forró”.

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